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Gestação de risco

Morte infantil dobra entre índios

Taxa de 12 óbitos por mil nascidos vivos no Paraná sobe para 25 na população indígena, como na reserva guarani de Chopinzinho

Isaura teve dois dos cinco filhos em casa, ganhou experiência e se tornou parteira na comunidade indígena guarani de Chopinzinho | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Isaura teve dois dos cinco filhos em casa, ganhou experiência e se tornou parteira na comunidade indígena guarani de Chopinzinho (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

Gravidez entre adolescentes, mães com poucos anos de estudo, baixa procura por atendimento mé­­dico e partos feitos em casa são algumas das situações de risco que podem ser observadas na comunidade indígena guarani em Cho­pin­­zinho, no Sudoeste do Paraná. A realidade, que não é exclusiva des­­ta localidade, mostra alguns dos de­­safios para a diminuição da mor­­talidade infantil no estado. Para se ter uma ideia, a taxa parana­­ense de 12 mortes de crianças de até um ano por mil nascidos vivos sobe para 25 entre os negros e indígenas.

Pesquisando a mortalidade infantil de 2006 a 2010, percebe-se que os indicadores são influenciados por condições socioeconômicas e de raça. O índice de mortalidade infantil sobe para 22 mortes entre gestantes com até três anos de estudo e com menos de 21 anos de idade. E a taxa média paranaense dobra quando se analisa a realidade dos indígenas.

Grávida do sexto filho, a artesã guarani Silmira Alves, de 25 anos, por exemplo, disse ter vergonha de ir ao médico. Antes ela recebia suporte na reserva, mas, devido à interrupção temporária do convênio, em novembro foi em busca de atendimento no posto de saúde de Chopinzinho. Não conseguiu se comunicar e voltou sem marcar a consulta. Dos cinco primeiros filhos, teve dois em casa.

Na reserva é comum encontrar mulheres que já fizeram partos. "A gente ouve as pessoas mais adultas fa­­lar como é. Daí a gente aprende", diz a artesã guarani Isaura Fagun­des, de 28 anos. Ela fez o primeiro parto quando a vizinha estava em casa com contrações. Chovia e não havia condições de ir ao hospital. Isaura acabou fazendo o parto. Grávida do sexto filho, a artesã re­­conhece, no entanto, a importância do acompanhamento médico e prefere ter o bebê no hospital.

Riscos

Desnutrição, baixa higiene e rejeição a crianças com necessidades es­­peciais são outras situações de risco entre gestantes guaranis. Classificar esse potencial de risco em todo o Paraná está entre os objetivos das políticas públicas estaduais, aponta a superintendente da atenção primária da Se­­cretaria Estadual de Saúde, Márcia Huçulak. "Se a gente focar em grupos de risco, podemos mudar radicalmente esse indicador no Para­ná", diz. Previsto para ser lançado em abril de 2012, o programa Mãe Paranaense irá trabalhar a vigilância do óbito materno e infantil, acompanhar as futuras mães e trabalhar ações junto aos municípios.

Levantamento do Observatório dos Indicadores de Sustenta­bi­li­­dade (Orbis) de 2011 apontou que 60 municípios do estado dificilmente atingirão a meta de redução de dois terços da mortalidade de cri­­anças até cinco anos de idade até 2015. A meta faz parte dos Objeti­vos de Desenvolvimento do Milê­nio, acordo intermediado pela Or­­ga­­nização das Nações Unidas (ONU).

Os responsáveis pelos indicadores paranaenses fazem a ressalva de que o número é calculado a cada mil nascidos vivos e, dessa forma, uma morte pode causar um grande efeito na taxa como um todo nos municípios com menos habitantes. Nesse sentido, o levantamento serve mais como um alerta de que é preciso avançar na área em determinados municípios. "O estado atingiu 96% dessa meta. Temos mais quatro anos para fazer os outros 4%", afirma o coordenador do Orbis, Alby Rocha.

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