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Estudante Ana Júlia participou de audiência pública sobre a PEC do Teto. | Geraldo Magela/Agência Senado
Estudante Ana Júlia participou de audiência pública sobre a PEC do Teto.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Em Brasília nesta segunda-feira (31), a estudante de Curitiba Ana Júlia Ribeiro, 16 anos, discursou desta vez no Senado, dentro de uma audiência pública destinada ao debate da “PEC do teto dos gastos públicos”.

Acabou sendo bastante aplaudida e “tietada” pelo público, formado principalmente por críticos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016, agora em trâmite no Senado, após ser aprovada pela Câmara dos Deputados (onde era chamada de PEC 241/2016).

Conhecida pelo discurso que fez na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná na última quarta-feira (26) – a fala emocionada e firme da estudante diante dos parlamentares “viralizou” na internet –, Ana Júlia foi incluída de última hora para participar da audiência pública.

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“Eu não entendi tamanha repercussão. E já peço desculpas se eu decepcionar hoje”, brincou a estudante logo no início do seu discurso no Senado.

Durante cerca de dez minutos, além de reforçar as críticas à PEC 55/2016 – “Aqueles que votarem contra a educação estarão com as mãos sujas por 20 anos” –, Ana Júlia também falou que as ocupações no Paraná estão sendo alvos de “repressão violenta”.

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“Infelizmente estamos sofrendo uma repressão violenta. Na calada da noite, passam com o som alto do hino nacional, como se nós não respeitássemos o hino nacional. Usam também de táticas abusivas, para falar de nossas pessoas e não dos nossos ideais. Respeitamos o direito deles, mas a repressão violenta nós abominamos”, disse ela, ao enfatizar a necessidade de “criar métodos pacíficos de resistência”.

A audiência pública foi organizada no âmbito da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, e o convite à estudante foi feito pela senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que é titular do colegiado, e também pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), suplente no grupo. As senadoras organizaram a logística para trazê-la a Brasília, cidade que a estudante visita pela primeira vez.

Ana Júlia chegou à audiência pública pontualmente, às 9 horas, junto com os pais e o irmão, e acabou deixando o debate antes do término, já que tinha outros compromissos, como uma ida à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que também já se posicionou contra a PEC 55/2016.

Pai de Ana Júlia

Em entrevista à reportagem, tanto Ana Júlia quanto o advogado Júlio Ribeiro, seu pai, rechaçaram a visão de opositores ao movimento dos estudantes, que sustentam que os protestos no Paraná têm conexão com legendas partidárias, como o PT.

“Não faz muito tempo que eu formalizei o meu desligamento do PT, mas eu deixei de militar há muito tempo, há mais de cinco anos. E nunca fui candidato a nada”, disse o pai da estudante.

O advogado, que também já trabalhou na área de assistência social, disse que gosta de política, e lembra inclusive que já estudou sociologia política na Universidade Federal do Paraná, mas que “de forma alguma” interfere no movimento dos estudantes. “É um direito do cidadão se associar a partidos políticos”, reforçou ele.

A própria Ana Júlia enfatiza que é uma “estudante comum”, que não participa “nem do grêmio da escola”, mas que agora naturalmente acabou entrando em contato com o movimento estudantil. “Toda ajuda é bem vinda”, disse ela.

Questionada ainda pela reportagem sobre a declaração do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), que no domingo (30) afirmou que “está na hora” de os estudantes “pararem com essa brincadeira”, Ana Júlia respondeu que “a gente não está brincando”: “A gente está lutando pelos nossos direitos, lutando pela educação pública”.

“O discurso dela deu uma sacudida nos estudantes do DF”

Parte do público da audiência pública realizada nesta segunda-feira (31) no Senado era formada por estudantes do Ensino Médio, como a curitibana Ana Júlia Ribeiro. Uma delas contou à reportagem que o discurso da paranaense na Assembleia Legislativa, quarta-feira passada, “deu uma sacudida” nos estudantes do Distrito Federal (DF).

“Eu acho que o DF demorou muito para entrar na luta. Aqui tinham dois movimentos, um contrário à ocupação e outro a favor. Depois do discurso da Ana Júlia, muita gente mudou de ideia e passou a integrar a ocupação. Ela abriu os olhos da galera do DF”, disse a estudante de 17 anos.

A aluna do Ensino Médio já participa de uma ocupação em uma escola em Brasília e, por isso, prefere não ter o nome divulgado para evitar eventual represália. “Os pais têm medo, a gente também têm medo. E não pensem que a gente não preferia dormir em uma cama quentinha, comer sem depender de doação. Mas não estamos de brincadeira”, completou ela.

O discurso de Ana Júlia no Senado

“Exmª Presidente, Senadora Fátima Bezerra, Exmºs Senadores e Senadoras aqui presentes, colegas de luta e demais presentes, bom dia.

Devido aos acontecimentos da última semana, acredito que todos vocês já saibam que eu sou a Ana Júlia, estudante secundarista do Colégio Estadual Senador Manoel Alencar de Guimarães, localizado em Curitiba. Tenho 16 anos.

Na última quarta-feira, fiz uma fala, e não entendi por que tamanha repercussão, já que se trata de algo tão básico, ou que, pelo menos, deveria ser assim. Eu já peço desculpas se, por acaso, eu decepcioná-los hoje... (Risos.)

Mas eu peço que lembrem que eu sou estudante de escola pública. Tanto em toda minha trajetória estudantil quanto ontem, visitando as escolas em Brasília, percebi a precariedade do ensino público. Percebi como nós precisamos dar ênfase a isso, como precisamos melhorar a educação pública, como temos uma falta de infraestrutura e como precisamos realmente voltar nossos olhares a isso.

Nós, estudantes, em relação à Medida Provisória nº 746, só temos a dizer que, até o dia 20 de janeiro de 2017, esperamos – e acreditamos nisso – que ela não se concretize em lei.”

Veja o vídeo com o discurso de Ana Júlia na íntegra

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