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Helena parou de estudar para trabalhar na lavoura e Neusa, para cuidar das  duas irmãs mais novas | Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Helena parou de estudar para trabalhar na lavoura e Neusa, para cuidar das duas irmãs mais novas| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Maioria dos alunos tem mais de 50 anos

Assim como na amostra da professora paulista Vanessa Pupo, na qual a maioria dos adultos que tenta concluir a 4.ª série do ensino fundamental tem mais de 50 anos, no Paraná a maior parte dos estudantes também está nesta faixa etária. Levantamento do programa Paraná Alfabetizado atesta que 59% dos alunos já passaram dessa idade: 24% têm de 50 a 59 anos; 21% estão entre os 60 e os 69 anos; 11% têm mais de 70 e menos de 79 anos e 3% já estão com mais de 80 anos.

O programa é desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná e tem aulas de educação de jovens e adultos em escolas e espaços alternativos, como centros comunitários e igrejas. Entre 2004 e 2010, conforme o balanço da Secretaria, 411,1 mil alfabetizandos passaram pelo programa. Em média, 68% dos estudantes vivem em cidades, contra 32% da zona rural, mas a proporção varia muito conforme o Núcleo Regional de Educação de origem desses estudantes. No Núcleo de Curitiba, por exemplo, apenas 1% dos estudantes era da área rural, enquanto no Núcleo de Pitanga, na região Central do estado, 65% moravam no campo. (MGS)

História

Paraná era estado rural até 1980

Somente a partir da década de 80 o Paraná passou a ter mais moradores nas cidades que no campo. Isso é demonstrado pelo Censo de 1980 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há 31 anos, havia 4,5 milhões de pessoas morando nas cidades paranaenses, enquanto 3,1 milhões ainda viviam na zona rural. Hoje a realidade é bem diferente. Dos 10,4 milhões de habitantes contados pelo Censo de 2010, somente 1,5 milhão vive no campo.

No Brasil, essa inversão ocorreu um pouco antes. Até o Censo de 1960, a população rural predominava: 38,9 milhões contra 32 milhões das cidades. Nos anos 70, com o processo de industrialização, principalmente da região Sudeste, as famílias migraram para as cidades.

Dos 94,5 milhões de brasileiros, 52,9 milhões estavam nos centros urbanos e 41,6 milhões nas áreas rurais. Essa proporção foi caindo década a década. O Censo de 2010 confirmou que 160,9 milhões de brasileiros estão espalhados pelas cidades, enquanto 29,8 milhões estão no campo.

Hoje, algumas medidas são tomadas para manter as famílias no campo. O analista de projetos da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), Matheus Pereira Ramos, conta que o foco são os jovens. "Nós fazemos muitas oficinas de associativismo e empreendedorismo, por exemplo, e 90% do nosso público têm entre 16 e 26 anos. Nós mostramos aos jovens os programas de governo que os incentivam a adquirir uma propriedade", diz. (MGS)

Helena Ribeiro, 36 anos, e Neusa Ferreira, 58 anos, se conheceram há um ano numa sala de aula. Sem condições de estudar enquanto eram crianças, elas realizam agora o sonho de ler, escrever e de se sentirem integradas à sociedade. As duas viviam em sítios do interior do Paraná e ainda na infância trocaram os livros pelo trabalho, situação bastante comum para a época. Como consequência desse período, o Brasil enfrenta uma alta taxa de analfabetismo: 9,02% da população com mais de 10 anos ainda não é alfabetizada, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geo­grafia e Estatística (IBGE). No Paraná, essa fatia é de 5,77%.

Um trabalho de mestrado apresentado recentemente na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), de autoria da professora Vanessa de Oliveira Pupo, mostra que a maioria dos adultos entrevistados que busca terminar a 4ª série passou a infância na área rural. Ela avaliou uma amostra de 483 adultos matriculados em cursos de alfabetização em Piracicaba (SP) e concluiu que 68% eram originários da zona rural.

"Em grande parte dos casos, eles relatam que as escolas eram longe e que precisavam ajudar os pais na agricultura ou cuidar dos irmãos menores", acrescenta a professora. Os pais e irmãos desses alunos também não eram alfabetizados.

Para a secretária municipal de Educação de Ponta Grossa, Zélia Marochi, a passagem da idade escolar na zona rural não é a única causa do analfabetismo, mas ela admite que no passado as condições de acesso à educação eram precárias. "As escolas eram distantes, não havia o transporte escolar ru­­ral como hoje, e as crianças eram usadas no trabalho infantil."

Superação

Helena fez até a terceira sé­­rie do ensino fundamental em uma escola rural de Cândido de Abreu, nos Campos Gerais, mas foi tirada da escola pelo pai aos 9 anos para trabalhar na lavoura de feijão com os 12 irmãos. Ca­­sada e com dois fi­­lhos em idade escolar, ela sentia vergonha de não poder ajudar as crianças nas tarefas da escola. Por isso, decidiu frequentar um curso de alfabetização oferecido pela prefeitura de Ponta Grossa. Hoje, Helena já passou para o módulo da 5ª à 8ª série e faz votos de continuar.

Neusa mal terminou o primeiro ano do ensino fundamental quando era criança na localidade de Santa Cruz, em Ponta Grossa. Ela foi criada por uma tia, que também era analfabeta e não via serventia nos estudos. "Eu parei de ir à escola para ajudar a cuidar das minhas duas irmãs menores", afirma.

O marido, os oito filhos e os 13 netos gostaram do retorno de Neusa aos estudos. "Toda vida eu tinha vontade de estudar. Hoje até meus netos me ajudam quando a tarefa está mais difícil", diz. A professora Roseli Ribeiro, que dá aulas para crianças e adultos, confirma que a idade é um peso a mais nos estudos. "Entre os adultos, o aprendizado é mais lento."

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