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Virtudes

Honestidade, a virtude que ajuda a formar o caráter dos filhos

É a confiança que os pais depositam nos filhos, mesmo após alguma mentira, que abre caminho para que eles busquem a honestidade. (Foto: Bigstock)

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Um dos pilares do caráter humano, a honestidade é a virtude que move o ser humano a agir da maneira mais íntegra possível. Sua vivência implica em ser reto e justo, tendo sempre em vista o outro. "Não é um conceito abstrato, a pessoa tem que consolidar essa virtude, vivendo-a no dia a dia desde as menores situações até as mais complexas. Desde devolver o troco errado até fazer negócios lícitos, pagar seus impostos, dizer a verdade", comenta a psicóloga clínica e orientadora familiar, especialista em neuropsicologia, educação e desenvolvimento familiar e pessoal Lelia Cristina de Melo.  

Seja na família, no trabalho ou na vida social, a honestidade "faz brilhar" qualquer relação humana, observa Lelia. "As outras pessoas se sentem muito seguras diante de uma pessoa sabidamente honesta". Além de falar a verdade, ter autenticidade e assumir seus compromissos, a pessoa que vive essa virtude também é honesta consigo mesma: busca o autoconhecimento para tomar consciência de suas fraquezas e dificuldades e, então, as assume buscando ser uma pessoa melhor.

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E não demora muito para os filhos começarem a observar tudo isso dentro de casa. Aos 3 anos, aproximadamente, os pequenos já começam a perceber o que é a honestidade quando veem que os pais falam a verdade, que aquilo que os pais falam realmente acontece, que os pais assumem o que fazem, que pagam o que devem, que devolvem o troco a mais e assim por diante.

A partir dos 6 ou 7 anos, então, a mentira passa a ser premeditada porque a criança já aprendeu a diferenciar verdade de mentira. Mas isso não deve ser motivo de grandes preocupações para os pais já que, geralmente, a intenção por trás da mentira de uma criança é uma só: conseguir aquilo que ela quer. E isso vai desde fugir de alguma punição, até querer preservar ou conseguir uma boa imagem, fugir de responsabilidades ou chamar a atenção.  

"A criança é muito dominada pelo impulso e pelos desejos. Então, ela quer tanto, tanto, tanto uma coisa, que mentir é a saída porque ela sabe que, eventualmente, os pais não vão permitir", explica Lelia, salientando ainda que a mentira na infância não tem a mesma gravidade da mentira na adolescência ou na vida adulta. Isso porque a criança ainda está em desenvolvimento e não tem a intenção de prejudicar alguém. No entanto, é importante que os pais estejam atentos e ajam para que isso não se torne um vício.

"Se eles forem abertos, firmes (diferente de ser duros), tendo uma gravidade mediana no olhar, na voz, na postura, mas com respeito e com afeto, a criança muito provavelmente vai contar a verdade para os seus pais", explica Lelia, lembrando que os pais devem ser figuras de muita confiança para a criança.  

"Se forem muito bravos, o filho não vai contar a verdade por medo", alerta. E como o resultado de tanta severidade é o medo, esses pais não contribuem em nada para a formação da consciência da criança. Pais mais abertos, que educam pra ensinar, perdoam uma desonestidade e seguem demonstrando que confiam na criança, que sempre é possível se recuperar e, das próximas vezes, ser honesto novamente. 

E é justamente essa confiança retomada que abre caminho para que os filhos sejam honestos. "É muito errado quando a criança mente e os pais ficam 'ah, não confio mais em você', isso é muito complicado. Os pais devem corrigir, chamar atenção, mas abrir novas oportunidades: 'filho, eu sei que você errou mentindo, mas eu sei que você pode, a partir de agora, não mentir mais porque agora você já entendeu bem que a verdade é muito valiosa. Então, nós vamos esperar que você não minta mais porque você é muito bom'".

Dicas  

Se você é pai ou mãe, anote essas dicas da psicóloga. Se você for constante na postura de abertura, com certeza essas orientações irão ajudar seu filho a desenvolver a virtude da honestidade:

  • Ensine, mostre, oriente, mas jamais puna se a criança reconhecer que mentiu. Pelo contrário, elogie a sua autenticidade, mas informe que não precisa reincidir na mentira.
  • Se você desconfia que ela mentiu, não dissimule. Diga que não parece que é verdade. Por exemplo, se ela está com um brinquedo que não é seu e disse que ganhou, pergunte três vezes e verifique se há contradição nas versões. Se sim, insista, com amor, para ela falar a verdade e proponha a devolução.
  • Repito: broncas severas e castigos podem levá-la a mentir mais, por medo. Toda criança deve se sentir bem, corajosa e importante contando a verdade.

Esse conteúdo foi publicado originalmente no Sempre Família, em 22/9/2021.

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