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Além de maconha, cocaína e haxixe, a PF também vai incinerar uma cartela da droga sintética LSD | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo/Arquivo
Além de maconha, cocaína e haxixe, a PF também vai incinerar uma cartela da droga sintética LSD| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo/Arquivo

ONU diz que a legalização seria pior

A ONU mantém a defesa da criminalização do comércio de drogas no relatório divulgado ontem. A tese defendida pela entidade é de que a legalização não ajudaria no enfrentamento ao crime organizado, nem melhoraria o comportamento dos usuários. "Haveria sim uma epidemia do uso de drogas", disse o representante do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime no Brasil e Cone Sul, Bo Mathiasen.

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Investimento social é ponto fundamental

O Relatório Mundial sobre Drogas de 2009 da ONU contém três recomendações para melhorar o combate às drogas – investimento em áreas sem presença do Estado, acesso universal ao tratamento de drogas e a adesão aos tratados internacionais contra o crime. A organização também defendeu que as polícias concentrem esforços nas prisões de criminosos com "maior influência".

Sobre o Brasil, o representante do Escritório de Drogas e Crime da entidade, Bo Mathiasen, disse que é necessária a conscientização de que o viciado em drogas precisa ser tratado como um doente e não como um criminoso. O relatório também trata a falta de atuação do Estado em áreas pobres do país como uma "tragédia". "A maior parte da droga é vendida nas regiões urbanas nas quais a ordem pública encontra-se fragilizada", diz o material.

  • Confira no gráfico o aumento de apreensões de drogas no Brasil

Brasília - As drogas sintéticas transformaram-se em vilão dos países em desenvolvimento. Na América do Sul, o crescimento do consumo de anfetaminas, metanfetaminas e ecstasy é superior ao avanço do mercado de cocaína, opiáceos (ópio, morfina e heroína) e maconha – estagnado ou em declínio na maior parte do mundo. Os dados fazem parte do Relatório Mundial sobre Drogas de 2009, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O estudo cita o Brasil pela primeira vez como produtor de ecstasy, graças ao descobrimento em 2008 de um laboratório de produção da droga em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. As séries históricas da pesquisa começaram em 2002 e, nesta edição, o país também aparece na lista das 22 nações com maiores apreensões de drogas sintéticas no mundo. Em 2007, foram apreendidos 21 quilos do material, entre eles, 211.145 comprimidos de ecstasy.

O relatório aponta que o mercado mundial de drogas sintéticas passa por um processo de profissionalização. "O que antes era uma produção artesanal se transformou em um grande negócio", diz o texto. Antes restritos à Europa, os principais laboratórios migraram para o Sudeste Asiático e passaram a fabricar novos produtos, como o crystal meth (conhecido como ice), o captagon e a quetamina.

O dado surpreendente é o avanço dessas novidades em países do Oriente Médio. Em 2007, a Arábia Saudita apreendeu um terço de todas as drogas sintéticas do mundo, mais do que a soma das apreensões realizadas na China e nos Estados Unidos. Em 2007, a apreensão global dessas substâncias chegou a 52 milhões de toneladas e ultrapassou em 6% o pico registrado em 2000.

Uma das dificuldades no estudo desses entorpecentes, porém, é a falta de informações precisas – a estimativa é de que a produção mundial varie entre 72 e 136 toneladas ao ano. "Ainda estamos buscando respostas específicas para todas as áreas de consumo", afirma o representante do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime no Brasil e Cone Sul, Bo Mathiasen. "O que sabemos é que as anfetaminas atraem especialmente os jovens porque o comprimido é de uso fácil e dá energia."

O diretor do departamento de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Roberto Troncon Filho, destaca que a produção das drogas sintéticas encontra facilidades. "A matéria-prima do ecstasy é controlada, mas é mais acessível em relação à das drogas naturais. Por isso a existência de pequenos laboratórios, como esse que descobrimos no Paraná."

Na operação, dois homens foram presos e mil comprimidos de ecstasy apreendidos. Além disso, a Polícia Federal desmantelou em fevereiro de 2009 uma quadrilha com 55 integrantes membros de todo o Brasil. A maioria era jovem e de classe média.

Troncon Filho ressalta que a maior parte do ecstasy consumido pelos brasileiros ainda é fabricada na Europa. Ele critica a falta de fiscalização das autoridades europeias com relação às drogas procedentes de lá. "Nós fazemos a nossa parte em cima da cocaína que sai da América do Sul, mas eles não fazem a parte deles com o ecstasy."

O estudo também mostra que o Brasil ocupa o terceiro lugar entre todos os países do mundo no consumo geral de anfetaminas (incluindo o ecstasy). O relatório cita que o problema no país é que grande parte das drogas sintéticas pode ser adquirida de maneira lícita, como determinados remédios moderadores de apetite.

Cocaína

Ao contrário do que ocorreu na maioria dos países em desenvolvimento, o consumo de cocaína cresceu no Brasil, Equador, Argentina, Venezuela e Uruguai em 2007. De acordo com Bo Mathiasen, o aumento ocorreu porque esses países integram a rota de tráfico da droga, cujos maiores produtores mundiais são Colômbia, Bolívia e Peru. "O crack (subproduto da cocaína) também interfere na estimativa brasileira."

O Brasil continua sendo o maior mercado da droga na América do Sul. A ONU aponta que o país tem 890 mil consumidores entre 12 e 65 anos, ou seja, 0,7% da população total, o que representa um aumento de 0,4% em relação ao estudo apresentado em 2001 – evolução considerada "normal". Em contrapartida, a produção de cocaína registrada no mundo em 2007 (875 toneladas) foi a menor em cinco anos consecutivos.

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