Membro da entidade não governamental Viva Rio e coordenador do projeto Viva Comunidade, Tião Santos defende o desarmamento, a gestão integrada, a ocupação do espaço do Estado e ações da comunidade para prevenir a violência. Para ele, a ocorrência de chacinas mostra a banalização da vida, já que, para seus autores, matar uma ou várias pessoas não tem diferença.
O que motiva a ocorrência de chacinas?
A tecnologia que se tem hoje criou um poder bélico sem precedentes. Um fuzil mata mais pessoas, em uma mesma ocasião, do que um revólver 22, por exemplo. Muitos dos assassinatos em série não têm motivos, matam pelo prazer de matar e mostrar o poder de quem mata. A certeza da impunidade é outro fator relevante.
Você acredita que esse tipo de crime é estigmatizado?
Sim, as chacinas acontecem nas áreas mais pobres das cidades. Porém, morar em favela não significa envolvimento com o tráfico. Hoje no Brasil a pessoa portar droga não é crime. No entanto, se a polícia abordar alguém em áreas vulneráveis, o sujeito é taxado como traficante. Se for em outras áreas, é usuário.
Qual o papel da população nesses casos?
O sensacionalismo presente nessas tragédias acaba tornando as chacinas comuns para a população. Assim, os crimes deixam de ser importantes. Veja o caso do menino João Hélio (morto aos 6 anos, em fevereiro de 2007, depois de ser arrastado por 7 km preso ao cinto de segurança do veículo de sua mãe, durante um assalto). A sociedade se mobilizou e pediu justiça. Na favela, as coisas não têm a menor atenção e muitas vezes nem ganham espaço na mídia. É mais um caso.
O que fazer para inibir a ocorrência de chacinas?
No Brasil, vem se falando muito em desarmamento. É preciso que a própria polícia também tenha controle. Atualmente, temos uma polícia que atira à toa. Os territórios vulneráveis têm de ter mais presença do Estado, mas não só da polícia armada atirando, e sim de projetos que busquem a melhoria de vida nesses locais.
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