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Movimento surgiu em subúrbio inglês

Os skinheads surgiram em meados da década de 60, nas regiões suburbanas de Londres, na Inglaterra. No princípio, ainda não havia racismo ou conotação política e o objetivo dos skins era beber, brigar contra tribos rivais e acompanhar seus times de futebol.

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Ficha corrida

Ataques racistas e agressões a homossexuais e travestis em Curitiba são características da atuação dos skinheads na capital.

Dia 20/09/2005 – diversos adesivos com a mensagem "Mistura racial? Não, Obrigado!" e tinham a assinatura "Orgulho Branco" foram espalhados por Curitiba. No mesmo dia, foram distribuídos também adesivos contra o homossexualismo, com mensagens como "Homossexuais afrontam a natureza" e "Homossexuais molestam crianças", assinados pelo grupo "Frente Anti-Caos".

Dia 26/09/2005 – policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) prenderam 11 integrantes da quadrilha de skinheads, intitulada "Frente Anti-Caos", responsável por espalhar pela cidade adesivos preconceituosos contra homossexuais e negros. O mesmo grupo também é acusado de tentativa de homicídio, espancamentos e de cometer diversas agressões contra judeus, negros e homossexuais em Curitiba.

Dia 22/12/2007 – policiais do 1º Distrito Policial autuaram em flagrante um jovem, que seria integrante de um grupo de skinheads, suspeito de tentar assassinar duas mulheres com golpes de faca. De acordo com a polícia, 12 punks e quatro skinheads teriam iniciado uma briga no centro de Curitiba.

Dia 23/03/2009 – um aluno do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi brutalmente espancado no último na região do Alto da XV. O estudante foi agredido com socos, pontapés e pedradas por um grupo de aproximadamente dez homens de cabelos raspados, vestindo suspensórios e calçando botas – o que indicaria serem skinheads de orientação neonazista.

Mesmo com as prisões feitas em Curitiba, entre 2005 e 2008, grupos neonazistas na capital paranaense continuam atraindo novos simpatizantes, tornaram-se referência para adeptos do nazismo dentro e fora do Brasil, e já planejam a criação de divisões armadas, aptas a perseguir judeus, negros, homossexuais, comunistas e qualquer grupo ou indivíduo que se oponha à ideologia de ultradireita.

As primeiras vítimas desse esquadrão da morte, no entanto, foram dois simpatizantes do próprio movimento: Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, e Renata Waechter Ferreira, de 21. Ele, estudante de Direito em Minas Gerais. Ela, aluna do curso de Arquitetura na PUCPR. O casal foi encontrado morto, ao lado do carro da moça, na madrugada do dia 21 de abril, no km 6 da BR-116, no município de Quatro Barras.

O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que investiga o caso, já sabe que ambos participavam de uma festa em uma chácara em Campina Grande Sul, município vizinho a Quatro Barras. O evento, que reuniu cerca de 15 pessoas era, na verdade, uma celebração do aniversário do ditador alemão Adolf Hitler (20 de abril de 1889 - 30 de abril de 1945). O encontro foi marcado pela internet e reuniu skinheads neonazistas de Curitiba e de outros estados.

A reportagem da Gazeta do Povo ouviu duas pessoas que estiveram na chácara (uma delas pessoalmente e a outra por meio de um terceiro) e uma fonte ligada às investigações. Segundo os relatos, foi proibida a entrada na chácara com celulares e máquinas fotográficas. Os organizadores não queriam que fossem feitas imagens do local, decorado com bandeiras suásticas e pôsteres de Adolf Hitler. "Fora isso, era como uma comemoração normal, com churrasco e cerveja. Sem drogas, já que drogas não são bem vistas entre nós", diz um dos participantes da festa.

A comemoração foi iniciada com um discurso que teria sido feito por Bernardo Dayrell. A cada menção a Hitler, chamado de Fürher pelos participantes, as mãos eram levantadas, no tradicional cumprimento nazista. Dayrell teria organizado o encontro e discursado durante a maior parte do tempo. Tido como um "intelectual" dentro do grupo, o rapaz seria contrário às agressões praticadas contra gays e travestis em Curitiba. Para ele, esse tipo de ataque depunha contra o grupo e complicava a aceitação do movimento pela sociedade.

Em diversos fóruns e sites de nacional-socialistas e adeptos da supremacia da raça branca, Dayrell é descrito como um pensador, colaborador de publicações e revistas neonazistas.

A apuração da Gazeta do Povo mostra que, para o rapaz, o avanço da ideologia nazista em Curitiba e no Brasil se daria pelo convencimento da classe média com a publicação de fanzines, folhetos apócrifos, encartes em livros da biblioteca púbica e sites na internet. Em seu perfil no orkut, Dayrell cita poetas, filósofos e pensadores, a maioria deles sem relação com os pensamentos nazistas.

"Ele era muito inteligente. Escrevia muito bem e tinha um grande poder de persuasão. Foi esse carisma que atraiu a Renata," afirma um dos membros do grupo. Renata, por sua vez, tinha mais interesse por ocultismo e pelo esoterismo pagão, características dos grupos neonazistas, do que na ideologia política e racista. Amigos, colegas de sala e professores afirmam não ter percebido nenhum comportamento racista ou antissocial da garota. "Era uma menina quieta, sim, mas muito querida por todos e muito inteligente. Era inclusive bolsista da iniciação científica aqui da faculdade", explica Carlos Hardt, coordenador do curso de Arquitetura da PUC.

Dayrell, para os amigos e colegas de Renata da faculdade, permanecia sendo uma incógnita. "Eu o conhecia menos, porque ele morava em Belo Horizonte e vinha nos feriados. Parecia tranquilo como a Renata. Sobre as ideias dele eu não sei", comentou Ligia Drula, de 22 anos, amiga da estudante.

Disputa e traição

Na chácara, o discurso de Dayrell foi bem recebido pelos participantes. Os pontos de vista dele, porém, estavam longe de representar uma unanimidade em Curitiba. Uma outra corrente do movimento neonazista defenderia a imposição do grupo pela violência, como as agressões a homossexuais praticadas na capital há algumas semanas. Esse grupo, com ramificações em São Paulo, defenderia uma linha de frente neonazista, pronta a agir com armas de fogo e a matar, caso necessário. A divergência com a estratégia adotada por Dayrell teria chegado no limite. Para garantir o controle do movimento em Curitiba, decidiram eliminá-lo.

O crime seria cometido por duas pessoas, que haviam sido proibidas por Dayrell de entrarem na festa. A dupla planejava entrar no local e matar o casal dentro da chácara. Eles teriam mudado de ideia ao constatar a presença de amigos na festa.

Por isso, teriam optado por assassinar o rapaz do lado de fora. Um segundo casal que participava das comemorações foi incumbido de tirar Dayrell e Renata do local. Lá fora, dois indivíduos, identificados pelos codinomes Hans e Fritz, esperavam Dayrell com uma pistola nove milímetros. Não se sabe o motivo real que fez o casal sair da festa. Eles saíram da chácara em companhia de uma menina. O carro que eles ocupavam, um Uno branco, foi abalroado por um veículo vermelho. Pela posição dos corpos e pela ausência de sangue dentro do veículo, presume-se que Daurell tentou lutar contra os agressores, deixando Renata mais próxima do carro. O rapaz foi morto com um único disparo na cabeça. Renata levou um tiro na nuca e um na altura da perna. Em cima do capô do carro, foi encontrada uma latinha de cerveja. Dentro do veículo, 12 celulares de participantes da festa.

Na quinta-feira de manhã, um casal foi detido pelo Cope na Vila Isabel. Para a polícia, eles afirmaram que não sabiam da intenção do trio de matar os namorados. Ontem, dois policiais do Cope, em conjunto com a polícia especial de São Paulo (Garra) prenderam Ricardo Barollo, em São Paulo. O rapaz, cujo codinome no movimento skinhead é França, seria o mandante do crime. No apartamento dele, a polícia encontrou material neonazista, inclusive informações sobre a criação de um novo país.

França seria um dos principais mentores da criação de uma linha de frente armada dentro da organização skinhead.

Até o início da noite, a polícia ainda buscava por Hans e Fritz. Um deles, segundo informações dos responsáveis pelas investigações, seria soldado do exército.

No manhã deste sábado (1º), a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou, sem divulgar nomes e codinomes, que cinco pessoas foram presas além de França. De acordo com a Sesp, um total de 16 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – onde a arma do crime foi encontrada. Um vasto material de apologia ao nazismo foi encontrado e apreendido pelos policiais.

A polícia deve prestar mais esclarecimentos sobre o caso em entrevista coletiva, no início da tarde deste sábado, em Curitiba.

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