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Qualidade de vida

O melhor dia da sua vida é hoje

Envelhecer é parte do processo de desenvolvimento humano. A fase pode ser melhor ou pior, conforme a preparação prévia de cada um

A caminhada diária do funcionário público aposentado Roberto Alves, de 75 anos, é parte indispensável da sua rotina | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
A caminhada diária do funcionário público aposentado Roberto Alves, de 75 anos, é parte indispensável da sua rotina (Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo)

O envelhecimento não é um presente de aniversário oferecido ao indivíduo quando se completa 60 anos. O conteúdo do pacote é elaborado muito antes disso. Ao longo da vida, à medida que cada um investe em suas relações, seu crescimento pessoal e espiritualidade, é que se elabora a bagagem emocional que vai ajudar a tornar a senescência enriquecedora e saudável emocionalmente.

Assim como a infância, a adolescência e a fase adulta, a terceira idade faz parte do desenvolvimento humano. Tem características próprias e exige condutas específicas, como nas etapas anteriores da vida. E um aprendizado leva ao outro. "Satisfazer-se na fase atual é preparar-se para a próxima. E cada uma delas carrega um processo de desenvolvimento que não pode ser negligenciado. Com a velhice não é diferente", aponta a psicóloga Ana Paula Pepe, supervisora da área de psicologia clínica do Hospital Vitória, de Curitiba.

O problema é a falta de referência. Diferente da infância e adolescência, períodos largamente testados, estudados, observados e vi­­venciados pela sociedade, a senectude ainda é uma "novidade". A longevidade e a expectativa de vida aumentada ao longo dos últimos anos trouxeram à baila a necessidade de explicar, cuidar, atender e aceitar o envelhecimento. "Tam­bém é uma etapa complexa, muito heterogênea e com diversas nuances, que tende a ser rotulada. Na verdade, é um fenômeno social coletivo, mas vivido individualmente", observa a socióloga Ma­­risete Hoffmann-Horochoviski.

Trabalhar a própria consciência e as questões emocionais ligadas ao desenvolvimento humano é uma das orientações dada pelos especialistas. "A essência do indivíduo é elaborada ao longo da vida e é isso que vai pautar uma velhice melhor ou pior. É preciso investir nesse desenvolvimento, para obter crédito emocional e conseguir reconhecer as vantagens do envelhecimento", diz Ana Paula.

Os cuidados com a saúde física e mental fazem parte desse pacote. Na correria do dia a dia, é comum o adulto estabelecido, diante das obrigações com o trabalho e a família, dedicar pouco tempo para si mesmo e suas relações familiares, de amizade, de crescimento pessoal. "Isso vai fazer falta no futuro. É o que observamos nesta geração de idosos atual. Eles tiveram pouca ou quase nenhuma orientação para prestar atenção nesses fatores. Foram educados para focar em família e trabalho. Quem não construiu essa rede de amparo hoje sofre consequências de ser surpreendido com o envelhecimento e sofrer seus aspectos negativos, como a angústia, tristeza, depressão e ansiedade", explica. Na juventude ou na idade ma­­dura, há pouca clareza a respeito das demandas futuras. A prevenção acaba restrita à área de saúde ou às questões financeiras. "O quadro de saúde é importante e exige um acompanhamento multidisciplinar. Mas não é só. Lazer, cultura, entretenimento, atividades físicas e desenvolvimento espiritual são essenciais", diz a psicóloga.

Além de dar a base para envelhecer bem, esse fortalecimento interior pode ajudar a superar a cobrança que a sociedade faz hoje quanto ao comportamento do idoso. "O velho inativo é rotulado como incapaz ou problemático. Tende a ser discriminado se não tem uma rotina cheia de tarefas. Nem sempre isso é possível. Muitos vivem divididos entre as vantagens da terceira idade e os problemas que ela traz", observa Marisete.

Para o funcionário público aposentado Roberto Sérgio Correia Alves, 75 anos, a chave do envelhecimento saudável está na preparação pessoal: enfrentar perdas, limitações e restrições e desfrutar das relações familiares. "Não vi a idade chegar. Foi um processo natural, de barganha com a vida", diz.

Alves também se apoia no exemplo da mãe, Nair Correia, de 97 anos. "Seu exemplo de postura diante da vida é comovente. É muito ativa e interessada", diz. Com duas filhas e quatro netos, viúvo há 3 anos e meio, o aposentado mantém uma rotina de atividades que inclui família, exercícios e seus interesses pessoais. Caminha diariamente por 90 minutos, não dispensa a leitura de jornais e o acompanhamento do noticiário. Almoça fora todos os dias – uma vez por semana na casa da mãe – e anda até o centro da cidade, onde passeia pelo comércio. Frequenta o clube social, convive e cultiva com os netos uma relação de respeito e admiração. E não deixa de observar a reação dos amigos diante do passar dos anos. "Muitos sofrem com o impacto do envelhecimento. Mas pensar sobre isso é fundamental para não se assustar com o futuro."

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