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A população de Tabatinga (AM), localizada na fronteira do Peru com a Colômbia, recebe da melhor forma possível os haitianos que chegam à cidade. Sem auxílio do governo ou de grandes organizações não governamentais, os imigrantes sobrevivem graças à caridade dos moradores.

Os haitianos começaram a entrar no Brasil por Tabatinga no início do ano passado. Segundo dados da Polícia Federal, 769 imigrantes solicitaram vistos como refugiados até a sexta-feira (11). Na segunda-feira (14), o delegado Alexandre Rabelo explicou que os pedidos de vistos não seriam mais aceitos. Cerca de 300 haitianos ainda permanecem na cidade, porque não têm dinheiro para seguir para grandes centros. E a cada dia novos grupos chegam.

O G1 percorreu as ruas de Tabatinga para conversar com moradores. Todos se mostraram receptivos aos estrangeiros.

O motorista de ambulância Arnaldo Rios Marinho conta que foi procurá-los para oferecer trabalho temporário.

"Eu levei dois para passar um dia trabalhando no meu sítio. Carpiram o mato, ajudaram a arrumar algumas coisas quebradas. Só não deixei os dois lá, porque é um pouco longe da cidade e uso só como casa de veraneio, mas trabalharam direitinho. Vou precisar de um pedreiro e vou procurar um haitiano. Eu mesmo poderia fazer o serviço, mas é um jeito de ajudar esse povo", diz.

A dona de casa Rosângela Inês Silva mora na Avenida da Amizade, a principal rua de Tabatinga, e vê quando os grupos passam pedindo emprego aos comerciantes. "Eu sempre vejo quando eles param embaixo de uma árvore, perto da Polícia Federal. Eu tenho vontade de ir lá oferecer almoço para eles, mas fico com medo de ofender. Não quero deixar ninguém envergonhado, mas dá a impressão que estou chamando de mendigo. Quando alguém pede, eu sempre tenho comida", afirma.

Dona de uma loja de material de construção, Andreia Albano também não oferece emprego. "Tem alguns que são estudados, fico constrangida em oferecer um serviço que não seja para o nível deles. Há 15 dias, dois vieram aqui e descarregaram uma carreta de material. Eram bem sérios e trabalharam bem. Terminaram o trabalho, receberam e foram embora", diz.

Ela conta que tem dificuldade para entendê-los por causa do idioma. "Eu não consigo entender o que falam em português, ainda falam muito enrolado. E não sei inglês nem espanhol, então a comunicação é difícil."

Carregador do porto de Tabatinga, Robson Parzanhano até poderia considerar os haitianos uma ameaça, já que eles também se oferecem para a função para ter algum dinheiro. Mas, ao contrário, ele incentiva os haitianos a trabalhar e ainda dá bronca quando eles cobram muito barato.

"Tem dois meninos que carregam direto aqui com gente e são muito legais. Não são ignorantes, fazem brincadeiras com todo mundo e não gostam de confusão. O único problema é que cobram R$ 2 ou R$ 3 para carregar, mas nosso preço é R$ 5. Se eles cobram muito barato, o pessoal começa a abusar e paga cada vez menos para todo mundo. Eles tinham até que cobrar mais caro, porque falam francês", diz.

Vendedor de passagens do barco que faz o trajeto entre Tabatinga e Manaus, Rychards Vieira da Silva conta que já se acostumou com haitianos pedindo para fazer desconto. Mesmo sem dinheiro, Rychards garante que eles sempre negociam com calma e educação.

"A gente vê que são simples e trabalhadores, mas estão em uma situação difícil. Eles fazem qualquer serviço em troca de dinheiro e até de roupas."

O professor de matemática Delson Rodrigues de Melo explica que gostaria de ajudar mais. "Se eu tivesse onde colocar, eu até abrigaria alguns, porque a situação da maioria é muito crítica", afirma.

Como ressaltou o chefe da Polícia Federal de Tabatinga, Alexandre Rabelo, os haitianos não foram cooptados para o tráfico de drogas, que é um dos maiores problemas da região da fronteira. Conforme o delegado disse ao G1 na segunda-feira (14), desde que começaram a chegar há um ano, nunca foram registrados crimes de tráfico de drogas ou outros problemas envolvendo os haitianos.

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