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O sargento bombeiro Luiz Carlos dos Anjos, o Lira, 43 anos, mal dormiu na madrugada de ontem. Acordou às 5 horas para voltar ao Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, no centro do Rio, e retomar o trabalho que a volta da chuva forte e outros deslizamentos na encosta o obrigaram a interromper na noite anterior. O bombeiro queria voltar para o que havia restado da Rua Gomes Lopes. Ele tinha que continuar cavando no local de onde o menino Marcus Vinicius Vieira da França da Matta, 8 anos, gritava pedindo por ajuda, desde a manhã de terça-feira, quando foi soterrado por uma avalanche que destruiu mais de dez casas da comunidade. O sargento dos Anjos cumpriu sua missão. Encontrou a criança por volta das 10 horas, mas ela estava morta.

Muito emocionado, o bombeiro retirou o corpo de Marcus Vinicius do meio dos destroços e, com a ajuda de colegas, o envolveu numa manta. A poucos metros dali, Valmir França da Matta, o pai do menino, aguardava ansioso o fim da operação. No dia anterior, ele havia acompanhado os trabalhos de resgate desde que os primeiros gritos abafados de seu filho foram localizados debaixo da terra. Ao perceber que os bombeiros traziam um corpo sem vida, Valmir se desesperou. Levou as mãos à cabeça e chorou muito. Foi amparado pelos mesmos homens que tentaram salvar Marcus Vinicius durante horas. Todos choraram muito.

"Criança sensibiliza mais. A gente cria um laço afetivo com os pais, luta com mais afinco para conseguir salvar. Mas a dor que a gente sente toda vez que localiza alguém já sem vida é grande demais", explicou dos Anjos, para depois resumir a importância de sua atividade. "Travamos uma luta diária pela vida e não contra a morte", disse o bombeiro, ressaltando a importância da atuação de cada um dos colegas. "Sou apenas mais um. Todos lutamos juntos."

Uma tia do garoto, Raquel Brito Silva, contou que o sobrinho estava na casa dos pais, na mesma comunidade, meia hora antes do ocorrido. Ele teria saído para a casa de uma outra tia, o endereço atingido pelo deslizamento, por causa de uma rachadura em sua casa. O desabamento atingiu ele, a tia Ana Lúcia da Silva (cujo corpo estava abraçado ao do sobrinho) e a tia Geucilanda da Silva, 42 anos, que ainda está desaparecida.

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