Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Maringá

Empresários pedem veto à criação de feriado para Dia da Consciência Negra

Segundo a Acim, prejuízo para a cidade seria de R$ 27 milhões. Vereador que idealizou o projeto pensa que esta é uma briga entre os detentores do poder econômico e a classe oprimida

Empresários de Maringá estão descontentes com a lei aprovada pela Câmara Municipal que institui um feriado na cidade no dia 20 de novembro, lembrando o Dia da Consciência Negra. O projeto foi aprovado no dia 5 de fevereiro deste ano e agora depende da aprovação do prefeito. Preocupados com os prejuízos econômicos, a Associação Comercial e Industrial da cidade (Acim) pediu ao prefeito Silvio Barros (PP) e também aos vereadores, que vetem o projeto, tornando-o feriado facultativo (não obrigatório).

O presidente da Acim, Adilson Emir Santos, diz que reconhece a importância dos afrodescendentes e concorda que a data deva ser celebrada. "Mas os prejuízos podem ser muito grandes. Pedimos um estudo e verificamos que eles podem chegar a R$ 27 milhões por dia parado. Em novembro já existem dois feriados: Proclamação da República e Finados, com mais um os comerciantes seriam muito prejudicados", ressalta.

Segundo Santos, a Acim fez um pedido para que o prefeito vetasse o projeto. "Ele nos disse que pensaria com carinho no assunto, creio que o projeto será vetado", afirma. Na tarde de terça-feira vereadores se reuniram na Associação Comercial para discutir o assunto. "Nós mostramos a eles os prejuízos que podem ser causados com a aprovação do projeto. Eles não sabiam e se mostraram surpresos. Pedimos que, caso o feriado seja vetado, que eles aprovem a decisão do prefeito", afirma o presidente da Acim.

Para Santos, a melhor saída seria o comerciante poder escolher se fecha seu comércio no dia 20 de novembro. "Em Salvador, onde a raça negra é predominante, o feriado é facultativo, por que em Maringá, onde eles representam 25% da população, não poderia ser igual?", questiona.

Silvio Barros tem até o dia 13 de março para sancionar a lei aprovada pelos vereadores. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o assunto está sendo estudado com cuidado e todos os interessados estão sendo ouvidos pelo Executivo.

Prejuízo de R$ 27 milhões

Um estudo encomendado pela Acim ao Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) afirma que os prejuízos gerados em cada feriado na cidade de Maringá chegam a R$ 27 milhões. Com os 13 feriados previstos em 2009 que serão comemorados durante os dias úteis, os prejuízos seriam de R$ 342 milhões, quase 5% de toda a riqueza gerada na cidade durante o ano.

O coordenador do estudo, professor Joílson Dias, utilizou a metodologia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) como base. Nela, o Produto Interno Bruto (PIB) do município é dividido pelos dias úteis trabalhados, resultando na perda máxima diária.

Dias afirma que também é contra a criação de mais um feriado na cidade. "Não sou contra homenagear os afrodescendentes, mas é importante ressaltar os aspectos econômicos envolvidos. Maringá não é uma cidade turística, vive do comércio e indústria. Nesses dias os serviços públicos essenciais, como hospitais, têm que trabalhar, isso significa aumento de custos para o governo, pois os trabalhadores ganham em dobro", ressalta.

Movimento Afro-descendente alega preconceito

O vereador Humberto Henrique (PT) não acredita nos números apresentados pela UEM. "O cálculo não é tão frio assim. O PIB é o conjunto total dos lucros produzidos no ano, em alguns dias se ganha mais, em outros menos. Geralmente o movimento no comércio dobra nos dias seguintes ao feriado, e isso não é levado em consideração. Além disso, não são todos os que fecham as portas: existem os shoppings e os setores de lazer, que têm um crescimento econômico no feriado", rebate.

Para o vereador, essa é uma briga entre os detentores do poder econômico da cidade e a classe oprimida. "Não querem reconhecer a importância histórica do negro e nossa dívida para com eles", afirma.

Para o vereador, o fato da Prefeitura enviar um projeto instituindo o Festival da Consciência Negra em regime de urgência para a Câmara demonstra apenas a intenção do Executivo em não criar um mau estar com a comunidade negra, caso o feriado seja vetado.

O presidente da Comissão de Direitos da Promoção da Igualdade Racial de Maringá, Paulo Bahia, o feriado é importante para trazer a reflexão necessária à população sobre a importância desse povo para a formação da sociedade brasileira. "Foram séculos de escravidão e exploração desumana. As pessoas parecem querer esquecer esse período. O dia 20 de novembro ajudaria a trazer uma reflexão maior à sociedade sobre a importância das políticas sociais para os afrodescendentes e um reconhecimento das injustiças cometidas", afirma Bahia.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.