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Uncollege terá neste ano a 1.ª turma no Brasil

Estudar fora da universidade também é a proposta do movimento Uncollege, que chega neste ano ao Brasil. Lançado há três anos e meio nos Estados Unidos, a corrente é formada por pessoas que desejam construir caminhos próprios de aprendizagem.

O movimento foi fundado pelo americano Dale Stephens, de 22 anos, que deixou a escola e depois a faculdade, descontente com o sistema convencional de ensino. Hoje, seu grupo oferece um programa de ano sabático, que envolve cursos livres em São Francisco, na Califórnia, com palestras, seminários, e a fase de estágio monitorado.

Em setembro começa a edição brasileira do curso, primeira fora dos Estados Unidos, em Ilhabela, no litoral paulista, com formato parecido ao americano e custo de R$ 15 mil. A ideia é formar uma turma de 12, com brasileiros e estrangeiros. Canadá e África do Sul devem ser os próximos a receber o curso.

Quanto ao reconhecimento no mercado, Dale Stephens garante que a tendência é de mudança. "Empregadores reconhecem cada vez mais que o diploma mostra pouco sobre as verdadeiras habilidades pessoais ou ética de trabalho".

"Veterano" de 24 anos dá lições da experiência

O jornalista André Gravatá, de 24 anos, é um veterano no doutorado informal. Em julho de 2012, ele começou sua pesquisa independente. Seu produto final será um romance, em que discutirá relações estéticas, políticas e sociais. Essa não é a primeira incursão de Gravatá na educação "fora da caixa". Ele é um dos autores do livro Volta ao Mundo em 13 Escolas, de 2013, em que, junto com três amigos, relata experiências de visitas a centros de aprendizagem inovadores de nove países.

"Quando terminei minha graduação, pensei em fazer outro curso, como Filosofia ou Artes, mas optei por um projeto próprio", lembra o jovem, que montou um blog, ao mesmo tempo registro da trajetória e plataforma de acompanhamento do trabalho. "A abertura é fundamental. A academia é muito fechada, restrita a um grupo pequeno. E há bem menos diversidade de percursos", critica.

Para contribuir com as pesquisas, a internet também foi aliada. Ele usou redes virtuais de tutores, que ajudaram a pedido de Gravatá ou espontaneamente, com indicações de leituras ou reflexões. Como nos doutorados acadêmicos, o relacionamento com orientadores é também um desafio. "De alguns, não tive resposta. Com outros, as conexões se enfraqueceram ao longo do tempo", diz ele, que também não dispensa encontros presenciais. "Já tive orientação até em uma viagem à Índia, com um mestre que discutia filosofia oriental."

Outra aprendizagem do percurso independente, de acordo com ele, é manter a disciplina. "É preciso organizar os processos, criar um mapa de estudos para não se perder." Embora cogite fazer uma pós formal no futuro, Gravatá não faz questão do aval da universidade. "Não há necessidade de legitimação, mas seria interessante construir junto com a academia."

Fora de universidades e institutos de pesquisa, jovens têm conduzido cada vez mais projetos autônomos de investigação. Batizados de "doutorados informais", as iniciativas dispensam bancas de avaliação ou prazos para concluir teses. A proposta é construir conhecimento de modo diferente ao da academia, com liberdade e mais troca de experiências, sobretudo em comunidades virtuais.

Formado em Adminis­tração Pública, Alex Bretas, de 23 anos, é um dos entusiastas da pós-graduação sem diploma. Ele pretende iniciar no segundo semestre um projeto de pesquisa sobre cinco modelos alternativos de aprendizagem entre adultos, inovadores como o próprio formato escolhido por ele para a investigação. "Sempre tive inquietações sobre os sistemas de ensino tradicionais, feitos na universidade", conta. "Quero seguir um caminho diferente, mais autodidata e interativo."

Para custear um livro, produto final do trabalho, Bretas recorreu ao crowdfunding – espécie de "vaquinha" online para projetos colaborativos. E teve sucesso: em 17 dias ele conseguiu os cerca de R$ 8,9 mil pedidos para o projeto. A verba também servirá, segundo ele, para custear atividades de campo.

Na descrição do projeto, que ganhou o nome de Educação Fora da Caixa e tem 80 financiadores, Bretas também prevê bibliografia, que inclui autores da área de Educação como Rubem Alves e Paulo Freire. "Não há o rigor acadêmico tradicional, mas preocupação em mostrar quais são as referências para a aprendizagem", explica o jovem, que reúne materiais para a empreitada desde 2013.

No lugar de mestres e doutores de uma mesma linha de pesquisa, a orientação será múltipla. "É autônomo, mas não um voo solo. Posso contar com a ajuda de quem for, do Brasil e de fora. Minha tarefa é buscar e pedir essas colaborações", explica ele, que cogitou levar a ideia de pesquisa para uma universidade pública. "Desisti até para ser mais coerente com meu objeto de estudo", justifica.

Autodidatismo

Processos de pesquisa e aprendizagem independentes, segundo especialistas, tendem a ganhar força. "A academia se preocupa porque vê essas iniciativas como rivais", analisa Pedro Demo, professor emérito de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em autodidatismo e educação alternativa. "Mas pesquisa e ciência aberta não substituem a tradicional."

Para o educador português José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, colégio público de modelo autônomo que se tornou referência internacional, a mediação é sempre importante. "A internet, por exemplo, é um caos de informações. E a pessoa que busca nem sempre está preparada", defende.

Rotas do ensino

"O currículo é fixo, mas as atividades variam de acordo com o perfil do participante", explica Lucas Coelho, 24 anos, um dos fundadores do Uncollege Brasil. "A ideia é mostrar que o sucesso não depende do curso ou da instituição", diz. "A pessoa deve saber se abstrai melhor o conteúdo pela visão ou pelos ouvidos", exemplifica Coelho. O programa também se preocupa em preencher lacunas de cursos convencionais, com aulas sobre liderança, inovação e empreendedorismo.

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