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formação autônoma

Jovens apostam em doutorado “fora da caixa”

Estudantes estão recorrendo a projetos autônomos para fazer investigações científicas fora das universidades. E têm conseguido financiamentos

Fora de universidades e institutos de pesquisa, jovens têm conduzido cada vez mais projetos autônomos de investigação. Batizados de "doutorados informais", as iniciativas dispensam bancas de avaliação ou prazos para concluir teses. A proposta é construir conhecimento de modo diferente ao da academia, com liberdade e mais troca de experiências, sobretudo em comunidades virtuais.

Formado em Adminis­tração Pública, Alex Bretas, de 23 anos, é um dos entusiastas da pós-graduação sem diploma. Ele pretende iniciar no segundo semestre um projeto de pesquisa sobre cinco modelos alternativos de aprendizagem entre adultos, inovadores como o próprio formato escolhido por ele para a investigação. "Sempre tive inquietações sobre os sistemas de ensino tradicionais, feitos na universidade", conta. "Quero seguir um caminho diferente, mais autodidata e interativo."

Para custear um livro, produto final do trabalho, Bretas recorreu ao crowdfunding – espécie de "vaquinha" online para projetos colaborativos. E teve sucesso: em 17 dias ele conseguiu os cerca de R$ 8,9 mil pedidos para o projeto. A verba também servirá, segundo ele, para custear atividades de campo.

Na descrição do projeto, que ganhou o nome de Educação Fora da Caixa e tem 80 financiadores, Bretas também prevê bibliografia, que inclui autores da área de Educação como Rubem Alves e Paulo Freire. "Não há o rigor acadêmico tradicional, mas preocupação em mostrar quais são as referências para a aprendizagem", explica o jovem, que reúne materiais para a empreitada desde 2013.

No lugar de mestres e doutores de uma mesma linha de pesquisa, a orientação será múltipla. "É autônomo, mas não um voo solo. Posso contar com a ajuda de quem for, do Brasil e de fora. Minha tarefa é buscar e pedir essas colaborações", explica ele, que cogitou levar a ideia de pesquisa para uma universidade pública. "Desisti até para ser mais coerente com meu objeto de estudo", justifica.

Autodidatismo

Processos de pesquisa e aprendizagem independentes, segundo especialistas, tendem a ganhar força. "A academia se preocupa porque vê essas iniciativas como rivais", analisa Pedro Demo, professor emérito de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em autodidatismo e educação alternativa. "Mas pesquisa e ciência aberta não substituem a tradicional."

Para o educador português José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, colégio público de modelo autônomo que se tornou referência internacional, a mediação é sempre importante. "A internet, por exemplo, é um caos de informações. E a pessoa que busca nem sempre está preparada", defende.

Rotas do ensino

"O currículo é fixo, mas as atividades variam de acordo com o perfil do participante", explica Lucas Coelho, 24 anos, um dos fundadores do Uncollege Brasil. "A ideia é mostrar que o sucesso não depende do curso ou da instituição", diz. "A pessoa deve saber se abstrai melhor o conteúdo pela visão ou pelos ouvidos", exemplifica Coelho. O programa também se preocupa em preencher lacunas de cursos convencionais, com aulas sobre liderança, inovação e empreendedorismo.

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