Imprudência. Alguém ainda tem dúvida de que essa palavra resume a causa de praticamente todos os acidentes de trânsito no Brasil? No ano passado, aconteceram 32,9 mil colisões nas vias municipais do Paraná e 11,9 mil nas rodovias estaduais e federais. Morreram 1.590 pessoas e outras 58.755 ficaram feridas. O principal motivo de tantos acidentes é falha humana, de acordo com profissionais da área. "Há um grande desrespeito às normas de trânsito, que só são cumpridas na presença de um policial", diz o sargento Ronivaldo Brites, do setor de comunicação do Batalhão de Trânsito (Bptran).
Nas vias urbanas, a infração mais comum é o avanço de sinal vermelho, o que resulta em colisões transversais, ou seja, batidas em cruzamentos. Há ainda um grande desrespeito pela preferencial do outro, o que também gera um grande número de atropelamentos. "São motivos que contribuem para a ocorrência de acidentes graves dentro da cidade", avalia Brites. Segundo o militar, falar ao celular enquanto se está ao volante e desrespeitar o limite de velocidade são outros dois fatores causadores de batidas.
Já nas rodovias, as principais causas são ultrapassagem em faixa dupla ou sem visibilidade, excesso de velocidade e muita confiança. "Não existe estrada perigosa, quem a faz é o próprio motorista", explica o tenente Sheldon Vortolin, da Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Ele lembra que, na década de 90, as pessoas chegaram a apelidar de "Jesus me chama" a curva da Serra de São Luiz do Purunã, na região de Curitiba, porque morreram no local 40 pessoas.
"Começaram a falar que o problema era da curva, por causa da engenharia da pista. O local foi reformado e os acidentes continuaram, todos por excesso de velocidade. Só reduzimos o problema quando um redutor (radar fotográfico) foi colocado no local", lembra Vortolin.
A coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen, diz que enquanto o individualismo dos motoristas não for superado, os acidentes tendem a continuar. "Quem dirige acredita que tem mais direito de ocupar o espaço público. Se a placa diz que a velocidade permitida é 60 quilômetros por hora, o condutor anda a 80 quilômetros por hora porque ele pensa que a placa é um mero objeto, porque quem dá as ordens é ele", observa a especialista.
Para Iara, seria preciso mudar a forma como se ensina o motorista a guiar um carro. "Dizer que o vermelho é o sinal para parar, todo mundo sabe. É necessário discutir a maneira errada com que as pessoas enxergam o espaço público. Mostrar de que forma a convivência de um condutor pode gerar danos aos outros."



