Funcionários pedem outras melhorias
Além do aumento salarial, os funcionários que aderiram à mobilização reivindicam outras melhorias. Há 16 anos trabalhando no setor de ortopedia do Hospital Evangélico, o auxiliar de enfermagem Ezequiel Pelaquine, 52 anos, diz que a instituição não recolhe o fundo de garantia dele há 10 anos. O vale-refeição, no valor de R$ 130, também é pago com atraso. "O pagamento deveria ter sido depositado ontem, e até agora nada", denuncia. O salário de Pelaquine é de R$ 860, tirando os descontos, para um turno de oito horas.
Em frente ao prédio de recursos humanos do Hospital Pequeno Príncipe, entre apitaços, faixas e gritos de adesão à paralisação, a auxiliar de lavanderia Irenice Carvalho dos Santos, 47 anos, protestava. "Além do baixo salário, que é de R$ 575, levamos 45 dias para ter uma folga." (AP)
Sem acordo
Impasse deflagra paralisação
O Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar) ofereceu aos funcionários dos hopitais 6,5% de reajuste salarial, 8,5% de acréscimo ao piso e 23% no vale-alimentação. "Nos últimos quatro anos, demos 100% de aumento no vale-alimentação. Esta proposta já é além do que a maioria dos hospitais pode pagar, mas estamos nos esforçando para oferecer o melhor possível. Mais que isso, é inviável", explica Luiz Rodrigo Milano, presidente do Sindipar.
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde (Sindesc) não aceita esta proposta. "Estamos abertos à negociação, mas não abrimos mão de que nossa proposta seja considerada", comenta Natanael Martini, tesoureiro do Sindesc.
Parte dos funcionários de hospitais particulares e filantrópicos de Curitiba estão em greve desde a manhã de ontem. No Pequeno Príncipe, especializado no atendimento pediátrico, cerca de 70% das cirurgias que estavam agendadas foram desmarcadas por causa da falta de enfermeiros e auxiliares.
Segundo o Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Serviços de Saúde de Curitiba e Região (Sindesc), a adesão no primeiro dia da manifestação ficou dentro do esperado: 30%, em média. Quatro hospitais Pequeno Príncipe, Evangélico, Cruz Vermelha e Nossa Senhora das Graças foram afetados. "Amanhã [hoje], nossa expectativa é que a greve atinja a Santa Casa e o Cajuru e haja envolvimento ainda maior dos hospitais que já estão participando", afirma Natanael Martini, tesoureiro do Sindesc.
Entre as reivindicações da categoria formada por profissionais da área de enfermagem, laboratoristas e de serviços básicos, como limpeza e cozinha e copa , a principal é um aumento de até 28% no piso salarial, além de redução nas jornadas de trabalho de alguns setores e novas contratações. O Sindesc tem 10 ações coletivas sendo seis abertas na segunda-feira pelo descumprimento da convenção da categoria e atrasos salariais.
De acordo com o sindicato, a manifestação não tem prazo para acabar. "Depende de o sindicato patronal apresentar uma proposta melhor. Estamos abertos à negociação, mas queremos que nossa proposta seja levada em conta."
Cirurgias
No Pequeno Príncipe, entre 60% e 65% dos cerca de 700 funcionários aderiram à greve, segundo o Sindesc. A assessoria de imprensa do hospital divulgou um número menor cerca de 30% (210 colaboradores) , mas isso não diminuiu o prejuízo aos atendimentos. O setor mais afetado foi o centro cirúrgico. Dos 14 funcionários, apenas três compareceram ao hospital. Com isso, das 28 cirurgias marcadas para ontem, 20 foram desmarcadas e apenas oito foram realizadas, entre elas um transplante renal, somente porque eram urgentes e não poderiam ser transferidas para outro dia.
"Várias crianças deixaram de ser operadas e também tivemos algumas faltas na UTI. Não queremos parar os atendimentos, mas é difícil prestar os serviços com a capacidade tão reduzida. Neste caso, o problema saiu do plano da manifestação e se tornou um risco para a sociedade", diz André Teixeira, vice-diretor administrativo e financeiro do Pequeno Príncipe. Segundo a assessoria, algumas cirurgias marcadas para hoje de manhã também foram canceladas e serão remarcadas, mas não há previsão de quando o atendimento será regularizado.
Nos demais hospitais mobilizados não houve problemas. No Evangélico e no Nossa Senhora das Graças, cerca de 20% dos funcionários pararam. No Cruz Vermelha, o sindicato divulgou que aproximadamente 40% cruzaram os braços. Os números não foram confirmados pelos hospitais.
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