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Cantores  cegos angolanos: apoio e profissionalização no Brasil. | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
Cantores cegos angolanos: apoio e profissionalização no Brasil.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Conflito durou de 1975 a 2002

A guerra civil angolana começou em 1975, quando o país se tornou independente de Portugal. O conflito só terminou em 2002, com a morte do líder do grupo rival ao governo. Os jovens que vieram para o Brasil por meio do convênio com a Fesa foram vítimas da guerra e se tornaram portadores de deficiência devido a ataques de minas terrestres, granadas e falta de médicos. A Fesa foi criada e é mantida pelo atual presidente do país, José Eduardo dos Santos, que está no poder há quase duas décadas. A maior parte dos garotos perdeu o contato com a família. A única visita que fizeram ao país natal foi em 2005, quando o coral cantou para o presidente de Angola. O grupo ganhou o primeiro lugar em um festival de música em São Paulo, com a música Esperança, composta por Wilson Madeira. (PC)

O grupo de jovens cegos que voltariam a Angola ontem por determinação do governo angolano conseguiu liminar para permanecer no Brasil. Eles, que perderam a visão na guerra civil, moram no Instituto Paranaense de Cegos (IPC) em Curitiba desde 2001 e ficaram conhecidos nacionalmente pelo coral que formaram. A Fundação Eduardo dos Santos (Fesa), que concede bolsas de estudos ao grupo, determinou que os quatro adolescentes e sete adultos retornassem ao país nesta semana.

Por meio de ação civil pública, o Ministério Público estadual garantiu a permanência dos 11 cantores por considerar que o pedido de retorno não estava fundamentado, já que eles não terminaram os estudos nem têm contato com a família. Os jovens vieram para Curitiba por convênio com o governo angolano. O objetivo do intercâmbio é que eles estudassem e se profissionalizassem, já que em Angola o amparo aos deficientes visuais é mínimo. Não existe o ensino de braille e a maior parte dos meninos era analfabeta.

Os jovens não querem retornar neste momento em função da falta de condições para os deficientes em Angola. A intenção deles é ficar no Brasil, ingressar na universidade e só então retornar. Eles afirmam que só assim poderão ajudar a reconstruir o país. "Sou o primogênito. Represento uma esperança de vida melhor para a minha família. Não quero ser um peso, quero ajudar meu país", diz Wilson Madeira, de 22 anos.

Wilson chegou em Curitiba com 15 anos sem saber braille. Já terminou o ensino médio e pretende ingressar na faculdade de Direito. O estudante perdeu a visão aos 4 anos, vítima de granada. Um integrante de uma milícia contrária ao governo resolveu se vingar do pai de Wilson, que é militar, e ofereceu a bomba para o jovem e seus primos, que morreram. Maurício Tchope, de 19 anos, perdeu a visão porque teve sarampo. Faltavam condições médicas ao país que estava no meio da guerra civil. Ele perdeu o contato com a família há sete anos. No futuro o jovem pensa em cursar Administração. "O Brasil é minha segunda casa, foi o país que me acolheu", diz.

O presidente do IPC, Manuel Cardoso Passos, afirma que a maior preocupação é a readaptação do grupo em Angola, que carece de estrutura para portadores de deficiência. "Eles vieram estudar e se profissionalizar", lembra a promotora de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, Daniele Cavali Tuoto. "Precisam ter garantias de um futuro."

Madeira diz que o grupo pretende se profissionalizar para criar um instituto de cegos para o país. A assessoria da Fesa afirmou que pretende solucionar o impasse, mas o responsável pelo caso não foi encontrado.

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