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Perceber como o tempo passa rápido é fogo. Envelhecer é fogo. Chegar aos últimos anos da vida é... É um drama com tons de comédia, como se vê no filme E se Vivêssemos Todos Juntos?, que está em cartaz em algumas cidades brasileiras.

O lado cômico do fim da vida é involuntário e tem a ver com o estereótipo que cerca a velhice. Segundo o estereótipo, velhos não vivem (não amam, não têm desejos, não são ativos) e, por isso, quando teimam em viver, se metem em situações que, para os outros, parecem cômicas. É isso que ocorre quando o personagem Claude, que é solteiro, tenta continuar sexualmente ativo aos 75 anos.

Aliás, você já reparou que os filmes sobre pessoas maduras, que começam a se tornar frequentes, são sempre comédias quando há amor e sexo envolvido? Lembra-se de Alguém tem que Ceder, de Mamma Mia!, de O Exótico Hotel Marigold?

O drama é natural nos anos derradeiros, pelo menos do jeito que vemos a vida e a morte aqui no mundo ocidental. A necessidade de serem amparados no dia a dia ronda os velhos, ao mesmo tempo em que eles se veem cercados por filhos e outros familiares que estão muito ocupados com suas próprias vidas. Nas últimas décadas, nossa sociedade prolongou a longevidade, mas não evoluiu nada no que diz respeito à qualidade de vida na velhice. Pelo contrário.

No filme francês, os cinco idosos encontram uma saída: vão viver juntos, em uma espécie de república anárquica. Cada um faz o que quer dentro de casa e todos se apoiam.

E se Vivêssemos Todos Juntos? é uma delícia. Cinco ótimos atores com idades entre 68 anos (Geraldine Chaplin) e 83 anos (Claude Rich) interpretam esse grupo de amigos de longa data, inteligentes, bem-humorados e carinhosos. Jane Fonda, que exibe aos 75 anos uma postura e uma vivacidade de fazer inveja a uma debutante, é a americana que convive com uma doença fatal e com o pavor de deixar sozinho o marido, que tem Alzheimer. Além dela, há outro estrangeiro no grupo de franceses, o alemão Dirk (Daniel Brühl, de Adeus, Lênin), que é contratado para passear com um cão e acaba cuidando um pouco de todos os idosos. O auge de seu envolvimento com o grupo acontece quando Claude lhe pede que compre Viagra e que depois o acompanhe à rua, onde ele irá procurar uma prostituta. Dirk quase morre de vergonha, mas ajuda seu amigo a ter seus momentos de prazer.

O corpo prega suas peças. O coração falha, o Alzheimer apavora. Mas o que os velhinhos mais querem é que não os enterrem antes da hora, que o resto do mundo não faça de conta que eles não existem mais. O engajado Jean (Guy Bedos) fica arrasado quando, durante uma manifestação em favor de imigrantes que ocuparam um imóvel, os policiais ignoram seus gritos de protesto e avançam sobre os outros manifestantes, fazendo de conta que não o veem porque ele é velho. Não provocar reação nenhuma, não ser preso acaba com o coração do velho militante.

A situação dos idosos no filme lembra pessoas tentando viver uma existência normal em meio a uma guerra. O mundo parece estar ruindo e se acabando, mas eles insistem em viver da melhor forma possível. Essa situação atordoa e desconcerta quem acompanha de fora. "Um dia serão vocês", parece dizer Jane Fonda quando lamenta a falta de preparação para a velhice.

E como se preparar?

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