• Carregando...
Agente do Gaeco conduz um dos suspeitos detidos ontem, em Curitiba: investigação começou após a invasão de um casarão que funcionava como cassino no bairro Parolin | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Agente do Gaeco conduz um dos suspeitos detidos ontem, em Curitiba: investigação começou após a invasão de um casarão que funcionava como cassino no bairro Parolin| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Michelotto teve trajetória polêmica no comando da Civil

As consequências da operação deflagrada por policiais na "mansão-cassino" foi apenas umas das crises enfrentadas pelo delegado Marcus Vinícius Michelotto quando comandava a Polícia Civil. O período em que ele ocupou o posto de delegado-geral (entre janeiro de 2011 e julho deste ano) foi marcado por polêmicas e denúncias de corrupção envolvendo a corporação.

Em abril deste ano, dois delegados foram presos pelo Gaeco, acusados de comandarem um esquema de cobrança de propinas de autopeças e ferro-velhos. Em ligações telefônicas interceptadas com autorização da Justiça, um dos delegados sugeriu que Mi­chelotto participava da negociata. O ex-chefe da Polícia Civil disse na ocasião que a menção partiu de um desafeto, com o interesse de incriminá-lo.

Em maio de 2012, a série de reportagens "Polícia Fora da Lei", da Gazeta do Povo, mostrou que o dinheiro destinado à manutenção de delegacias não chegava ao destino e que a cúpula da corporação usava viaturas para fins pessoais, como levar filhos à escola e ir a prostíbulos. Apesar da gravidade das denúncias, Michelotto resistiu à crise.

No início daquele ano, ele já havia enfrentado a insatisfação dos policiais de base, que entraram com recursos para tentar deflagrar uma greve. A crise se acirrou quando o aumento salarial dado aos delegados foi maior que o conferido aos investigadores.

Michelotto deixou o comando da Polícia Civil em julho deste ano, um mês depois de quatro suspeitos de terem matado a jovem Tayná Ariadne da Silva serem torturados em delegacias.

Precedente

Em 2011, ex-comandante da Polícia Militar confessou amizade com bicheiros

A Polícia Civil não é a primeira corporação do Paraná a ser acusada de envolvimento com jogos de azar. Em novembro de 2011, o então comandante da Polícia Militar (PM), coronel Marcos Theodoro Scheremeta, admitiu publicamente manter relacionamento com gerentes do jogo do bicho e da máfia dos caça-níqueis de Curitiba. As declarações foram dadas após ele sido exonerado do comando da corporação. Na ocasião, o ex-comandante disse que seu pai – já falecido – foi gerente de casas loterias e que trabalhava com jogos de azar. Por isso, continuou a manter contato com os gerentes da jogatina. Apesar disso, o coronel negou que tenha recebido dinheiro dos contraventores ou que tenha deixado de combatê-los. "Eu conheço amigos de meu pai que até hoje trabalham [com jogo do bicho e caça-níqueis]. Converso com eles por telefone, me encontro com eles", afirmou, na época.

Adiado

Foi adiado ontem o julgamento do pedido de renovação da licença que permite que o procurador Cid Vasques se afaste do Ministério Público (MP) para ocupar o cargo de secretário de Segurança. A sessão para discutir o assunto no Conselho Superior do MP foi transferida para o próximo dia 17.

  • Dezenas de máquinas caça-níquel foram tiradas de circulação
  • A toda hora, policiais chegavam com documentos apreendidos

O ex-delegado-geral da Polí­cia Civil do Paraná Marcus Viní­cius Michelotto foi preso ontem de manhã, em Curi­tiba, por suspeita de envolvimento com o jogo ilegal explorado na chamada "mansão-cassino", invadida por policiais rebelados em janeiro do ano passado. A prisão foi feita pelo Grupo de Atuação Espe­cial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Mi­nis­tério Público do Paraná (MP). Também foram detidos outro delegado, Geraldo Celezinski, e mais dois investigadores, cinco policiais militares e seis pessoas de fora das corporações. Todos por força de mandado de prisão temporária. Há informações de que de foram cumpridos dezenas de mandados de busca e apreensão. As investigações correm sob sigilo judicial.

A movimentação de viaturas e dos mais de 100 policiais mobilizados na operação chamou a atenção. Enquanto os jornalistas esperavam por informações do lado de fora do Gaeco, a todo momento veículos policiais chegavam com equipamentos, máquinas caça-níqueis e malotes com documentos apreendidos. No fim da tarde, o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, deixou o local sem responder a perguntas.

Os dois delegados estão detidos no Centro de Ope­ra­ções Policiais Especiais (Cope). Os nomes deles foram confirmados pelo advogado Mil­ton Miró Vernalha Fi­lho, do Sindicato de Classes Poli­ciais Civis (Sinclapol), e pelo presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sidepol), Cláudio Marques. Os nomes dos outros presos não foram divulgados.

"Mansão-cassino"

A investigação do Gaeco começou a partir de denúncias feitas por policiais civis que invadiram a "mansão-cassino", no dia 27 de janeiro de 2012, em uma ação de protesto contra a cúpula da Polícia Civil. Sem o comando de um delegado, eles entraram no casarão localizado no bairro Parolin, prenderam três pessoas e apreenderam 40 caça-níqueis. Havia suspeita de que o local também era usado para prostituição.

A ação iniciou uma guerra interna na corporação. Mi­chelotto classificou a operação como "miliciana" e "política". Já os policiais que participaram da invasão alegam que passaram a sofrer perseguições. "Levamos as denúncias à Corregedoria, que ao invés de apurar a quem pertencia a mansão, passou a retaliar os policiais", lembrou um agente que participou da ação. "Por isso, levamos as denúncias ao Gaeco", enfatizou.

Vista grossa

Posteriormente, a Gazeta do Povo teve acesso a um documento que comprovou que o Narcodenúncia já havia recebido informações detalhadas sobre o cassino, descrevendo-o como ponto de tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes, jogos de cartas e exploração de caça-níqueis. Mas a investigação feita pela Polícia Civil concluiu, um ano depois, que não havia prostituição no local e que "em sua esmagadora maioria os frequentadores eram pessoas de idade avançada".

Advogado diz que prisão foi "desnecessária"

Os advogados Rodrigo Sán­chez Rios e Marlos Arns, que representam o delegado Marcus Vinícius Michelotto, classificaram como "desnecessária" a prisão do ex-chefe da Polícia Civil do Paraná. Na avaliação deles, o Gaeco poderia concluir as investigações e, eventualmente, oferecer denúncia à Justiça sem a prisão temporária do policial.

"Se é um fato pretérito, a necessidade de prisão se esvazia", disse Rios. "Ele tem endereço fixo, é um servidos público exemplar,não havia necessidade disso", reiterou. Ontem, os advogados analisam o teor do pedido de prisão para decidir que medidas tomariam.

O presidente do Sindicato dos Delegados do Paraná (Sidepol), Cláudio Marques, esteve no Gaeco e considerou estranha a ação do Ministério Público. Ele destacou que a operação ocorreu no mesmo dia em que o Conselho Superior do Minis­tério Público votaria pela renovação ou não da licença que autoriza o procurador de Justiça, Cid Vasques, a permanecer no posto de secretário de Segurança Pública do Paraná.

De acordo com ele, a prisão de Michelotto tornou-se algo pessoal para o Ministério Público. "O Gaeco quer fazer investigações, mas não tem estrutura e não tem coragem de fazer investigações no que realmente importa, que é o crime organizado."

"Show midiático"

O advogado Milton Miró Vernalha Filho, do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), classificou a ação como um "show midiático". "Tudo indica que há uma usurpação da função pública por parte do Gaeco. Parece que é um projeto político do Gaeco para tomar a Polícia Civil para si. Se trata de um show midiático para atingir o secretário [Cida Vasques] e o governador [Beto Richa]", disse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]