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Ao desembarcar no aeroporto internacional de Cumbica, em São Paulo, no início de outubro, o médico Samuel Yuzuru Baba, 61 anos, natural de Londrina, pode ter entrado para a história do Brasil como o último exilado político a voltar para casa. Preso e torturado em Brasília e São Paulo durante a ditadura militar, Baba, então estudante de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), saiu do país em 1970, rumo ao Chile. De lá ele seguiu para a Suíça, onde vive até hoje. Anistiado, retornou somente agora, 36 anos depois, mas diz que ainda não veio para ficar.

Livre para entrar no país desde 28 de setembro de 1979, com a Lei da Anistia, Baba viu os antigos companheiros de exílio voltando, enquanto ele, doente e hospitalizado, enfrentava seqüelas das torturas que sofreu. Problemas diplomáticos também retardaram sua volta. Sem ter como provar o divórcio com uma médica chilena, com quem foi casado enquanto viveu em Santiago, Baba teve dificuldades em regularizar seu estado civil. O passaporte só saiu em setembro deste ano.

"O tempo passou depressa demais", rememora Baba. Acusado de subversão e com mandado de prisão decretada, o londrinense deixou o país no dia 14 de novembro de 1970. Com carteira de identidade emprestada de um outro descendente de japonês, Baba foi para Foz do Iguaçu. "A saída foi difícil, tudo era controlado. Tive que raspar a barba para não ser reconhecido", conta. De Foz, ele tomou um ônibus para a Argentina e em seguida foi de trem para o Chile.

Em 1970, o país estava em plena efervescência política com a posse do socialista Salvador Allende. Pediatra formado, Baba teve seus estudos reconhecidos no Chile, chegando mesmo a atuar no Hospital Universitário San Borja, em Santiago. A queda do regime, em 1973, surpreendeu Baba no trabalho. "Me pegaram no hospital", relata o ex-militante. "Fui levado para uma delegacia. Me bateram. Depois fui conduzido para o Estádio Nacional", diz. Depois de uma semana, foi solto quando a Cruz Vermelha teve acesso ao estádio para tratar os feridos.

Com a intervenção da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), de organizações humanitárias e algumas igrejas, os presos que estavam no Chile foram enviados para o exílio. No dia 5 de novembro de 1973, cerca de 80 brasileiros foram para a Suíça.

Militância

Baba optou pela militância política aos 11 anos, na Juventude Democrática Cristã (JDC), no ano de 1956. Dois anos depois, durante uma manifestação contra o aumento do preço do transporte coletivo em Londrina, ele foi detido pela polícia e levado para o Cadeião da Rua Sergipe. "Bateram com arame. Difícil foi explicar para a mãe o sangue nas costas", comenta.

De 1967 a 1969, em São Paulo e Brasília, o londrinense foi preso cinco vezes, sendo torturado em todas elas. "A gente ficava pendurado e recebia os golpes. Noutras vezes colocavam pregos dentro da boca, punham eletrodos nos dedos e davam choque. Queriam nomes dos companheiros. Eu não falava e ainda era desbocado. Diziam: esse cara é perigoso, é japonês", recorda Baba.

Por conta do mandado de prisão, Baba não conseguiu se registrar a tempo no Conselho Regional de Medicina, o que o impede de exercer o trabalho no Brasil. Como a Suíça também não reconhece o diploma brasileiro, ele buscou outras formações. No exílio, estudou Sociologia e Antropologia, trabalhou nas mais variadas áreas, desde o setor de química de uma indústria de perfumaria até o departamento de doenças tropicais no Comitê da Cruz Vermelha Internacional. Atualmente, está na área de finanças de uma empresa em Genebra.

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