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Jornalista português Sérgio Miguel de Gomes Tavares – em pronunciamento.
Jornalista português Sérgio Miguel de Gomes Tavares – em pronunciamento.| Foto: Pedro França/Agência Senado

O jornalista português Sérgio Miguel de Gomes Tavares apresentou nesta terça-feira (23) a sua versão sobre os fatos ocorridos no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, quando ficou retido pela Polícia Federal por várias horas, assim que chegou ao Brasil para cobrir os atos pró Bolsonaro na Avenida Paulista.

O jornalista foi ouvido na Comissão de Segurança Pública do Senado, que contou apenas com a presença de parlamentares da oposição.

Ao iniciar o depoimento, Tavares mencionou que o fato é "gravíssimo" e que tem "vergonha" de ter passado pelo o que passou aqui no Brasil. Ele foi retido pela PF no dia 25 de fevereiro e teve de responder a perguntas sobre suas manifestações em redes sociais relacionadas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), vacina e urnas eletrônicas.

"Não foi apenas uma vergonha mas um incidente diplomático. Tiraram meu passaporte, me interrogaram por várias horas sobre assuntos políticos e o mais inacreditável é que me perguntaram tudo, menos as questões habituais", declarou o jornalista.

No dia 19 de março, o diretor de Polícia Administrativa da Polícia Federal (PF), Rodrigo de Melo Teixeira, admitiu que a PF reteve o jornalista português por manifestações nas redes sociais e o questionou sobre o visto de trabalho para cobrir manifestação no Brasil. No entanto, o visto era dispensável, segundo o próprio site do Ministério das Relações Exteriores.

Na audiência, o jornalista voltou a dizer que a PF mentiu sobre a questão do visto e apresentou o documento do interrogatório em que constavam as perguntas de teor político, a qual nada mencionava sobre o visto. Ele sublinhou que seu nome já estava incluído em lista de alertas mantida pela PF, conforme Rodrigo de Melo Teixeira declarou à CSP.

"Eles não perguntaram sobre o visto de trabalho. Isso é mentira. Nem sequer mencionaram a palavra visto. O relatório está público. Portanto, não foi procedimento padrão e o comunicado da PF é falso", disse.

O jornalista relembrou as perguntas que foram feitas relacionadas a sua opinião pessoal sobre o ato do dia 8 de janeiro, a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além do que ele achava das urnas eletrônicas e do ex-ministro da Justiça Flávio Dino.

"Como cidadão livre posso pensar o que eu quiser. Não respondi nenhuma questão, porque isso não é normal. A PF não tem nada a ver com o que eu penso. Sou uma prova viva de perseguição política de opinião", disse.

Para Tavares, o Brasil está lidando com um "regime de Moraes" e com um "constante ataque" a quem é da direita ou de oposição ao governo, com a manipulação das big techs.

"Quem censura os outros é covarde. Quiseram me impedir de fazer o meu trabalho e mostrar a ditadura e dar voz a quem estar sendo perseguido. Esse regime tem um nome é o regime de Moraes, onde eles admitem que as eleições não se ganham, as eleições se tomam. É um regime onde se assume que a missão dada é missão cumprida", declarou.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE), autor do requerimento de audiência com o jornalista, argumentou que Tavares foi retido “sem nenhuma justificativa plausível” e questionado pelos policiais sobre opiniões ideológicas, o que, em seu entender, assemelha-se a uma violação de direitos constitucionais. Girão cobrou investigação rigorosa sobre o “possível aparelhamento político-ideológico” da PF e questionou sobre a lista de 143 mil alertas de pessoas que podem ser entrevistadas pela corporação.

"Será que quem está nos ouvindo agora está nessa lista e não sabe, está sendo monitorado nas redes sociais? Será que é por isso que querem PL da Censura?", questionou Girão.

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), saiu em defesa do jornalista e destacou o avanço de leis que tentam limitar a liberdade de expressão, como o PL das Fake News e o Código Civil, e ações do atual governo como o "Ministério da Verdade". "Na visão do governo Lula, quem faz críticas a esse governo, e em que essas criticas não estão dentro do que é correto pode ser processado, retirado das redes sociais ou sofrer penalidades. ", disse.

Já o senador Marcos Rogério (PL-RO) disse que ordens para exclusão de páginas na rede e perfis em redes sociais sem o devido processo legal viola o Marco Civil da Internet e cria “cidadãos de segunda classe”. "Nunca imaginei que tivéssemos a esse tempo ter que voltar a defender a liberdade. Não existe democracia, sem liberdade de expressão", destacou.

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