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Alguns flagrantes do último fim de semana foram feitos por equipes de tevê e populares. Houve arrastões na praia e também em ônibus da zona sul do Rio. | Reprodução/TV Globo
Alguns flagrantes do último fim de semana foram feitos por equipes de tevê e populares. Houve arrastões na praia e também em ônibus da zona sul do Rio.| Foto: Reprodução/TV Globo

Moradores da zona sul da cidade do Rio de Janeiro e adolescentes que praticam arrastões prometeram, nas redes sociais, um embate à beira-mar neste fim de semana. Os jovens de favelas da zona norte ameaçam levar facas para a praia. Já os justiceiros querem combatê-los munidos de objetos caseiros, como fitas adesivas (para “algemar”) e paus de barracas de sol (para bater). Na tentativa de evitar os roubos e impedir a ação dos “defensores”, a polícia anunciou a montagem, neste sábado (26) e domingo (27), de 34 barreiras para revistar ônibus que vão à zona sul e o reforço na segurança com 700 policiais. A previsão meteorológica para o sábado é de 40° C.

Moradores mais exaltados, alguns frequentadores de academias, organizados em grupos de Whatsapp e do Facebook, marcaram pontos de encontro para seguirem juntos até a praia. “Eles crescem em bando, vamos em bando também”, escreveu um. “Ninguém vai apanhar quieto. Se vierem de pau, a gente vai de faca”, disse um dos integrantes do “coreto”, como se intitulam os adolescentes que cometem assaltos na zona sul.

Os ônibus que fazem o trajeto zona norte-Ipanema ou Leblon se tornaram símbolo da crise nas praias. O 474 parte do Jacarezinho, complexo de favelas da zona norte em que vivem 40 mil pessoas; 40% delas com renda mensal entre meio e um salário mínimo. A região já foi conhecida como uma das mais violentas da cidade. Em 2012, recebeu uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Os confrontos entre policiais e traficantes diminuíram, mas a relação de moradores com a polícia continua tensa. Num dos episódios mais graves, três PMs foram denunciados à Justiça pelo estupro de duas mulheres e uma adolescente durante batida policial em agosto de 2014.

“A chamada pacificação trouxe muita expectativa para os moradores, houve muita promessa. Mas nada de concreto foi feito. Não tem creche aqui dentro, as crianças ficam na casa de uma vizinha. Não tem UPA aqui dentro. O lixo não é recolhido nas casas, só na rua principal. A meninada continua solta nas ruas, sem perspectiva de vida. É muito evidente que essas ações na praia são uma busca por visibilidade. Esses jovens querem ser vistos”, disse o padre Dário Ferreira da Silva, de 63 anos. Ele chegou à favela em 2011, quando os tiroteios frequentes o obrigavam a fechar a escola que atende a 500 alunos do ensino fundamental. “Isso já não acontece mais.”

A aposentada Andreia Lopes, de 65 anos, que mora há 48 no Jacarezinho, discorda. “Criei meus três filhos aqui e nenhum deu para bandido. Um é piloto de avião em São Paulo, outro tem uma lanchonete e o terceiro, uma padaria. A polícia tem mais é que parar os ônibus e pegar esses garotos que estão roubando cordão na praia”, defendeu.

Os jovens do chamado “coreto” costumavam exibir nas redes sociais cordões, relógios e celulares roubados na praia. Os perfis foram desativados e os grupos se tornaram fechados. Também publicam funks no Youtube. “Coreto está na pista fazendo sua missão/Arpoador, Ipanema, Copacabana e Leblon/Os sementinha (sic) do mal, você sabe como é / É o menor da Mangueira e os mano (sic) do Jacaré. (...) / Então eu vou te dizer, neguinho, não se iluda. / Nós só quer (sic) magnata da Barra da Tijuca”. Tanto o Jacarezinho quanto a Mangueira, também na zona norte, têm o tráfico dominado pela facção Comando Vermelho (CV).

Leonardo, de 19 anos, morador do Jacarezinho, se revolta com a atuação dos justiceiros. “Eles vieram batendo com mão, com pau, quebrando janela de ônibus. Se fosse (sic) nós, tava agarrado (preso).” Ele conta que costuma participar do “blocão”, como também são chamados os grupos de adolescentes que vão para a praia fazer arrastão. “A gente vai pra curtir a praia. Quando a polícia começa a sufocar, a gente junta uma galera e parte pra dentro (dos banhistas). A polícia é que começa”, afirmou.

Ele disse que já apanhou nas abordagens policiais nos ônibus. “Eles já entram batendo. Bate em nós, bate nas meninas, bate nos menor que não são do coreto (sic). Isso não é respeito. Isso que revolta a gente, bater em inocente.”

O policial civil Maurício Bellini, de 43 anos, que publicou texto no Facebook defendendo que síndicos de edifícios neguem para a polícia imagens do sistema de câmeras que mostrem justiceiros atacando suspeitos nas ruas, disse que o objetivo do grupo não é “cometer crimes”, mas afirma que “matar seria legítima defesa”.

“A polícia está impedida de trabalhar na sua essência. (Os adolescentes) vêm sem um tostão no bolso, já cometendo o crime de pular a roleta, perturbando o sossego alheio, quebrando o ônibus dentro da viagem. Vêm com o único objetivo de assaltar. Quando eu digo que gostaria que desligassem as câmeras dos prédios, era para motivar a tropa a fazer alguma coisa. Não é que fossem matar. Mas matar seria até uma condição de legítima defesa.”

Por conta dos arrastões e dos confrontos com os grupos de moradores organizados, a Secretaria de Segurança antecipou a Operação Verão. Aos fins de semana, 700 policiais militares e 300 guardas municipais reforçarão o policiamento - entre eles, profissionais de batalhões especiais da PM, como o Choque, Ações com Cães, Grandes Eventos e Polícia Montada. Os ônibus passarão por 17 pontos de bloqueio pela manhã e outros 17 à tarde. Três delegacias vão atuar com equipes de reforço: 12ª DP (Copacabana), 13ª (Ipanema) e 14ª (Leblon).

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