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Líder de ONG com bunker do tráfico disse que “nazistas” criticaram visita de Dino à Maré
Em vídeo publicado no perfil da ONG, ex-chefe do tráfico no Complexo do Alemão critica polícia e convida Flávio Dino a ir ao Complexo de Israel| Foto: Reprodução YouTube

José Cláudio Fontoura Piúma, presidente da ONG Multiplicação Social, onde nesta sexta-feira (19) a Polícia Civil do Rio de Janeiro descobriu o funcionamento de um bunker do narcotráfico, deu declarações recentes nas quais classificou como “nazistas” os críticos à visita do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), à favela Nova Holanda, na zona norte do Rio de Janeiro, no dia 13 de março.

Para representantes das forças policiais do estado, o acesso do ministro de Lula (PT) ao local seria inviável sem a autorização de lideranças do Comando Vermelho, que comanda a favela de Nova Holanda. Dino entrou na área dominada pela facção para participar de um evento dentro da ONG Redes da Maré, que mantém atuação de longa data no Supremo Tribunal Federal (STF) para reduzir as operações policiais no Rio de Janeiro.

Para Piúma, que já comandou o tráfico no Complexo do Alemão e atualmente se diz “ex-traficante”, as críticas feitas por pessoas de cunho “nazista” à presença de Dino na Maré teriam a ver com preconceito contra pessoas pobres e marginalizadas. Argumento semelhante foi usado na época pelo ministro de Lula para rebater as críticas.

“Os bolsonaristas fanáticos, lunáticos, nazistas, fazem uma colocação da forma que eles acham melhor para eles, que é ligar o excelentíssimo ministro da Justiça ao crime”, disse o presidente da ONG Multiplicação Social em vídeo publicado no canal oficial ONG dias após a ida de Dino à Maré. Na sequência, ele volta a rotular como nazistas pessoas de viés político divergente ao falar sobre a política em Brasília. Depois, passa a fazer críticas à presença das forças de segurança nas comunidades.

O alvo dos questionamentos de uma série de especialistas em segurança pública na época da visita do ministro de Lula à Maré não tinha a ver com a presença de um representante do poder público em uma comunidade carente, mas às circunstâncias em que isso ocorreu. A região do Complexo da Maré, cujo poder é dividido entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro, acumula diversos episódios de pessoas baleadas ao entrarem no local por engano. Vale destacar que a pasta de Dino comporta a condução da Segurança Pública no âmbito federal, o que o tornaria, em tese, um alvo das facções.

Mesmo assim, o ministro entrou e saiu sem a necessidade de uma operação policial. No dia seguinte à visita, houve o lançamento, pelo governo federal, do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). O evento, que era aguardado como a principal aposta da pasta para engrenar ações de combate à criminalidade, não trouxe nenhuma medida de enfrentamento ao narcotráfico. Pelo contrário, a abertura do evento contou com uma apresentação de representantes da ONG Redes da Maré com críticas às operações policiais.

Líder da ONG do “bunker do tráfico” colocou entidade à disposição para receber Dino

No mesmo vídeo, Piúma colocou sua ONG à disposição para também receber o ministro e apresentá-lo ao local que vem sendo chamado Complexo de Israel, formado por cinco comunidades: Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-pau.

Na operação da última sexta-feira, policiais civis prenderam dez traficantes na sede da ONG presidida pelo rapaz. Também foram localizados fuzis, pistolas e granadas. O local era usado por lideranças do Terceiro Comando Puro para armazenar armas e como esconderijo de traficantes.

Em entrevista coletiva após a operação, o delegado Marcos Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), disse não haver dúvidas de que os responsáveis pela ONG trabalham para o tráfico de drogas da região. "[A construção do esconderijo] foi uma obra de grande vulto. Impossível de se fazer sem que houvesse nuance daqueles responsáveis por essa ONG de fachada. Agora temos materialidade para se colocar no papel que o responsável principal da ONG, que se dizia ter largado o tráfico de drogas, ainda faz parte do narcotráfico. Ele ainda é uma peça fundamental para a organização criminosa", afirmou o delegado.

A Gazeta do Povo entrou em contato com os canais oficiais da ONG Multiplicação Social abrindo espaço para posicionamento. Até o fechamento desta matéria não houve retorno.

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