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Apesar da legislação estadual do Rio de Janeiro determinar que os fígados marginais (fora da normalidade) devem ser analisados por uma câmara técnica, o médico Joaquim Ribeiro Filho, em interrogatório na 3ª Vara Federal Criminal, afirmou que sua equipe tinha autonomia para dizer se o órgão "vai ser usado ou não, nesse ou naquele paciente". Mesmo assim, ele disse que não considera ter furado a fila e criticou o Sistema Nacional de Transplantes, que, segundo ele, capta menos de 20% de fígados do que poderia.

Foi a primeira vez que o acusado, referência em transplantes de fígado, apareceu em público depois de ter sido preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Fura-Fila. Ele demonstrou segurança nas respostas, contestando cada uma das acusações. Chegou a interromper algumas vezes o juiz Lafredo Lisboa para soletrar os termos técnicos e ditar a pontuação para o escrivão. O cirurgião responde a processo por peculato (desvio de órgão) em três casos de transplantes.

Durante as mais de três horas de interrogatório, Ribeiro Filho deu a sua versão para cada um dos três casos em que é investigado. No primeiro, em 2003, o Ministério Público (MP) o acusa de ter privilegiado o irmão do ex-secretário de Transportes Jaime Ariston, 32º da fila. De acordo com o cirurgião, o órgão era marginal e, nesse caso, só os doentes muito debilitados e sem chances de conseguir um fígado a curto prazo aceitam recebê-lo. Ele disse ter oferecido o órgão a outros pacientes que estavam na frente da fila, inclusive aos do Hospital Geral de Bonsucesso.

No caso de Carlos Augusto Arraes, filho do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, o médico explicou que o paciente era o 62º da fila, mas tinha uma liminar da Justiça de Pernambuco que o colocava como prioridade na lista nacional. O MP afirmava que Arraes não poderia ter sido inscrito na fila de espera porque possuía um tumor maior do que cinco centímetros. Mas Ribeiro Filho disse que ele foi inscrito como portador de "cirrose hepática do tipo C Shield-Tugh 7, o que garante sua inscrição independente de complicações" e, seguindo ele, o tumor é uma das complicações.

No terceiro caso, que não chegou a ser concretizado, a Central de Transplantes interceptou o fígado, que a equipe de Ribeiro Filho havia classificado como marginal, e, após exame laboratorial, constatou que o órgão estava normal. Segundo o cirurgião, a classificação seguiu o protocolo médico, já que durante a captação aconteceram três paradas cardíacas, o que, em tese, compromete a vascularização. Com ironia, ele comentou que, ao enviar o órgão para testá-lo, perdeu-se o fígado.

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