
Helena Ribeiro, 36 anos, e Neusa Ferreira, 58 anos, se conheceram há um ano numa sala de aula. Sem condições de estudar enquanto eram crianças, elas realizam agora o sonho de ler, escrever e de se sentirem integradas à sociedade. As duas viviam em sítios do interior do Paraná e ainda na infância trocaram os livros pelo trabalho, situação bastante comum para a época. Como consequência desse período, o Brasil enfrenta uma alta taxa de analfabetismo: 9,02% da população com mais de 10 anos ainda não é alfabetizada, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Paraná, essa fatia é de 5,77%.
Um trabalho de mestrado apresentado recentemente na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), de autoria da professora Vanessa de Oliveira Pupo, mostra que a maioria dos adultos entrevistados que busca terminar a 4ª série passou a infância na área rural. Ela avaliou uma amostra de 483 adultos matriculados em cursos de alfabetização em Piracicaba (SP) e concluiu que 68% eram originários da zona rural.
"Em grande parte dos casos, eles relatam que as escolas eram longe e que precisavam ajudar os pais na agricultura ou cuidar dos irmãos menores", acrescenta a professora. Os pais e irmãos desses alunos também não eram alfabetizados.
Para a secretária municipal de Educação de Ponta Grossa, Zélia Marochi, a passagem da idade escolar na zona rural não é a única causa do analfabetismo, mas ela admite que no passado as condições de acesso à educação eram precárias. "As escolas eram distantes, não havia o transporte escolar rural como hoje, e as crianças eram usadas no trabalho infantil."
Superação
Helena fez até a terceira série do ensino fundamental em uma escola rural de Cândido de Abreu, nos Campos Gerais, mas foi tirada da escola pelo pai aos 9 anos para trabalhar na lavoura de feijão com os 12 irmãos. Casada e com dois filhos em idade escolar, ela sentia vergonha de não poder ajudar as crianças nas tarefas da escola. Por isso, decidiu frequentar um curso de alfabetização oferecido pela prefeitura de Ponta Grossa. Hoje, Helena já passou para o módulo da 5ª à 8ª série e faz votos de continuar.
Neusa mal terminou o primeiro ano do ensino fundamental quando era criança na localidade de Santa Cruz, em Ponta Grossa. Ela foi criada por uma tia, que também era analfabeta e não via serventia nos estudos. "Eu parei de ir à escola para ajudar a cuidar das minhas duas irmãs menores", afirma.
O marido, os oito filhos e os 13 netos gostaram do retorno de Neusa aos estudos. "Toda vida eu tinha vontade de estudar. Hoje até meus netos me ajudam quando a tarefa está mais difícil", diz. A professora Roseli Ribeiro, que dá aulas para crianças e adultos, confirma que a idade é um peso a mais nos estudos. "Entre os adultos, o aprendizado é mais lento."



