
Um homem de 36 anos caminhou, nesta quinta-feira (9), por cerca de 20 quilômetros durante cinco horas carregando uma cruz de aproximadamente três metros de altura em um protesto contra sua própria demissão, anunciada no dia 1º de abril pela Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), onde trabalhava havia 15 anos. Aparecido Massaranduba, saiu às 9 horas de sua casa, em Campina Grande do Sul, na região metropolitana, e chegou por volta das 13h30 na Rodoferroviária de Curitiba, sede da Urbs, onde iniciou uma greve de fome. "Só estou tomando água", disse.
Massaranduba afirma que a Urbs e a prefeitura de Curitiba decidiram demiti-lo por motivação política e pessoal, em retaliação a uma denúncia que ele fez em 2003. A Urbs, ao contrário, explica que a demissão foi uma decisão administrativa e tudo aconteceu de acordo com o que prevê a lei.
Funcionário da empresa desde 1995, quando foi contratado por concurso público, o ex-agente de trânsito revelou, em abril de 2003, que os ônibus de empresas ligadas à Urbs não eram multados pelos radares que controlam os limites de velocidade.
A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público (MP) e motivou uma ação civil pública que tramita até hoje na 3ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba. Três ex-diretores da empresa são réus na ação. "Eu sempre fui um bom funcionário. Só por causa dessas denúncias eu deixei de ser?", questiona.
Neste ano, Massaranduba denunciou a criação de cargos comissionados desnecessários dentro da Urbs. "O Augusto Canto Neto, presidente do Instituto Curitiba de Saúde (ICS), criou um cargo só para acomodar a esposa, Jaqueline Alessi Canto", diz. No entanto, Canto Neto não é mais presidente do ICS desde 2007. O ex-funcionário da Urbs acredita que Marcos Isfer, presidente da Urbs, se solidarizou a Canto Neto e se posicionou contra a denúncia, já que ambos são correligionários, filiados ao mesmo partido o PPS (Partido Popular Socialista). "Eles devem achar que Maquiavel é uma referência socialista", critica.
Em resposta, Augusto Canto Neto afirmou que Massaranduba falou inverdades e que na segunda-feira (13) entrará com uma ação na Justiça contra o ex-agente de trânsito. "Não sou filiado a partido nenhum desde 2006, já fui do PDT, PTB e PPS, mas há quatro anos não estou ligado a nenhuma legenda. Também não sou presidente do ICS desde março de 2007", explicou Canto Neto.
Atualmente, Canto Neto está na diretoria de serviços especiais da secretaria municipal de Meio Ambiente. "Minha esposa é funcionária da Urbs desde 1990. Em 2003 ela assumiu a gerência da Diretran que cuida da fiscalização de trânsito e inclusive foi chefe do Massaranduba. Desde outubro ela está licenciada pelo INSS por causa de um tratamento oncológico. Eu não tinha como criar nenhum cargo para ela. O Massaranduba foi muito leviano nessa declaração", definiu Canto Neto.
Greve de fome
Massaranduba afirma que não foi informado das causas de sua demissão. "Cheguei para o meu trabalho e já estavam me esperando. Disseram que lamentavam ter de fazer isso com um colega de trabalho, mas que não queriam mais que eu fizesse parte do quadro funcional", conta. "Só não deram risada da minha cara para não ficar feio".
Além da referência à caminhada de Jesus até o calvário, que acontece por conta das comemorações da Páscoa, o manifestante conta que a cruz que carrega tem outro significado. "A cruz que eu carrego representa o desemprego, a injustiça e o assédio moral", diz. "Não me colocaram no cargo por um favor. Fiz um concurso público e estava lá por mérito". A greve de fome será mantida por tempo indeterminado, garante. "Vou ficar em greve de fome até ter um piripaque ou até que a prefeitura se retrate e me dê meu trabalho de volta", afirma.



