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A explosão desintegrou o caminhão que transportava 1,5 tonelada de dinamite. Uma bola de fogo tomou conta da Rua São Luiz | Jonathan Campos/Gazeta do Povo/reprodução arquivo Tribuna do Paraná
A explosão desintegrou o caminhão que transportava 1,5 tonelada de dinamite. Uma bola de fogo tomou conta da Rua São Luiz| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/reprodução arquivo Tribuna do Paraná

Repercussão

Diante da tragédia, prefeitura decretou estado de calamidade

Ao saber do ocorrido, o então prefeito de Curitiba, Saul Raiz, saiu do paço municipal e correu ao local do acidente. Ele decretou estado de calamidade pública e culpou a transportadora pelo ocorrido. "A empresa encarregada do transporte dos explosivos será inteiramente responsabilizada pelo trágico acidente, pois cometeu a incriminadora irregularidade de não receber autorização do Exército para entrar na cidade", disse o prefeito à época.

Solidariedade

O presidente Ernesto Geisel ligou para o então governador Jayme Canet transmitindo sua solidariedade. Geisel enviou o então ministro da Educação e Cultura, Ney Braga, para avaliar os estragos da explosão. Para ajudar as vítimas, a Câmara Municipal criou o Projeto de Lei N.º 304/76, que autorizou a abertura de um crédito especial.

Somente um ano depois a Promotoria de Justiça formulou a denúncia contra a Expresso Catarinense, que foi apontada como negligente, pois levava dinamite sem as medidas de segurança estipuladas pelo Exército. Uma delas, por exemplo, era utilizar caminhão com baú de alumínio. A empresa, por sua vez, alegou que, como o fogo teve início na carga, quem deveria ser responsabilizada era a fabricante de dinamite.

Condenação

O tempo passou e só na década de 1990 a transportadora foi condenada na Justiça. Ela teve de indenizar os moradores da região. A empresária Lieselotte Gunther, por exemplo, recebeu 3.500 cruzeiros. Os familiares das vítimas também foram indenizados. "O caso, no entanto, levou muito tempo. Finalizou dois anos atrás. Ainda falta um saldo que estamos tentando receber", relata o advogado José César Valeixo Neto, que atuou em prol dos familiares das duas vítimas fatais. A empresa, após o acidente, foi desfeita. Nenhum dos herdeiros foi encontrado para comentar o assunto.

Acidente ganhou as páginas de um livro

O incidente do caminhão com dinamite também virou livro. Em Dinamite – Uma tragédia em Curitiba, a jornalista Anna Carolina Azevedo conta a história da tragédia por meio do depoimento de várias pessoas que moravam na região.

Defesa Civil

A explosão do caminhão foi um dos motivos para a criação da Defesa Civil de Curitiba. O órgão, que não existia em 1976, foi estabelecido pela Lei Municipal nº 6725, de 18 de setembro de 1985. O responsável pelo texto foi o coronel René Roberto Witek, que, na época da tragédia, fez parte da equipe que socorreu os feridos. "O acidente ajudou na criação da lei. Lembro que passamos a noite remexendo os destroços para ver se não havia vítimas."

  • Lieselotte Gunther:
  • Voluntários reviram os escombros de uma das casas atingidas pela força da explosão
  • A prefeitura de Curitiba decretou estado de calamidade pública após a tragédia

Por volta das 16h15 um homem de estatura mediana entra correndo na loja de roupas da empresária Lieselotte Gunther, no bairro Cabral, em Curitiba, e grita: "Preciso usar seu telefone para ligar para os bombeiros. Meu caminhão, lotado de dinamite, está pegando fogo". A data era 2 de setembro de 1976. O veículo, parado a cerca de 50 metros do estabelecimento, explode minutos depois. "Escutei um barulho ensurdecedor e vi um ‘cogumelo de chamas’. Assustada, fechei os olhos. Quando abri, todas as roupas estavam caídas e os vidros estavam quebrados. Foi terrível", relata Lieslotte.

A explosão abriu uma cratera de quatro metros de diâmetro por dois de profundidade na Rua São Luiz, nas proximidades da Avenida Anita Garibaldi. Além da loja, outras 90 casas, localizadas nas quadras ao redor, foram afetadas. Havia vidro e madeira por todo lado. Uma das portas do Mercedes-Benz foi encontrada presa no fio de luz, a três quadras do local do acidente. O motor foi parar em cima do antigo prédio da Telepar, que tem pouco mais de 20 metros de altura. Os vidros da antiga fábrica de bolachas Lucinda, localizada na Rua Belém, ficaram despedaçados. A empresa teve de fechar suas portas por cinco dias.

Donato Sanchuk Taborda, o rapaz que entrou correndo na loja de Lieselotte, havia saído do município de Colombo com o caminhão carregado com 1,5 mil quilos de dinamite e 600 quilos de cola, um produto inflamável. No veículo da empresa Expresso Catarinense Transportadora havia outros dois ajudantes. Quando o caminhão pegou fogo – causado, segundo as autoridades, pela cola aquecida pela fumaça do escapamento –, eles desceram e tentaram avisar aos moradores da região sobre a possível catástrofe que estava prestes a ocorrer.

Será um avião?

O jornalista Ney Hamilton, na época com 15 anos de idade, era estagiário do antigo Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas (IBPT), localizado a algumas quadras do local da explosão. Assim que ouviu o estouro, saiu correndo em direção à fumaça que se avistava de longe. "Pensei, logo após ouvir o barulho, que um avião tinha caído", conta.

Quando chegou ao local, hoje ocupado por prédios residenciais, encontrou uma cena de destruição. A primeira coisa que viu foi um sujeito caído, morto, no chão. Ao lado dele, havia uma pasta com o número 007. "O curioso é que havia também muitos passarinhos sem vida. Eles estavam espalhados por todos os lados", relata. Hamilton e os vários outros curiosos que chegavam a todo o momento demoraram a entender o que realmente tinha acontecido.

Destroços

Duas pessoas morreram atingidas por destroços do caminhão: o agente penitenciário João Mateus dos Santos e o motorista Irani Oliveira da Silva, do Hospital Veterinário São Bernardo. Silva, ao ver o caminhão pegando fogo, tentou apagar as chamas. Com a explosão, foi arremessado para longe e atingido por um pedaço de ferro. Os cerca de 80 feridos foram levados para o Hospital de Clínicas e para o Hospital São Lucas. Já os desabrigados, com ajuda da Igreja da Mercês, foram encaminhados ao Ginásio do Clube Atlético Paranaense. Havia ambulâncias cedidas pelo antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

A explosão foi ouvida a quilômetros de distância. A multidão, curiosa, tomou conta do local. Um pipoqueiro que se instalou na região contou à Gazeta do Povo, na época dos fatos, que em meia-hora vendeu cerca de cem pacotinhos de pipoca.

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