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Praça de pedágio da OHL na BR-101, em Garuva: localização pode expor motoristas ao risco de acidentes. | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Praça de pedágio da OHL na BR-101, em Garuva: localização pode expor motoristas ao risco de acidentes.| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Perigo preocupa caminhoneiros

Enquanto ninguém assume a responsabilidade pela escolha do local da praça de pedágio, caminhoneiros estão preocupados com a possibilidade de aumento do risco de acidentes. Emílio Dalçoquio, diretor operacional de uma transportadora de Itajaí, diz que historicamente o trecho sempre foi um ponto sensível para os condutores. Ele relata que problemas no freio são comuns quando há muita utilização. "Junte a isso os muitos caminhões antigos que temos circulando no país e os motoristas cansados, que percorrem longas distâncias: é claro que as chances de acidentes aumentarão", observa.

Dalçoquio lembra que o tráfego de caminhões com carga perigosa é intenso entre Itajaí e Paranaguá. Somente sua transportadora tem cerca de 100 caminhões que carregam diariamente substâncias como álcool, gasolina e querosene. Ele conta que, mesmo após 5 km da praça de pedágio em Garuva, há caminhões parados na estrada com os pneus "quase em chamas" devido ao sobrecarregamento do sistema. "Vidas estão em jogo", diz.

O presidente da Federação Catarinense de Transporte de Cargas (Fetrancesc), Pedro Lopes, diz que a entidade pediu informações para a OHL. Somente depois da conclusão de um laudo técnico ele vai se manifestar. Mas adiantou que esteve no local e não viu maiores problemas, pois o trecho tem boa sinalização e pavimentação. O presidente do Sindicato dos Motoristas de Itajaí, João José de Borba, diz que os condutores estão preocupados. "Mas ninguém desce a serra em alta velocidade e há boa sinalização", observa, lembrando que não houve acidentes graves durante a construção da obra. "Isso é um indicativo positivo."

O caminhoneiro Cláudio Concatto está apreensivo. Há cerca de um mês um colega seu morreu em acidente justamente pela falta de freios. "Era um rapaz novo, com pouca experiência", conta. "Forçou muito o motor e quando chegou no pé da serra estava sem freio." Ele acredita que as chances de ocorrer colisões aumentarão se os caminhoneiros precisarem parar na praça de pedágio. "Sou cuidadoso: já desci a serra até em primeira porque estava com a carga máxima", garante. "Mas há muitos condutores descuidados."

Carlos André Cabreira, também caminhoneiro, relata que seu veículo demora pelo menos uma hora para resfriar depois de uma descida de serra. Só depois desse período o sistema de frenagem volta a funcionar perfeitamente. "Vai ser quase impossível parar", diz. "Meu caminhão, que é pequeno, já fica com o pneu quase queimando. Imagine as grandes carretas que levam carga pesada." (PC)

Recomendações

Confira as orientações do estudo aos caminhoneiros.

- Não usar o trecho das 22 às 5 horas, nem sob chuva intensa.

- Trafegar apenas em veículos com a manutenção em dia. Trecho só é indicado para motoristas experientes e familiarizados com a rota.

- Sob chuva ou neblina, a velocidade deve ser reduzida, com maior atenção do condutor.

- Respeitar os limites de velocidade de cada trecho e, em caso de bitrens e similares, andar abaixo do limite.

- Na serra, usar o freio-motor e andar em velocidade reduzida.

- Respeitar a sinalização.

- Diminuir a velocidade nas curvas.

- Em razão da deficiência da telefonia no trecho, equipar os caminhões com rastreamento por satélite.

Um estudo elaborado por uma empresa especializada em gerenciamento de risco prova que a localização da praça de pedágio em Garuva (SC), na divisa com o Paraná, pode oferecer perigo aos motoristas que seguem pelas BRs 376 e 101 em direção ao sul. A proximidade da praça com a Serra do Mar poderá causar dificuldade de frenagem em caminhões. Isso porque, durante a descida da Serra, o freio dos veículos é muito utilizado e fica aquecido, tendo a eficácia comprometida. O risco já havia sido apontado por reportagem da Gazeta do Povo publicada no dia 11 de janeiro.

O relatório da empresa Pamcary avaliou pontos críticos, as condições da rodovia próximo ao local de cobrança e potenciais riscos ao ambiente. O relatório recomenda que os caminhoneiros não trafeguem pelo local entre as 22 e 5 horas. Nos demais horários, apenas veículos com a manutenção em dia podem passar pelo trecho. Além disso, os condutores devem ser experientes e familiarizados com o trecho. "Vencido o longo trecho de serra, a capacidade de parada a 0 km/h torna-se muito mais difícil, pois o sistema de freios ainda encontra-se em temperatura elevada, o que pode dificultar a parada total do veículo na praça do pedágio, que fica logo próximo a uma curva em declive", diz o documento.

Um dos pontos positivos apresentados pelo estudo é que a rodovia está bem sinalizada e a pista está em bom estado de conservação. Por outro lado, além de a praça estar em um local muito próximo a uma curva, há um tráfego intenso de veículos, o trecho é sinuoso e com declives, falta iluminação e a comunicação via celular é falha.

O engenheiro mecânico Rubem Penteado de Melo, que participou do estudo, diz que todos os caminhões perdem um pouco de eficiência na frenagem quando o sistema é exigido constantemente, mas não ficam sem freio. Somente quando a temperatura do sistema ultrapassa 350 graus ocorre um processo chamado "vitrificação", que compromete o bom funcionamento. "Não significa que todos os caminhões vão ter problemas, mas sim que as chances de ocorrer um acidente aumentarão", ressalta. Ele diz que é preciso um estudo mais aprofundado no local para medir a temperatura dos caminhões no pé da Serra e na praça do pedágio.

Melo explica que, nos casos em que há ampla utilização do freio, é preciso que o caminhão percorra no mínimo um trecho em linha reta de 15 minutos, com uma velocidade de 70 km/h, para resfriar o sistema. Isso equivale a um trecho de18 km, considerando uma temperatura ambiente de 20 graus. Se a velocidade permitida for superior a 70 km/h ou a temperatura ambiente for maior que 20 graus é preciso percorrer um trecho maior. "Por isso é preciso um estudo mais detalhado do local", explica.

No dia 11, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou à Gazeta que a responsabilidade sobre a escolha da localização das praças era do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). A assessoria de imprensa do Dnit disse ontem que a responsabilidade é na verdade da ANTT e da concessionária que assumiu o trecho, a espanhola OHL. O Dnit afirma que um estudo foi feito na metade da década de 90 para fazer a duplicação das BRs 376 e 101 e foram sugeridos pontos onde poderiam ser construídas praças. De acordo com o Dnit, se a ANTT e a OHL não fizeram um estudo novo, cometeram o erro de se basear em um relatório defasado, que não previa o volume atual de tráfego intenso.

A assessoria de imprensa da OHL informou que mudar a praça de local é impossível e que a concessionária apenas seguiu as determinações do contrato. Além disso, engenheiros da OHL visitaram o trecho e concluíram que não há grandes riscos. A assessoria diz que há ampla sinalização que possibilita que os motoristas reduzam a velocidade quando se aproximam da praça.

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