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Coronel Jorge Martins é suspeito de ter assassinado nove pessoas e baleado outras cinco | José Gomercindo/SECS
Coronel Jorge Martins é suspeito de ter assassinado nove pessoas e baleado outras cinco| Foto: José Gomercindo/SECS

Outro lado

Advogado de Martins critica inquérito e diz não haver provas

O advogado Eurolino Sechinel dos Reis, que representa o coronel Jorge Martins, atacou duramente o inquérito policial que embasou a decisão da Justiça que determinou a prisão preventiva do acusado. Classificando a peça de "lixo", o defensor avaliou que não existe provas consistentes contra o ex-comandante dos Bombeiros. "[O inquérito] é um dos maiores absurdos que eu já vi em minha carreira e que denigre um homem que, durante 37 anos, lutou para salvar vidas", disse, em entrevista coletiva na noite de ontem.

De acordo com o advogado, os atentados cuja autoria é atribuída ao coronel ocorreram em datas em que o acusado não se encontrava em Curitiba. Sechinel dos Reis também contestou o fato de os nomes das testemunhas terem sido mantidos sob sigilo no inquérito. "O nome do coronel foi para o lixo, enquanto a identificação dos ‘vagabundos’ nem constam [no inquérito]", afirmou.

Apesar de afirmar que leu o conteúdo do inquérito apenas superficialmente, Sechinel dos Reis afirmou que as provas são fracas e que, diante da "falta de probativo", a defesa vai impetrar, ainda nesta semana, um pedido de habeas corpus, com o objetivo de garantir que o coronel permaneça em liberdade.

Revolta pode ter levado a homicídios

Como um bombeiro treinado a vida inteira para salvar, socorrer e atender vítimas pode ser capaz de cometer uma série de crimes como os que foram atribuídos ao coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins? Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a tese mais provável para compreender o impulso de alguém que decide fazer justiça com as próprias mãos é um desvio de personalidade pós-traumática.

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A Justiça determinou a prisão temporária do ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, 56 anos. Ele é acusado de ter matado a tiros pelo menos nove pessoas em Curitiba nos últimos cinco meses. Segundo a polícia, as vítimas eram todas usuárias de drogas ou estavam em pontos de consumo de entorpecentes. O advogado de defesa Eurolino Se­­chinel dos Reis diz que Martins deveria se entregar a qualquer momento, mas até o fechamento desta edição ainda não havia se apresentado à polícia e era considerado foragido.

Os crimes atribuídos ao coronel foram cometidos a partir de agosto de 2010, semanas depois que dois jovens acusados de terem matado o filho de Martins em um assalto em outubro de 2009 foram postos em liberdade. Todos os homicídios dos quais ele é acusado foram cometidos no bairro Boqueirão, durante a ma­­drugada, na região onde o filho dele foi morto. Os alvos eram pequenos grupos de pessoas que estavam usando drogas no instante dos ataques.

Os relatos feitos à polícia apontam que um carro de cor escura – um Honda Civic ou um Citroën – era usado nas execuções. Ao longo dos cinco meses, foram pelo menos cinco atentados, que fizeram 14 vítimas – nove delas morreram. Em apenas um dos ataques não houve sobreviventes. Ao que tudo indica, o autor dos crimes agiria sozinho.

O inquérito policial é embasado em depoimentos de quatro pessoas, entre testemunhas e vítimas que resistiram aos ferimentos. Todas teriam reconhecido o coronel Martins em fotografias. As investigações também estão respaldadas por provas periciais – como exames balísticos –, que comprovariam a autoria dos assassinatos em série.

O primeiro crime atribuído ao coronel teria ocorrido no dia 7 de agosto, quando três homens que estavam em terreno, conhecido por ser um ponto de consumo de drogas, foram atacados a tiros. Uma das vítimas morreu no local e outra, no hospital. Um homem de 30 anos foi baleado, mas escapou com vida.

Busca e apreensão

Na manhã de ontem, policiais cumpriram mandado de busca e apreensão na residência do coronel Mar­­tins. O objetivo era reunir provas que embasem ainda mais o inquérito policial e que comprovem o envolvimento do ex-comandante dos Bombeiros nos homicídios.

A Secretaria de Estado de Segu­­rança Pública (Sesp) não se manifestou sobre as investigações e não divulgou informações sobre o re­­sultado do cumprimento dos mandados. Por conta da determinação da Sesp, a Dele­­gacia de Ho­­micídios (DH), unidade policial responsável pelas investigações, também não pôde dar mais detalhes sobre as investigações. "Qual­­quer ação por parte do coronel Martins que esteja sendo investigada é considerada de caráter pessoal, de cidadão comum, sem relação nenhuma com a instituição que comandou", limitou-se a in­­formar a secretaria em nota oficial.

Espanto

Entre os colegas de farda do coronel Martins, o clima é de incredulidade. Para o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Luiz Henrique Pombo, que trabalhou com Martins, a notícia do envolvimento dele em nove assassinatos é motivo de surpresa para todos. "Não vejo o coronel portando uma arma e matando pessoas por aí", disse. Além de companheiros de trabalho, eles também mantinham um convívio pessoal. O coronel Pombo conta que os filhos de ambos brincaram juntos.

Durante oito anos, Pombo atuou ao lado do coronel Martins como sub-comandante, no litoral. Segundo ele, o ex-comandante sempre foi uma pessoa ponderada, calma e metódica. Lembra que, após a morte do filho, o então comandante ficou muito abalado, mas voltou ao trabalho.

Martins trabalhou no Corpo de Bombeiros por 37 anos. Co­­mandou o Primeiro Grupa­mento dos Bombeiros de Curitiba e o Corpo de Bombeiros do litoral até encerrar a carreira em 2009. Em seu currículo constam o reequipamento da corporação e a criação do Bombeiro Comunitário.

Colaborou Diego Ribeiro.

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