Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Sistema prisional

Estudo destaca eficiência de penitenciárias terceirizadas

Modelo administrado pela iniciativa privada foi abandonado no Paraná

Tabucchi escreveu 25 livros, um deles, Réquiem, em português | Divulgação
Tabucchi escreveu 25 livros, um deles, Réquiem, em português (Foto: Divulgação)

As penitenciárias terceirizadas desativadas há cerca de um ano no estado tinham custos menores em relação às públicas, eram mais seguras contra fugas e mortes, e ainda mais eficientes. As constatações são dos pesquisadores Sérgio Lazzari (Ibmec São Paulo) e Sandro Cabral (Universidade Federal da Bahia). Eles realizaram um estudo que levou em conta dados de 13 penitenciárias do Paraná, seis públicas e sete terceirizadas, no período de 2001 a 2006. Os dados usados na avaliação são do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen/PR).

O governo estadual reestatizou as unidades terceirizadas entre os meses de maio e agosto do ano passado, após denúncias de irregularidades, entre elas de maus-tratos a presos e deficiências na alimentação, além dos baixos salários pagos aos agentes. Na época, havia informações de que o preso das unidades tradicionais custava metade do que estava sendo cobrado nas penitenciárias privadas.

Mas o estudo mostra um panorama diferente. Segundo a pesquisa, o custo médio mensal por detento nas penitenciárias públicas foi 10% maior do que nas privadas no ano de 2004 – R$ 1.266 nas terceirizadas, contra R$ 1.387 nas públicas. Além disso, nas penitenciárias terceirizadas as chances de fugas eram 99% menores, e as de morte nas unidades do interior eram 41% menores em relação aos presídios tradicionais da capital e região. Fora isso, o detento das unidades públicas recebeu menos assistência médica.

Segundo o pesquisador Sandro Cabral, professor do Núcleo de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia, o trabalho serve para acabar com os "achismos". "Havia defensores e críticos das terceirizações. O objetivo foi juntar dados e mostrar quem é mais eficiente", afirmou Cabral. Ele comparou na sua tese de doutorado as prisões tradicionais e as privadas da França, Estados Unidos e Brasil (modelos paranaense e baiano).

Já o sociólogo Fernando Salla, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), que não vê com bons olhos a terceirização, alertou que os dados podem requerer uma leitura mais crítica. "Tudo depende da precisão do cálculo e da natureza da unidade. A combinação de coisas pode apresentar um custo mais baixo, mas é preciso ponderar a natureza das unidades prisionais. Mesmo nos Estados Unidos (referência em terceirização) continua o debate", afirmou Salla.

José Mário Valério, diretor-executivo do Instituto Nacional de Administração Prisional (Inap), afirmou que o cliente tem o direito de não renovar seus contratos. "É difícil falar dos números sem conhecer o estudo. Mas se fosse uma decisão econômico-financeira, a retomada das unidades possivelmente não teria ocorrido", disse Valério.

Nos tempos de terceirizações no estado, o Inap tocou as unidades de Curitiba, Londrina, Cascavel e Foz, sendo que o grupo Metropolitana de serviços, do qual o Inap faz parte, dividiu o controle da Penitenciária Industrial de Guarapuava com a empresa Humânitas.

A era das terceirizações começou no governo Jaime Lerner, com a abertura da Penitenciária de Guarapuava, no ano de 1999. Ela foi inspirada nas unidades existentes na França. O sistema foi mantido nos três primeiros anos do governo de Roberto Requião.

Segundo o coronel Honório Bortolini, coordenador do Depen/PR, um dos fatores dos baixos custos apresentados pelas terceirizadas no ano de 2004 foi o salário dos agentes. "Hoje o custo do preso no sistema gira em torno de R$ 1.300, somando tudo. Ele subiu um pouco em razão do aumento que o governador deu para os agentes penitenciários", justificou. A Secretaria Estadual da Justiça não quis se pronunciar sobre o estudo.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.