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Prefeito de Curitiba entre 1975 e 1979, Saul Raiz está internado na UTI em estado estável | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Prefeito de Curitiba entre 1975 e 1979, Saul Raiz está internado na UTI em estado estável| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Opinião

Sistema é inflexível e exige demais do paciente

Casos de pessoas em busca de socorro médico a quem é recusado atendimento não são novidade no Brasil. Todo dia alguém recebe um "não" em uma recepção de hospital, às vezes após horas de espera. O caso do ex-prefeito Saul Raiz chama a atenção por se tratar de uma figura pública querida na cidade e pela situação grave em que ele se encontrava: um homem de 83 anos, ferido a bala, teve que sair em busca de um segundo hospital que lhe desse socorro. É uma experiência assustadora, que poderia ter terminado mal.

A repercussão do caso do ex-prefeito tem um aspecto positivo: expõe as falhas do sistema brasileiro, cuja estrutura é fragmentada e burocrática. Ela é inflexível e exige demais do paciente, que precisa saber para quem pedir socorro – mesmo se estiver baleado e sozinho. É uma boa hora para discutir a frieza e ineficiência desse sistema.

Após ter sido atingido por três tiros no último fim de semana, o ex-prefeito de Curitiba, Saul Raiz, de 83 anos, deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, na manhã desta segunda-feira (18). O político deve ser transferido para outro hospital ainda nesta segunda-feira, mas a família optou por não revelar o nome da instituição onde ele continuará o tratamento, de acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Evangélico.

Saul Raiz foi baleado em uma tentativa de assalto ocorrida na tarde de sábado (16), no Centro de Curitiba. Ele havia acabado de entrar em sua caminhonete, na Rua Visconde de Nácar, quando ouviu uma ordem para parar. Ao invés de obedecer, ele resolveu acelerar, mas o assaltante disparou várias vezes, atingindo o ex-prefeito. Dois tiros o atingiram na escápula [osso que fica nas costas, na altura do ombro] e outro tiro acertou o braço dele.

Atendimento

Mesmo baleado, o ex-prefeito conseguiu dirigir até o Hospital São Vicente, na Rua Vicente Machado. O manobrista do estacionamento do hospital Gerson de Lima colocou Raiz em uma cadeira de rodas e o levou para a entrada do hospital. Em reportagem exibida pela Revista RPC TV, Lima conta que os atendentes, ao verem o ex-prefeito, falaram que não tinham como atender aquela situação. "Nem colocaram a mão nele. Nenhum médico olhou", conta Lima.

Diante disso, Raiz foi levado pelo próprio manobrista ao Hospital Evangélico, onde o político recebeu atendimento adequado. A prefeitura de Curitiba e o Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR) vão investigar os motivos pelos quais o Hospital São Vicente não recebeu o paciente baleado.

Em nota, a prefeitura informou que vai criar um grupo para verificar como estão funcionando os procedimentos de urgência e emergência do Hospital São Vicente, que é conveniado à Secretaria Municipal de Saúde para atendimentos pelo SUS.

O promotor do MP-PR Marco Antonio Teixeira afirmou que será aberta uma investigação para apurar a conduta do hospital. Mas que, de maneira geral, qualquer hospital é responsável por examinar o paciente que chega e encaminhá-lo a outro estabelecimento de forma segura, caso não tenha condições de atendimento.

Outro lado

Em nota, o Hospital São Vicente nega que tenha omitido socorro ao ex-prefeito Saul Raiz. A unidade afirma que o médico de plantão mandou Raiz seguir para outro hospital porque a entidade não tem pronto-socorro e o tempo de espera por ambulância poderia agravar seu estado de saúde. Raiz, segundo a nota, não teria sequer sido retirado do carro. O médico teria avaliado que o socorro precisava ser feito de maneira rápida. Foi então que o manobrista se prontificou a levar Raiz ao Hospital Evangélico, unidade de atendimento emergencial indicada pelo médico. O Hospital São Vicente relatou que não poderia fazer o atendimento por não ter equipe apta para cuidar de pacientes em condições como estava Raiz.

Afastado

Segundo informou o hospital, o médico plantonista - que não teve o nome revelado - foi afastado até que uma sindicância interna, instaurada para apurar o caso, seja concluída.

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