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| Foto: Divulgação/Directline

Uma empresa britânica quer transformar drones em postes de luz móveis. A ideia é criar uma alternativa em cidades e regiões onde há pouca iluminação pública. Por um aplicativo de celular, a pessoa pode convocar o drone, que vai voando para acompanhá-la no caminho do ponto de ônibus até em casa, por exemplo. Batizada “Fleetlight” (algo como “frotas de luz”, numa tradução literal), a iniciativa ainda está em fase de testes.

Ao toque de um botão, o usuário convoca o drone. O alerta vai para a central de comando, que designa o aparelho mais próximo para atender a chamada. Pelo celular, é possível monitorar o tempo de chegada do aparelho. Ao final da viagem, o drone volta para a base, para ser recarregado a tempo de acompanhar o próximo chamado.

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A tecnologia é da empresa de seguros Directline, que diz já ter montado uma frota inaugural com 20 drones. São 15 do modelo mais simples, com menos de dois quilos, 65 centímetros de base e velocidade máxima de 15 metros por segundo. Cada um equipado com um ponto de luz e capacidade de alcance de até 2,4 quilômetros. Já os cinco da frota “avançada” podem voar a até 200 quilômetros por hora e são equipados com três luzes.

Para o Fleetlight funcionar, é preciso que uma central de comando esteja instalada na área de operação dos drones. É um local para recarga dos equipamentos, e também onde os operadores gerenciam as viagens. A empresa ainda investiu em tecnologia para controlar frotas de drones e para localizar usuários de forma mais precisa (hoje o GPS dos celulares estima a posição em um raio de oito metros)

A luz é emitida por um holofote de tungstênio, que garante claridade até uma altura de sete metros, segundo o guia técnico disponibilizado pela empresa. A luz de LED têm força equivalente a 200 Watts (mas consome apenas 30 de energia), e dura até 25 minutos com vida própria (a recarga leva outros 25).

Drone ou poste?

A grande questão é: por que investir em drones e não em postes de luz? A ideia da Fleetlight não é substituir todo o sistema de iluminação pública, com um drone individual para cada pessoa. Mas usar os equipamentos em situações limite, como um bairro pouco iluminado, onde circulam poucas pessoas. No vídeo de divulgação do Fleetlight, a DirectLine cita a pequena cidade de Petworth, com suas ruas escuras e poucos mais de três mil habitantes.

O problema é que não dá para garantir que este tipo de iluminação móvel teria um impacto positivo ou negativo na redução de crimes, opina Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, organização que trabalha com o tema de cidades seguras. Por um lado, a ideia dos drones é tentadora, já que muita gente (em especial mulheres) se sente mais segura com novos pontos de iluminação. Mas há pesquisas na área que indicam que o investimento pode implicar até em um aumento na criminalidade.

Um argumento favorável à iluminação é que ela aumenta a capacidade de vigiar a ação criminosa, o que inibiria potenciais agressores, assaltantes e afins. Além disso, a luz também pode reforçar os laços sociais. E comunidades mais unidas tendem a ter um maior controle de seu espaço público, seja de dia ou de noite. “A boa notícia é que há boas evidências, tanto no Reino Unido quanto em outros países, de que a iluminação pública reduz o crime”, explica Muggah. Mas os estudos científicos indicam que esta redução ocorre tanto de dia quanto à noite. “O que sugere que a segunda teoria está correta, a iluminação cumpre um papel mais de reforçar a coesão comunitária e o controle social do que de dissuadir os criminosos”.

Por outro lado, outros estudos, realizados principalmente nos EUA, indicam que o efeito pode ser nulo. E que o crime pode até crescer. Isto porque a luz facilitaria a ação de criminosos, que podem enxergar melhor suas vítimas e calcular o nível de vulnerabilidade da pessoa. “Basicamente, vemos que a iluminação pública parece ter diferentes efeitos em diferentes comunidades”, resume o pesquisador.

Mas a lei deixa?

Ainda não está claro qual o plano de expansão do Fleetlight. Mas, embora a Directline tenha adquirido uma frota inicial de 20 aparelhos, o código da tecnologia está aberto na internet, o que significa que ele pode ser utilizado de graça por interessados em replicá-la. Apesar de a tecnologia já estar desenvolvida, ainda há uma barreira regulatória.

Tanto na Inglaterra quanto em outros países do mundo (inclusive o Brasil) as agências reguladoras têm patinado para abrir caminho para os drones ou RPAs (sigla em inglês para Aeronaves Remotamente Pilotadas). A grande questão é garantir a segurança do espaço aéreo ao mesmo tempo, explica o coordenador da Academia de Ciências Aeronáuticas Positivo (Acap), Fábio Augusto Jacob.

No Brasil, atualmente, há três categorias de RPAs regulamentadas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). A primeira, para naves de até dois quilos, é possível voar a até 30 metros de altura e a uma distância máxima de 300 metros do operador. Entre dois e 25 quilos, a altura máxima é de 120 metros, e a distância, de 500. A partir de 25 quilos, a RPA segue normas semelhantes às das demais aeronaves.

Além disso, na norma brasileira não há nenhuma previsão para voos autômos, sem o operador, explica o professor Jacob. No caso hipotético de um Fleetlight brasileiro, por exemplo, a altura é baixa, eliminando riscos de colisão com aviões e helicópteros, o que obrigaria a se pensar em como garantir a segurança dos pedestres em relação aos equipamentos. “O Decea analisa caso a caso. A ideia não é impedir o progresso, mas a legislação visa proteger quem está em volta. Então é possível, mas tem que submeter à apreciação dos órgãos reguladores”.

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