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| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Interior

Hélio Strassacapa, Jornal de Maringá Online

Em outras regiões do estado, o fenômeno da metropolização, a exemplo do que ocorreu com Curitiba a partir da década de 1970, tornou-se mais visível nos últimos anos, quando cidades de médio porte iniciaram o processo de conurbação com os municípios vizinhos. Segundo o Ipar­­­des, as riquezas produzidas nesses conglomerados urbanos ficam concentradas nas cidades polo.

Em 2007, Maringá, por exem­­­plo, apresentava PIB per capita de R$ 18.914, enquanto nas vizinhas Paiçandu e Saran­­­di o valor caia para R$ 5.766 e R$ 5.658, respectivamente. A explicação para o fenômeno está na tese de doutorado da socióloga Ana Lúcia Rodrigues, coordenadora do Observatório das Metró­­­poles, da Universi-dade Esta­­­dual de Maringá. A raiz desse processo, na visão dela, está na especulação imobiliária. As cidades polo enfrentam forte alta no valor dos imóveis, e assim a população de baixa renda não tem opção se não migrar para os municípios periféricos. "Achamos um caminho de jogar nossos problemas para os vizinhos. Cas-cavel, por exemplo, não tem uma região metropolitana que incorpore a sua problemática."

Déficit habitacional e ocupação irregular. Dois problemas próprios de qualquer cidade com mais de 1 milhão de habitantes, segundo urbanistas. No Brasil são cerca de 30 cidades des­­se porte. Ao olhar para o caos de São Paulo – são 1.565 favelas, 1.152 loteamentos irregulares e 1.885 cortiços –, a problemática cu­­ritibana pode parecer pequena, mas não é. Somam, hoje, na capital paranaense 207.754 pessoas vi­­vendo em 254 ocupações irregulares, em um total de 9,8 quilômetros quadrados – em São Paulo só as favelas ocupam 24 quilômetros quadrados. Além das famílias em situação irregular, são 65 mil pessoas inscritas nos programas da Cohab Curitiba, à espera de moradia.Há três anos, o lançamento do Programa de Aceleração do Cres­­cimento (PAC) e, mais recentemente, do "Minha Casa, Minha Vida", trouxeram alguma esperança a essas famílias, que ganham, na maioria, até três salários mínimos e eram desassistidas pelos programas habitacionais anteriores. "Apesar das muitas críticas a esses programas, eles significam o início de uma política habitacional que busca atender uma faixa de trabalhadores que não interessa ao mercado privado", frisa a cientista social e pesquisadora da Rede Observatório das Metrópoles, Celene Tonella. Ela lembra que instrumentos legais disponíveis, como o Estatuto das Cidades, estariam ainda subutilizados.

Curitiba teria ainda uma particularidade cruel: é uma cidade pequena (435 quilômetros quadrados) e com terrenos cada vez mais caros. Nesse aspecto, São Pau­­lo tem mais condições de resolver o problema no seu próprio quintal que Curitiba. A capital paranaense começaria a depender da cooperação da região metropolitana para resolver a questão da habitação. "Não há uma deliberada exportação de problemas, mas, por ter essa particularidade do tamanho, boa parte das atividades, como o lixo, o aeroporto e as indústrias, têm mesmo de se instalar fora de Curitiba", lembra a doutora em Geografia e professora da Universidade Fe­­deral do Paraná, Olga Lúcia Castre­­ghini de Freitas Firkowski.

O presidente da Cohab Curitiba, João Elias de Oliveira, aponta a falta de vontade política para resolver a questão da habitação em conjunto com a região metropolitana. "Nós temos apenas quatro ou cinco áreas de reserva, por isso considero nosso estoque de terrenos quase nulo. Ao mesmo tempo temos permissão para trabalhar também na região metropolitana e em Paranaguá, mas nossa atuação é zero nessas regiões. Nas cidades vizinhas, as áreas são mais baratas, mas e a vontade política para resolver isso em conjunto?" Oliveira aponta também a busca por tecnologias construtivas mais baratas como alternativa para a fila da Cohab não empacar. Pre­­tende, no início do ano que vem, reativar a Vila Tecnológica, no bairro Sítio Cercado, que hoje é repleta de modelos construtivos obsoletos. Recebe cada vez mais visitas de empresários e técnicos, com novas formas de construir e quer implantar na Vila, como exemplo, ao me­­nos três dos últimos modelos apresentados a ele.

Em São Paulo, talvez pela maior necessidade e pelo nível de industrialização – a cidade é palco dos maiores eventos de tecnologia de construção da América Latina –, novos métodos chegam em larga escala às habitações populares, vencendo desafios como a viabilidade de obras em terrenos em declive e permitindo uma certa personalização do lar, mesmo para as famílias de baixa renda. Na reurbanização da segunda maior favela da capital paulista, Paraisópolis, onde vivem 18 mil famílias, qualquer parede dos mais de 900 apartamentos quase finalizados pode ser derrubada, permitindo integração de espaços e outras soluções. Por aqui, a regra ainda são casas de alvenaria comum, mais lentas de se construir.

Vida Cultural

Em termos de oferta de cultura uma comparação entre Curiti-ba e São Paulo seria injusta. Afi-nal, a capital paulista é a principal cidade do país, a referência nacional para qualquer artista internacional. Mas quando o assunto é qualidade e variedade, muita coisa melhorou por aqui. O ator e músico André Abujamra, paulistano que mora em Curitiba há quase quatro anos, ressalta a qualidade da música da capital paranaense. "Traba­­lhei com muitos músicos ao redor do mundo e posso dizer de boca cheia que os de Curitiba são maravilhosos. Tanto que o meu produtor (Sergio Soffiati) é curitibano e eu não troco ele por nada."

A cidade está bem servida de bares, restaurantes e teatros, e criando pontos de concentração desses espaços, como o entorno da Praça Espanha ou "Batel Soho", fenômeno parecido com o que ocorre na região do Jardins, em São Paulo.

O que falta? Em uma cidade que se propõe a ser vanguardista em tantos aspectos, um espaço fechado e adequado para os grandes shows. "Apesar do carinho que as pessoas têm pela Pedreira (Paulo Leminski), Curitiba carece de um espaço fechado assim", diz a produtora Verinha Walflor, com 40 anos de carreira.

É visível também o aumento do número de bares e restaurantes na cidade, de uma variedade, aliás, muito parecida com São Paulo. "De dez anos para cá, Curitiba conseguiu manter o atrativo da tradicional culinária italiana e agregar as cozinhas clássicas e contemporâneas. Também passamos a ser um centro formador e exportador de mão de obra do setor. Desde 2000 formamos cerca de 1,4 mil chefs de cuisine", diz o diretor acadêmico do Centro Europeu, Rogério Gobbi.

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