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Em 7 de dezembro do ano passado, Eduardo Abib atingiu um carro com cinco membros da Igreja Mundial do Poder de Deus, matando quatro deles | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Em 7 de dezembro do ano passado, Eduardo Abib atingiu um carro com cinco membros da Igreja Mundial do Poder de Deus, matando quatro deles| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Protesto

Parentes de vítimas lembram um ano do caso Carli

Paola Carriel

Este será o segundo ano que Cristiane Yared não terá a companhia do filho no Dia das Mães. Para lembrar a data da morte dos jovens Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida, ela e cerca de 150 pessoas se reuniram ontem à noite em uma manifestação no local onde, há um ano, o veículo dos dois amigos foi atingido pelo carro do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, que dirigia alcoolizado. Entre os manifestantes estavam outras famílias que perderam parentes vítimas de acidentes de trânsito. Os participantes pediam uma mudança na legislação para tornar as penas para estes crimes mais rigorosas.

"Não posso trazer meu filho de volta, mas posso ajudar a salvar outros", disse Cristiane. É com este pensamento que ela continua a mobilização para ver preso o culpado pela morte de Gilmar. A principal reivindicação do grupo é que os crimes de trânsito em que o condutor está embriagado passem a ser considerados dolosos (quando há a intenção de matar). "Acidente de trânsito não é uma fatalidade. Quem mata tem de pagar", argumentou.

O ex-deputado ainda não foi ouvido pela Justiça. O advogado da família, Elias Mattar Assad, explicou que Carli Filho poderia ter sido preso em flagrante na época, assim como qualquer outra pessoa que dirige embriagada. Mas, como foi levado para o hospital, a prisão não foi efetivada. Ele acredita que a audiência que decide se o réu vai a júri popular deve ocorrer até setembro e o julgamento, até o primeiro semestre de 2011.

Dezenas de familiares que também perderam parentes compareceram ao protesto. O filho da dona de casa Marli Karpo faleceu há um mês. Thiago, 23 anos, pegou carona com um colega que estava embriagado e bateu o carro. Rose Mari Carriel de Lima tem uma história semelhante. Em dezembro de 2008, o filho Robson, 21 anos, estava em um carro que caiu de uma altura de 17 metros porque o condutor estava alcoolizado. "Se você mata um animal silvestre vai preso na hora, mas se for um ser humano fica impune. Cestas básicas não valem a vida do meu filho", disse.

O ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho não é o único envolvido na cena política e que continua solto depois de matar. O empresário Eduardo Miguel Abib, 27 anos, está em liberdade e não tem restrição para dirigir, mesmo depois de matar quatro pessoas e deixar uma quinta ferida, em 7 de dezembro do ano passado, em um acidente de trânsito. Ele dirigia embriagado e foi preso em flagrante, mas foi solto provisoriamente por uma decisão judicial. Desde então, ele responde o inquérito em liberdade. Eduardo Abib é filho do ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná, Abib Miguel, preso por envolvimento no escândalo dos Diários Secretos.

Passados cinco meses, o caso Abib pouco andou. O inquérito em que Eduardo Abib é indiciado por homicídio com dolo eventual (quando o agente assume o risco de produzir o resultado) e lesão corporal não foi sequer concluído. E, sem a sua conclusão, não pode ser enviado ao Ministério Público, responsável por fazer a denúncia formal do acusado à Justiça – formalidade necessária para dar início ao processo judicial.

De acordo com o delegado da Delegacia de Trânsito, Armando Braga, responsável pelo inquérito, a investigação só não está concluída porque faltam os laudos de dois exames periciais: do local de morte e de lesão corporal. Segun­­do o Instituto de Crimi­­nalística, o laudo de local de morte deve ficar pronto nos próximos dias. Já o de lesão corporal não depende do poder público – o exame teria de ser realizado pelo único sobrevivente do acidente, Felipe Pires, 25 anos, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus e condutor do carro atingido por Abib. Segundo Bra­­ga, Pires foi convocado a fazer o exame do Instituto Médico Legal (IML), mas não compareceu. "Fiquei surpreso. Ele é o maior interessado na conclusão do inquérito", afirma.

Logo após o acidente, Pires se mostou disposto a falar com a reportagem da Gazeta do Povo sobre o acidente, mas depois mudou de ideia. Teve alta do hospital e evitou a imprensa. Ao delegado, em depoimento, manifestou o desejo de processar criminalmente Eduardo Abib, mas também não deu andamento à intenção, uma vez que não compareceu sequer para fazer o exame de lesão corporal. Braga procurou Pires e foi informado por membros da igreja que o pastor estaria viajando, mas que ainda tinha interesse de se submeter ao exame.

O delegado diz que vai aguardar que Pires faça o exame e que o Instituto de Criminalística envie o laudo da perícia do local de morte para concluir o inquérito. Uma outra possibilidade jurídica seria dividir o inquérito entre os quatro homicídios e a lesão corporal. Dessa forma, caso o pastor não realize o exame, ao menos os inquéritos referentes aos quatro homicídios poderiam seguir em frente. No entanto, Braga diz que não pretende usar esta tática. "O pastor tem de submeter ao exame", diz.

O tio do pastor, Marcelo Pires, disse à reportagem que o pastor teria, sim, comparecido ao IML para fazer o exame. Segundo Marcelo, o sobrinho teria levado ao IML documentos do hospital onde esteve internado, em substituição ao exame. Mas, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), apenas médicos designados pelo IML podem fazer a perícia. Felipe Pires não atendeu as ligações para confirmar a versão do tio. A reportagem também entrou em contato com os advogados de Eduardo Abib, Alessandro Silvério e Bruno Vianna, mas a secretária informou que eles não falariam sobre o assunto. Abib também foi procurado, mas não atendeu o celular. Na residência dele, a informação repassada é de que ele não falaria sobre o assunto.

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