Brasília Passa pelas mãos de um representante do Paraná a administração de uma das maiores estruturas públicas do país. Desde que foi eleito primeiro-secretário da Câmara dos Deputados, em fevereiro, as tarefas de Osmar Serraglio (PMDB) saltaram das de um parlamentar normal para as de gestor de metrópole. É ele o prefeito da Casa, responsável por um orçamento anual de R$ 3,3 bilhões, próximo ao de Curitiba, com uma estrutura gigantesca e mais de 15 mil funcionários.
O cargo está abaixo apenas da presidência da Câmara. As atribuições burocráticas, entretanto, são mais extensas. "Passo o dia vendo contratos, atendendo solicitações. É uma experiência enorme, mas gratificante", diz o peemedebista.
Apesar da posição importante, ele segue discreto, de fala mansa. Brinca com os colegas que nunca deixou o "baixo clero", grupo de parlamentares com pouca influência no plenário. Diz manter hábitos frugais e ser avesso às mordomias do cargo embora não dispense o copo de leite de soja especial que toma todos os dias como café da manhã.
A partir desse ritual, inicia-se a nova rotina. Como primeiro-secretário, tem de chegar mais cedo ao Congresso e começar os atendimentos às 9 horas, de terça a sexta-feira. São pelo menos 15 reuniões diárias com deputados e assessores. Entre os temas, renovações de contrato de prestadoras de serviço, contratação de pessoal, andamento de leis e projetos, mudanças na estrutura física da Câmara e até casos de indisciplina.
Sob o guarda-chuva da primeira-secretaria também está a Secretaria de Comunicação da Câmara, que emprega 106 jornalistas concursados e quase outra centena de comissionados. A estrutura comporta o Jornal da Câmara, a Rádio Câmara, a Agência Câmara e a TV Câmara. Qualquer investimento nesses veículos, além do credenciamento de repórteres do Brasil inteiro para o trabalho no Congresso, passa pela caneta de Serraglio.
Por outro lado, pela falta de assinaturas do deputado é que estão sendo emperradas as maiorias das renovações de contrato com empresas que prestam serviço à Câmara. "Minha política é a seguinte: não renovo só por renovar, não posso ficar aceitando pressões", explica. Até agora, todos os vínculos que dependeram de Serraglio foram prorrogados "emergencialmente" e estão à espera de licitações.
A atitude, segundo ele próprio, será uma das marcas da sua gestão. A austeridade afasta do cargo os traumas trazidos por um antecessor do peemedebista na primeira-secretaria, Severino Cavalcanti (PR-PE). Enquanto ocupava a função, o pernambucano (que depois se elegeu presidente da Câmara) inventou o "mensalinho" uma cobrança de propina de R$ 10 mil mensais para manter o restaurante da Casa. O escândalo derrubou Cavalcanti da presidência.
Outra medida de Serraglio, tomada em conjunto com o atual presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi a demissão de 1.040 funcionários sem concurso que prestavam serviços aos gabinetes da Mesa Diretora e das lideranças dos partidos. "Chamavam isso aqui de a 'Casa da Moeda'. Havia casos em que se podia contratar qualquer quantidade de funcionários, com salários entre R$ 2 mil e R$ 8 mil", diz Serraglio. Sozinha, a decisão provoca economia de R$ 60 milhões ao ano para a Casa. Também referendou neste mês o corte de 13 para 3 nas vagas oferecidas para jornalistas em concurso público. A ação foi uma resposta a pressões externas sobre o excesso de jornalistas já existentes. "Vamos esperar para ver realmente a necessidade de se contratar gente. Tanto nessa quanto em outras áreas." Ao todo, ele diz que o enxugamento de gastos já teria chegado a R$ 200 milhões.
A última bandeira de Serraglio é a transparência parlamentar. "Queremos que o cidadão saiba o que está acontecendo no Congresso. Não há nada o que esconder", afirma. Entre as novidades, as principais estão no site da Câmara (www.camara.gov.br). Lá é possível acompanhar o encaminhamento dos projetos, além do desempenho individual dos deputados.



