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Os policiais que ministram o curso criam laços de confiança com as crianças | Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
Os policiais que ministram o curso criam laços de confiança com as crianças| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Contraponto

Para sociólogo, vínculo deve ser formado com professores, e não com policiais

Para o sociólogo e coordenador do Centro de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, os policiais do Proerd acabam preenchendo uma função que deveria ser ocupada por educadores e professores que estão diariamente com as crianças e adolescentes nas escolas.

O sociólogo lembra que os policiais são capacitados muito rapidamente, dentro de cursos na própria PM e não no ambiente escolar, para lidar com as crianças. O ideal, na avaliação de Bodê, é que os professores fossem capacitados para executar o programa. "Isso [o Proerd] acaba também tirando os policiais das ruas", ressalta.

44 países aplicam o conteúdo do Drug Abuse Resistence Education (Dare), projeto norte-americano que inspirou o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). O curso é dividido em 12 aulas, nas quais são abordados temas como cigarro, drogas, álcool, bases da amizade e como decidir de forma confiante. Ao final, é feita a formatura da classe.

Ano a ano, o Programa Edu­cacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), da Polícia Militar (PM), tem conquistado cada vez mais espaço dentro das salas de aulas do Paraná. Após 13 anos, mais de 1,1 milhão de crianças passaram a conhecer, em 12 aulas, os motes e o jeito que a PM encontrou para prevenir o uso de drogas. O modelo partiu de um exemplo norte-americano, aplicado desde 1982 em Los Angeles, com o nome Drug Abuse Resistence Education (Dare) e chegou ao Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, dez anos depois. No Paraná a estreia do programa foi em 2000, e desde então ele foi aplicado em 1.527 escolas públicas e particulares do estado.

"É o melhor sistema de prevenção primária. O Proerd faz com que a criança, por si só, consiga instrumentos para dizer ‘não’", afirma o comandante da 1.ª Companhia do Batalhão de Patrulha Escolar, capitão Ricardo da Costa.

Entre os segredos para atrair tanto o interesse da comunidade escolar está a forma como os policiais ministram o curso. "Os alunos têm confiança no instrutor. Cria-se uma amizade entre eles", explica o oficial. Segundo o próprio capitão, esse vínculo colabora, inclusive, para denúncias de violência doméstica. A proximidade é buscada também com os pais, para que eles estejam preparados para enfrentar o problema da violência e das drogas.

Durante a aula, o policial segue o que está em uma cartilha criada para o ensino fundamental, principal público do Proerd. Conta histórias, fala sobre as consequências causadas pelo uso das drogas e ensina a "dizer não". O programa tem um tripé didático, com livro do estudante, livro dos pais e manual do instrutor. A PM acredita que a prevenção ao usuário pode também conter outros delitos no futuro, causados pelo tráfico de drogas.

Caixinha de perguntas

Um dos métodos que ajudam na criação do vínculo de confiança entre a PM e as crianças é a caixinha de perguntas e dúvidas. Toda quinta-feira, dia da semana reservado para as aulas do Proerd nas escolas, o policial-instrutor deixa uma caixa na sala, que pode receber perguntas mesmo quando não há ninguém presente. São perguntas de alunos sobre drogas e outros assuntos afins. As dúvidas são respondidas para todos, sem que a criança que a fez seja identificada. "É o policiamento comunitário na essência e que muda também a imagem da polícia", define o capitão.

Aprovação

Programa é elogiado pela comunidade escolar e pelos alunos

O Proerd não é apenas festejado pelos policiais, mas também consagrado dentro das comunidades escolares. A diretora da Escola Maria Augusta Jouve, no Boqueirão, Silvia Machado, explica que o programa faz muita diferença no combate às drogas dentro da instituição e também resulta em ações práticas de auxílio aos estudantes. "As crianças se sentem mais seguras, pedem ajuda em muitos momentos", conta.

A escola já recebe o programa há seis anos e atende mais de 800 alunos. Na avaliação da professora, as aulas com o policial incentivam o bom comportamento dos alunos.

A aluna Vitória Bomfim de Matos, 9 anos, acredita que a importância do programa está na possibilidade que dá a ela de repassar as informações para a família inteira. "Os policiais são muito engraçados, educados. Falam de uma forma que a gente entende naturalmente", contou.

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