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“Brasil se acostumou com teatro macabro de superpoderes de Moraes”, diz Monark
Na última quinta-feira (15), Moraes determinou o bloqueio de todos os canais digitais de Monark e o proibiu de criar novos perfis| Foto: Reprodução Monark Talks

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou censura prévia contra o influenciador Monark, um crítico de longa data do ministro e de decisões consideradas abusivas do órgão máximo da Justiça Eleitoral. Esta é a terceira ordem de censura direcionada ao influenciador vinda do gabinete do ministro.

Como mostrado pela Gazeta do Povo, servidores do TSE monitoraram os episódios do podcast Monark Talks para apurar a ocorrência de críticas ao órgão e remeteram a Moraes trecho de um episódio em que o influenciador fazia críticas à postura considerada autoritária de Moraes e do TSE mesmo após o fim do período eleitoral. Em reação, o ministro determinou o bloqueio de todos os canais digitais de Monark e o proibiu de criar novos perfis.

Na prática, o influenciador, que desde 2009 atua como produtor de conteúdo digital e até hoje tem sua renda vinda dessa atuação, ficaria banido da internet. No entanto, a “salvação” do influenciador vem da plataforma de vídeos Rumble, onde seu podcast está hospedado. Fiel a seus princípios que prezam a liberdade de expressão, a plataforma não acatou a ordem de Moraes para o bloqueio e manteve o canal ativo neste link.

Mas as retaliações contra o crítico de Moraes podem estar ainda longe do fim: por ordem do ministro, Monark será ouvido pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira (20). Em nenhuma das decisões proferidas, seja na ordem de censura, ou na determinação à PF para colher depoimento, o ministro especificou quais crimes o apresentador é suspeito.

Veja a seguir entrevista exclusiva da Gazeta do Povo com Monark:

Como resultado da censura prévia, você foi silenciado em todas as redes sociais. Como avalia essa decisão de Moraes?

Monark: No Brasil, não existe crime de opinião. Mas hoje vivemos aqui, e isso já há algum tempo, uma ditadura do Judiciário – isso está claro para todo mundo que entende alguma coisa sobre como um Estado Democrático de Direito deveria funcionar.

O Alexandre de Moraes, além de estar implementando censura, o que é vedado pela Constituição, desrespeita as normas de condução de um processo. Ele criou um inquérito em que pode ignorar o Ministério Público e pode ser a vítima, o acusador e o juiz, tudo ao mesmo tempo.

O Brasil meio que se acostumou com esse teatro macabro em que você tem um ditador superpoderoso que usa esse superpoder para controlar o Congresso e o Executivo. E a gente fica aceitando isso enquanto ele vai cada vez mais se tornando autoritário, começa a prender pessoas, calar jornalistas e mídias, se tornando efetivamente o imperador do Brasil.

Como a Gazeta do Povo mostrou com exclusividade, servidores monitoravam seu canal para identificar críticas ao TSE. Como avalia esse monitoramento do Estado ao seu podcast?

Monark: Não surpreende em nada. A Justiça eleitoral virou a KGB do Brasil, a KGB do Moraes. Ele criou um Estado paralelo no Judiciário e agregou funções para esse estadinho, de polícia, de investigação, de controle de mídia, de decidir quais parlamentares vão ter mandato ou não. Ou seja, ele virou o grande poder moderador de tudo, que regula tudo e decide tudo com táticas fascistas.

Quais são os impactos, inclusive financeiros, desses bloqueios aos seus canais?

Monark: O principal é que reduz meu alcance, mas também não vou mais ganhar dinheiro com o AdSense [recurso de publicidade que permite remunerar produtores de conteúdo] de outras plataformas. E no final, vou ter que criar novos canais e reconstruir a audiência do zero, que é o que tenho feito sempre, porque não é a primeira vez que sou censurado, já é a terceira.

Mas ainda tenho contrato com o Rumble, o que me garante uma segurança financeira. Então, por mais que o Moraes diminua o quanto eu ganho, ele não consegue secar 100% da minha renda.

O Rumble é uma plataforma que nasceu justamente como uma reação a esse autoritarismo crescente nas redes sociais no mundo todo, onde empresas gigantes ou o Estado, como acontece aqui no Brasil, querem controlar o que a população pode ou não pensar e falar. A filosofia deles é a de nunca censurar opiniões ou ideias.

O Moraes agora pediu que a PF tome seu depoimento. Você não tem receio de acabar preso, como têm acontecido com tantos outros críticos do ministro?

Monark: Tenho medo sim. Mas qual é a solução? Ficar calado? Parar de falar a verdade? Mentir para o meu público? Me omitir? Eu não sei, mas com essas alternativas eu acho que talvez prefira ser preso.

Você tem recebido apoio, especialmente após esse último episódio de censura?

Monark: Tenho recebido muito apoio, de verdade. Foram muitas pessoas que vieram falar comigo. E por incrível que pareça, tive um apoio na grande mídia, com editoriais de jornais me defendendo, e outros veículos repercutiram de forma parecida. Isso foi interessante e é um pouco surpreendente. Talvez a mídia esteja tentando impedir que o que eles criaram se torne futuramente um problema para eles mesmos.

Mas é interessante ver que finalmente está havendo uma reação, tem mais gente vendo falando que o Moraes passou dos limites. E passou dos limites faz tempo. Se a gente aceita que ele passe dos limites, significa que a gente aceitou o fim da nossa Constituição e da nossa democracia.

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