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Martins (à esquerda) chegou a ficar preso por duas semanas, mas foi beneficiado por um habeas corpus | Domingos Peixoto/ Agência O Globo
Martins (à esquerda) chegou a ficar preso por duas semanas, mas foi beneficiado por um habeas corpus| Foto: Domingos Peixoto/ Agência O Globo

Exclusivo: relatórios explicam porque coronel foi indiciado

A Gazeta do Povo teve acesso, com exclusividade, aos relatórios de conclusão dos inquéritos policiais. Neles, o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos diz estar demonstrado que "o suspeito cometera tais homicídios, consumados ou tentados, ora sozinho, ora na companhia de uma segunda pessoa, que não foi identificada até o momento".

A conclusão está embasada em depoimentos de testemunhas e em reconhecimentos fotográficos realizados ao longo das investigações. "As inferências de que tais pessoas estariam drogadas ou alcoolizadas quando dos crimes (...) não servem para afastar os indícios (...). Admitir-se-ia eventual equívoco ou incerteza caso fosse um único reconhecedor. Mas, conforme se verifica, foram vários os reconhecedores, em vários crimes", assina o delegado. " Não se concebe que tais reconhecimentos tenham sido meras coincidências, muito menos que se tratasse de um "complô" para envolver um suspeito", complementa.

Em relação às testemunhas de defesa apresentadas pela defesa, o delegado avalia que "há de se ter certa cautela". De acordo com o relatório, as pessoas não souberam precisar o horário em que estiveram com o ex-comandante no dia dos crimes. "E, também porque são pessoas do relacionamento muito próximo do suspeito e/ou de seus familiares, a ponto de frequentarem a residência em horários diversos, sendo que deverão ser tidas apenas como mero declarantes", avalia.

Rebatendo alegações da defesa do coronel de que os procedimentos de reconhecimento seriam inválidos, o delegado garante que a polícia nunca permitiu a exposição pública do coronel. "Ressalte-se que as declarações feitas pelo suspeito à imprensa assim o foram de forma espontânea, e por sua exclusiva iniciativa", diz o relatório.

Perícias

O relatório menciona que a arma apresentada pelo coronel não é a mesma usada nos crimes, mas ressalta que isso "não exclui sua suposta autoria". "Se é verdade que os projéteis retirados dos corpos das vítimas, assim como as cápsulas apreendidas no local, não conferem com a arma que foi apresentada pelo suspeito, também não é menos verdade que o suspeito possa ter se utilizado de uma outra arma", argumenta.

O delegado ressalta que a perícia comprovou que os dois últimos crimes, ocorrido no dia 1º e 14 de janeiro deste ano, foram cometidos com a mesma arma. "Isso demonstra, ao menos indiciariamente, e quanto a estes dois locais, que os crimes vinham sendo praticados pela mesma pessoa", conclui.

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) determinou que sejam realizadas novas diligências nas investigações sobre uma série de assassinatos atribuídos ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins. Paralelamente, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) sugeriu que os novos procedimentos sejam realizados por um delegado especial, indicado pelo grupo. Martins foi indiciado por nove homicídios e quatro tentativas, ocorridos entre agosto de 2010 e janeiro deste ano, na chamada Favela da Rocinha, no bairro Boqueirão, em Curitiba.

A cota do MP-PR foi recebida na quarta-feira (23), pelo Departamento da Polícia Civil. Assinado pelo promotor Marcelo Balzer Correra, da Vara do Tribunal do Júri, o documento pede que seja feito o reconhecimento fotográfico de dois policiais militares, que atuaram na área em que os crimes ocorreram. Ao longo das investigações, a defesa sugeriu que os assassinatos teriam sido cometidos por um PM. O procedimento já havia sido realizado: a Delegacia de Homicídios (DH) apresentou fotografias dos policiais a testemunhas e moradores do local, mas os policiais não foram reconhecidos.

O promotor também quer que a polícia elucide em que momento das investigações as suspeitas começaram a recair sobre o ex-comandante dos Bombeiros. Em novembro do ano passado, dias depois de um duplo homicídio, testemunhas reconheceram o coronel em fotografias. Em janeiro deste ano, um homem que teria sobrevivido a um dos ataques também apontou Martins. A partir disso, a polícia pediu a prisão do suspeito, que ficou detido por 19 dias.

Gaeco quer conduzir investigações

Apesar de o promotor do Gaeco, Vani Bueno, ter sido designado para acompanhar as investigações, o grupo pediu, por meio de ofício, que um delegado especial do órgão conduza os novos procedimentos. O Departamento da Polícia Civil ainda não se manifestou sobre a solicitação. O coordenador estadual do Gaeco, Leonir Batisti, disse que o objetivo do órgão em conduzir as diligências é dar mais transparência aos trabalhos. "O promotor designado não acompanhou integralmente todos os passos do inquérito policial. Seria importante às investigações", disse.

A defesa do coronel Martins já havia sugerido que o Gaeco conduzisse as investigações, alegando que o caso envolvia a participação de integrantes de corporações policiais. O Gaeco, no entanto, negou o pedido. "Pegar um inquérito andando pode criar uma série de problemas. É como se você estivesse deslustrando o trabalho anterior", observou Batisti.

O caso

Os cinco inquéritos foram concluídos em outubro e o coronel Jorge Luiz Thais Martins foi indiciado por nove homicídios e quatro tentativas. Os crimes ocorreram entre 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Foram cinco ataques (quatro duplos homicídios e um homicídio simples) que, segundo a polícia, obedeceram à mesma dinâmica: foram cometidos na madrugada, muito próximos um do outro (na chamada "Favela da Rocinha"), e as vítimas eram usuários de entorpecentes ou estavam em pontos de consumo.

Os ataques foram cometidos próximo do ponto onde o filho de Martins foi morto em uma tentativa de assalto, em outubro de 2009. Os crimes começaram a ocorrer semanas depois que dois suspeitos pelo assassinato do filho do coronel – e que seriam usuários de drogas – foram postos em liberdade.

O ex-comandante dos Bombeiros responde pelos crimes em liberdade. Ele chegou a ficar preso por 19 dias, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, mas foi posto em liberdade graças a um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). No dia 14 de outubro, Martins concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, em que deu sua versão sobre o caso e afirmou nunca ter usado arma.

Vida e Cidadania | 14:52

Em entrevista exclusiva, concedida à Gazeta do Povo, o ex-comandante Corpo de Bombeiros, Jorge Luiz Thaís Martins, se defende das acusações e nega envolvimento com assassinatos ocorridos no bairro Boqueirão, em Curitiba.

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