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Pais e mães que o digam: a convivência com filhos adolescentes exige não apenas paciência para com os arroubos emocionais e ímpetos de rebeldia, mas também compreensão sobre o que esse período representa. São comuns os relatos de episódios que, aos olhos dos jovens, parecem grandes aventuras mas, aos dos adultos, apenas uma sucessão de comportamentos arriscados e sem sentido. E nesse balaio tem de tudo: desde manobras excessivas sobre um skate até proibitivas experiências com álcool. Os pais ficam de cabelos em pé, mas a ciência diz que esse comportamento é inevitável.

Violência

A violência também pode ser vista através da lente da neurologia. Estudos mostram que os índices de criminalidade sobem a partir dos 13 anos, chegam ao ápice aos 18 e tornam a cair. A violência também seria “culpa” de características do cérebro jovem e biologicamente imaturo, não de deficiência moral ou caráter ruim.

Estratégias

A psicóloga Lidia Weber, da UFPR, dá algumas orientações aos pais que querem evitar o distanciamento e auxiliar seus filhos a passar pelos tropeços típicos da idade sem maiores prejuízos.

Argumentos lógicos

“Nem sempre o adolescente é ‘teimoso’, mas está aprendendo a pensar com maturidade e a argumentar decisões lógicas e ilógicas. Discutir e argumentar com os pais é uma experiência excelente, pois ele aprende padrões de como fazer isso com amigos e sob pressão. Os pais nunca devem dizer “Não vou discutir isso”, e sim expor argumentos lógicos.”

Conflito de gerações

“Enquanto os filhos passam pela adolescência, os pais enfrentam desafios que vêm com o envelhecimento. Deve se ter cuidado para não recorrer ao “No meu tempo não era assim”, porque não era mesmo – hoje o tempo é outro e os filhos têm voz. É preciso ponderar o que vale ser discutido. Se for situação de segurança e valores morais, no entanto, vale a pena conversar mais energicamente.”

Foco positivo

“É importante encorajar os interesses e as atividades do adolescente. Também valorizar os amigos e mostrar o que são boas amizades, convidando-os para dentro de casa e conhecendo as famílias. Os pais devem delegar responsabilidades dentro de casa e, apesar de ter a última palavra, devem valorizar o pensamento maduro e independente do adolescente.”

A neurocientista americana Frances Jensen , em seu livro intitulado The Teenage Brain: a neuroscientist’s survival guide to raising adolescents and young adults, tenta ajudar pais à beira de um ataque de nervos a entender o funcionamento do cérebro jovem. Jensen explica que na adolescência os lóbulos frontais, responsáveis pela função cognitiva do cérebro – o que engloba planejamento, autoconsciência e julgamento – ainda não estão completamente desenvolvidos. Até que isso ocorra, comportamento inconsequente e impulsivo é o que se pode esperar dos adolescentes.

Idealmente, os lóbulos frontais agem controlando os impulsos gerados por outras partes do cérebro – por isso adultos ponderam melhor riscos e recompensas, são mais racionais e civilizados. É como se, durante o período de maturação cerebral, que perdura até os 25 anos, dois sistemas cerebrais diferentes, ambos em desenvolvimento, competissem entre si: o socioemocional e o cognitivo.

“O sistema socioemocional torna-se mais assertivo durante a puberdade, já o de controle cognitivo, que regula emoções e a tomada de decisões amadurece mais lentamente”, explica a especialista em desenvolvimento familiar Lidia Weber, da Universidade Federal do Paraná.

Tudo parece melhor

Laurence Steinberg, professor de psicologia na Universidade de Temple (EUA) e autor do livro Age of Opportunity: lessons from the New Science of Adolescence, traz mais um elemento à equação cerebral adolescente. Ele atribui o comportamento a um “núcleo de prazer” ampliado. Segundo ele, enquanto o cérebro do adulto mantém o centro responsável por essa sensação sob controle, o do adolescente é projetado para “farejar” sensações e experiências de prazer.

Como se lóbulos frontais em desenvolvimento e centros de prazer hipersensíveis não fossem o suficiente, o processo todo ocorre juntamente com outra mudança: na puberdade, o cérebro desenvolve mais receptores de dopamina, neurotransmissor que age no sistema nervoso e está ligado à sensação de prazer.

“Nada será tão bom quanto foi quando se era adolescente – seja estar com seus amigos, fazer sexo ou tomar um sorvete”, diz Steinberg. E isso, segundo ele, explica por que adolescentes fazem coisas estúpidas – não é porque eles são piores do que os adultos na hora de avaliar o risco, mas porque as recompensas parecem, do ponto de vista neurológico, muito melhores.

Nem todos os tropeços dessa fase, porém, podem ser colocados na conta do cérebro em desenvolvimento. “Os riscos aumentam também por causa do sistema moral de socialização e a ausência de monitoramento parental também influencia”, complementa Lidia.

Comportamento de risco pode ser estimulado pelo grupo

O pesquisador Laurence Steinberg, da Universidade de Temple (EUA), explica que adolescentes são biologicamente programados para assumir riscos, e é isso que eles fazem – e quando estão acompanhados de outros adolescentes, fazem em dobro.

Pesquisas americanas mostram que um jovem ao volante junto com amigos tem quatro vezes mais chance de falhar na direção do que se dirigisse sozinho. Geralmente se atribui a falha à distração ou à pressão, mas Steinberg acredita que a presença de pares é suficiente para estimular o comportamento de risco.

Em seus experimentos, Steinberg analisou imagens de cérebros jovens. As imagens revelam que a ideia de ser vigiado por amigos ativa centros de recompensa no cérebro do adolescente, o que o leva a procurar por mais recompensas assumindo comportamentos inusitados ou arriscados que, estivesse sozinho, não assumiria.

Os resultados sugerem que talvez a velha provocação de pais e mães durante discussões com os filhos que querem fazer o que não devem – “Então se teu amigo pular da janela você vai pular também?” – tenha algum fundo de verdade.

A tendência de assumir um comportamento arriscado quando junto de amigos pode explicar porque L.C., 16 anos, um adolescente tranquilo, que organiza festas em casa e fica de olho no ânimo “da galera” um dia sumiu do radar dos pais. “Saí de casa por volta das 21 horas para uma festa e na volta ia dormir na casa de um amigo. Dessa vez a gente bebeu mesmo e quando vi já era seis horas da manhã. Só que o amigo que nos daria pouso foi embora sem pagar. Nós ficamos com uma conta enorme e sem ter para onde ir”, recorda.

Ao fim e ao cabo, conseguiram ir embora deixando parte da dívida para ser paga no dia seguinte. Quando chegaram em casa, mais de 12 horas sem dar um único sinal (a bateria do celular havia acabado), tiveram que prestar contas. “Rolou um estresse com a mãe, mas o pai ficou tranquilo. A criação que eu tive já faz com que eu cobre responsabilidade de mim”, diz o adolescente, que admite a fase “aborrecente”, mas reforça que o diálogo sempre prevaleceu em casa, o que lhe dá segurança sobre algumas escolhas.

“Você meio que sai de uma redoma e fica mais vulnerável a festas, drogas, pessoas, ao mundo mesmo. Mas não gosto de pais que proíbem ou fazem chantagem. Tem que conversar e confiar na educação em casa.”

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