
Os dois andares do antigo Instituto de Previdência do Paraná (IPE) devem ser usados pelos Juizados Especiais Cíveis de Curitiba por tempo maior do que o previsto em 2009. O Tribunal de Justiça (TJ) está licitando divisórias para as salas de audiência e a reforma do forro em alguns ambientes, necessidades urgentes para a adequação do prédio. Com isso, o uso inicialmente previsto para um ano deve se estender para dois anos e meio ou mais. Os Juizados Criminais, por outro lado, seguem improvisados no saguão do prédio anexo ao TJ desde a interdição da sede da Fernando Amaro, no início de 2009. E a solução indicada pelo próprio órgão pode ser o retorno ao antigo imóvel.
Os servidores se mostram satisfeitos com a atual sede dos Juizados Cíveis, ainda que exista a possibilidade de sobrevida do local "improvisado". "Para quem trabalha em secretaria melhorou. Há mais espaço. Sabemos que não é o adequado, mas está bom", relata Luciana Brasil, auxiliar administrativa da 4.ª Secretaria. Coordenador-geral do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Paraná (Sindijus-PR), José Roberto Pereira considera o espaço longe do ideal. "É indiscutível que existe mais espaço, mas há muita reclamação sobre calor e falta de ventilação", diz. "Mas estão em melhores condições do que os servidores do Criminal", acrescenta.
Justamente as más instalações atuais dos Juizados Criminais colocam o edifício da Fernando Amaro em pauta novamente. O imóvel é considerado ideal por seu amplo espaço horizontal. "A tendência é deixarmos o saguão o mais rápido possível, mas temos dificuldade em encontrar imóvel bem localizado com as características que desejamos. Estamos em fase de estudos, mas existe a possibilidade de retornarmos para a sede anterior", afirma Jederson Suzin, juiz auxiliar da 2.ª vice-presidência do TJ. A proprietária da antiga sede, próxima à Praça do Expedicionário, confirma os entendimentos e afirma que até o fim de fevereiro o prédio estará totalmente pronto para o uso.
Cai tempo de espera por audiências
No ano passado, o cancelamento da gratificação noturna benefício pago aos servidores para a realização de audiências no período da noite e os dois meses em busca de uma nova sede após a interdição da Fernando Amaro causaram atraso aproximado de 10 mil audiências. Atualmente, não se conhece o número de reuniões atrasadas, mas o agendamento está mais ágil do que no ano passado. Neste ano, as secretarias do Juizado Cível marcam audiências para o início de maio, enquanto, no mesmo período de 2009, o prazo já invadia o ano seguinte. "Três meses é um prazo comum em juizados", garante Luciano Campos de Albuquerque, diretor de fórum dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
De acordo com Albuquerque, o número de salas de audiência foi aumentado e existe espaço para todos os servidores trabalharem em computadores simultaneamente, facilitando a vazão de audiências. O "serviço extraordinário", auxílio semelhante à gratificação noturna, voltou a ser pago, agilizando a pauta. O diretor, contudo, afirma que o problema não está na estrutura física. "Na realidade, faltam assessores para juízes. Com pessoas nesses cargos, o trabalho não acumularia tanto", diz. O aumento da estrutura de servidores seria fundamental para dar conta do aumento da demanda pelos Juizados Especiais desde a sua criação, na década de 1990.
O aumento da procura pelos Juizados Especiais colabora para a dificuldade em colocar ordem nas ações atrasadas. A cada ano, registra-se crescimento de processos protocolados no órgão. Em 2006, foram inscritos aproximadamente 24 mil processos: 26,6 mil em 2007 , 27,3 mil em 2008 e 26,9 mil em 2009. A diminuição no ano passado se deve justamente aos dois meses em que a instituição ficou sem sede. "Os Juizados passam por uma síndrome que envolve o sucesso e o fracasso. Eles foram a experiência mais bem-sucedida do Poder Judiciário dos últimos anos. Mas podem fracassar se não houver investimento para dar conta da demanda", explica Albuquerque.
A demanda crescente somada à falta de investimentos em pessoal causa excesso de trabalho. "Não há expectativa para quem entra no juizado. Os salários são baixos, e o trabalho é muito grande", diz Pereira.
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Cronologia
Confira as dificuldades envolvendo os Juizados Especiais de Curitiba nos primeiros meses de 2009:
25 de fevereiro de 2009 Tribunal de Justiça interdita prédio dos Juizados Especiais de Curitiba, localizado na Rua Fernando Amaro. O motivo alegado para a intervenção foi um laudo técnico informando que a estrutura apresentava risco aos usuários. O documento, no entanto, nunca foi divulgado e nem se detalharam os perigos.
26 de fevereiro Sindicato dos Servidores Judiciários do Estado do Paraná (Sindijus-PR) anuncia que 5 mil audiências já estavam atrasadas antes mesmo da interdição.
3 de março Tribunal de Justiça anuncia uso de dois andares do antigo prédio do Instituto de Previdência do Paraná (IPE) como sede temporária dos Juizados Especiais Cíveis. O prédio foi cedido pelo governo do estado. A área criminal dos juizados continua improvisada no saguão do prédio anexo ao TJ até que seja locada nova sede.
12 de março A gratificação noturna bônus que permitia aos servidores receber para realizar audiências noturnas voltará a ser paga a partir de 20 de maio. O benefício possibilita a colocação em ordem da pauta dos Juizados Especiais.
8 de maio Juizados Especiais voltam a operar na antiga sede do IPE.
29 de janeiro de 2010 Juizados Especiais Cíveis devem permanecer no antigo IPE por mais tempo do que se imaginava. Na área Criminal, cogita-se o retorno à sede da Fernando Amaro, prédio que apresenta as características consideradas ideais pelo TJ.
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Interatividade
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