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"Esse tipo de crime ocorre para alertar a sociedade"

Cabelos brancos, olhos de um azul intenso e expressão serena. Essa é a descrição do preso 14.981 do Centro de Triagem 2, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba. Jorge Luiz Pedroso Cunha é um dos 12 homens da cela X, todos sob acusação de pedofilia. Cunha está preso por molestar um menino de pouco mais de 4 anos, no balneário de Santa Terezinha, litoral do Paraná. Com mandado de segurança expedido desde 2007 pelo crime de abuso sexual, pela Comarca de Matinhos, o desenhista foi encontrado em Itajaí (SC).

Confira a entrevista com Jorge Luiz Pedroso Cunha

Alerta máximo

Os especialistas dão dicas para evitar que a próxima vítima seja seu filho.

- Oriente para não aceitar presentes nem se relacionar com estranhos.

- Proíba de entrar na casa de estranhos ou de pouco relacionamento, sem autorização dos pais ou responsável.

- Não o deixe com pessoas desconhecidas, mesmo que por alguns minutos, muito menos em banheiros, transporte coletivo, provadores.

- Informe-se sobre suas atividades, onde vai e quem são as pessoas mais velhas com quem ele se relaciona com frequência.

- Ensine, desde cedo, que existem partes do nosso corpo que são íntimas. Oriente a dizer não e procurar ajuda imediatamente, caso alguém queira tocá-lo. Na adolescência, fale sobre relacionamento sexual.

- Não empregue violência. Utilize outros métodos de correção que não o façam sentir-se rejeitado ou humilhado, como o diálogo aberto.

- Estabeleça regras e limites, mantendo uma relação franca. Estimule para nunca esconder nada de você, mesmo sob ameaças de outras pessoas.

Sinais que podem indicar crianças vítimas de abusos sexuais

- Mudança de comportamento – agressividade e apatia

- Sinais de ansiedade, como insônia, pesadelos, sonolência diurna

- Distúrbios do apetite, tiques, gagueira ou manias

- Isolamento, dificuldade de concentração e de aprendizagem

- Tristeza excessiva, depressão

- Medo de adultos, especialmente de determinado sexo (do abusador)

- Atitudes e comportamento sexual adiantado para a idade

- Dor, inchaço ou sangramento em área genital

- Doenças sexualmente transmissíveis, aborto e gravidez

Serviço

Disque-Denuncia: 181 e 190; Nucria: (41) 3244-3577; Sicride: (41) 3224-6822 e Conselho Tutelar – Curitiba: (41) 3233-0055.

O perigo pode estar mais perto do que se imagina. Os estudos e a experiência dos profissionais da área mostram que o pedófilo é, geralmente, uma pessoa que aparenta ser confiável. A orientação para proteger os filhos é ficar atento aos sinais e tomar algumas precauções.

"Não é porque tem cabelo branco que dá para confiar. Calhordas também envelhecem", afirma a sargento da Polícia Militar Tânia Guerreiro, que trabalha há 26 anos no combate à pedofilia. Tânia orienta aos pais não deixar os filhos sozinhos e não permitir que eles durmam na casa de outras pessoas. "O filho tem de ficar por perto até os 14 anos ou até a idade que ele saiba o que é um abuso e como se proteger."

A delegada do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), Ana Cláudia Machado, pós-graduada em violência doméstica infanto-juvenil, também é taxativa. "Os pais não devem deixar os filhos brincando sozinhos ou dormir na casa dos amiguinhos."

No Tatuquara, um senhor de aproximadamente 60 anos, acima de qualquer suspeita, foi apontado por vizinhos como o autor de cerca de meia dúzia de casos de abuso sexual contra crianças de 6 a 9 anos. A notícia sobre a morte de Rachel Genofre, 9 anos, encontrada em uma mala na Rodoferroviária em novembro do ano passado, com marcas de asfixia e violência sexual, levantou a questão na casa da família Oliveira*. "Será que Leone* também vai matar Angélica*?", questionou Rafaela*, de 5 anos, ao ver uma reportagem sobre o caso.

O questionamento não passou em branco. Ao apertar um pouco a menina, a mãe ouviu a história que quisera não ser verdade. Rafaela contou em detalhes o que acontecia quando ela e outras quatro amiguinhas da vizinhança, entre 5 e 9 anos, iam até a casa de Leone, buscar doces. A mãe de Rafaela resolveu procurar as outras mães para investigar melhor. O relato foi chocante.

De acordo com a história apresentada pelas garotas, Leone tirava as suas próprias roupas e as das crianças. Depois de colocar um preservativo, esfregava-se no corpo das meninas, lambia os órgãos genitais delas e fazia com que elas lambessem o dele. Em troca, dava doces e uma recomendação: que guardassem segredo. Caso contrário, apanhariam dos próprios pais.

As mães juntaram-se e resolveram procurar o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria). Deram nome e endereço do acusado. Estão esperando um solução justa para o caso.

Um trabalho efetivo e mais célere da polícia, entretanto, poderia ter evitado todo esse sofrimento. Próximo às casas em que moram as meninas que denunciaram Leone, há outra família abalada possivelmente pela ação do mesmo pedófilo. Elas não se conhecem, mas passam por um drama familiar parecido. Renata*, 8 anos, também pode ter sido abusada pelo mesmo vizinho.

O boletim de ocorrência relatando o fato foi registrado no dia 19 de maio do ano passado. "Eu dei todas as informações sobre este indivíduo, mas até agora nada", diz a mãe de Renata. "Minha filha está recebendo tratamento psicológico, mas justiça, até agora, não foi feita", explica. O Nucria não informou como está o progresso das investigações destes casos, alegando ser segredo de justiça.

Perfis

Para a delegada Ana Cláudia, é importante que os pais fiquem atentos a certos perfis. "Um adulto que mora sozinho, tem brinquedos e video games, não necessariamente é um molestador, mas os pais devem ficar de olho", explica. Só isso não é suficiente, contudo. Como a maior parte dos agressores são pessoas próximas, como pai, padrasto, tio, irmão e avô, é necessário estabelecer um diálogo sincero com as crianças, dizem os especialistas.

De acordo com a policial Tânia, é importante ficar atento também ao comportamento dos filhos. "Eles não falam, mas pedem socorro pelo comportamento", explica. Segundo ela, a vítima de abuso apresenta assaduras, recusa a usar toalhas de banho, apresenta secreções nas calcinha ou cueca, acorda na meio da noite chorando, tem pesadelos, tem inapetência ou come compulsivamente, isola-se, não faz lição de casa, tem um desempenho escolar ruim, sente vergonha do corpo ou demonstra comportamento sexual explícito (exibe órgãos genitais, masturba-se ou toca outras crianças), meninas costumam segurar a urina e meninos ficam com o pênis inchado.

*Os nomes das vítimas foram trocados para não as expor e o do acusado porque as investigações policiais estão no início.

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