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Ascensão surgiu com o mensalão

A ascensão de Osmar Serraglio no Congresso foi consolidada no mesmo momento de uma das mais sofridas derrotas do governo Lula. O deputado foi o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, que trouxe à tona o escândalo do Mensalão. No dia 5 de abril do ano passado, o relatório feito por ele foi aprovado por 17 votos contra 4, apesar de uma mobilização enorme dos parlamentares governistas, que chegaram a distribuir um relatório paralelo ao do peemedebista.

No documento, o deputado concluiu que o mensalão realmente existiu e propôs o indiciamento de 124 pessoas, entre elas os ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu. Hoje, entretanto, Serraglio faz parceria com o petista Chinaglia no comando da Mesa Diretora, assim como o PMDB entrou de cabeça na base governista.

Ele parece ter absorvido bem os ensinamentos da CPMI para manter o bom relacionamento com os colegas. "Nada na Câmara é previsível. Hoje existe uma costura e amanhã há outra."

Palavras desconfiadas de quem, segundo ele próprio, só não desistiu de concorrer ao posto de primeiro-secretário por "vergonha". Um ano antes, o peemedebista havia retirado a candidatura à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas da União no meio da disputa. "Fiz isso e tive de ouvir gente falando que eu estava fazendo uma composição para ter algum tipo de benefício. Não estava disposto a agüentar isso de novo."

Sem nenhuma convicção de que seria eleito para a Mesa, mandou reaproveitar os cartões que havia utilizado durante a campanha para deputado. Foi solitário para o corpo a corpo e se deu bem, desbancando o líder do PMDB, Wilson Santiago, e a orientação dos próprios correligionários.

Serraglio tem orgulho de ter sido independente, mas não tem uma fórmula para explicar como a eleição se encaminhou. "Sinceramente, não sei como cheguei aqui", brinca. Os votos decisivos, para ele, teriam sido da oposição e de deputados novatos. "Tiveram coragem e não seguiram a orientação dos partidos. Sinal de que agora tem muita gente na Câmara que pensa por si só." Assim espera Serraglio – como a maioria dos eleitores. (AG)

Brasília – Passa pelas mãos de um representante do Paraná a administração de uma das maiores estruturas públicas do país. Desde que foi eleito primeiro-secretário da Câmara dos Deputados, em fevereiro, as tarefas de Osmar Serraglio (PMDB) saltaram das de um parlamentar normal para as de gestor de metrópole. É ele o prefeito da Casa, responsável por um orçamento anual de R$ 3,3 bilhões, próximo ao de Curitiba, com uma estrutura gigantesca e mais de 15 mil funcionários.

O cargo está abaixo apenas da presidência da Câmara. As atribuições burocráticas, entretanto, são mais extensas. "Passo o dia vendo contratos, atendendo solicitações. É uma experiência enorme, mas gratificante", diz o peemedebista.

Apesar da posição importante, ele segue discreto, de fala mansa. Brinca com os colegas que nunca deixou o "baixo clero", grupo de parlamentares com pouca influência no plenário. Diz manter hábitos frugais e ser avesso às mordomias do cargo – embora não dispense o copo de leite de soja especial que toma todos os dias como café da manhã.

A partir desse ritual, inicia-se a nova rotina. Como primeiro-secretário, tem de chegar mais cedo ao Congresso e começar os atendimentos às 9 horas, de terça a sexta-feira. São pelo menos 15 reuniões diárias com deputados e assessores. Entre os temas, renovações de contrato de prestadoras de serviço, contratação de pessoal, andamento de leis e projetos, mudanças na estrutura física da Câmara e até casos de indisciplina.

Sob o guarda-chuva da primeira-secretaria também está a Secretaria de Comunicação da Câmara, que emprega 106 jornalistas concursados e quase outra centena de comissionados. A estrutura comporta o Jornal da Câmara, a Rádio Câmara, a Agência Câmara e a TV Câmara. Qualquer investimento nesses veículos, além do credenciamento de repórteres do Brasil inteiro para o trabalho no Congresso, passa pela caneta de Serraglio.

Por outro lado, pela falta de assinaturas do deputado é que estão sendo emperradas as maiorias das renovações de contrato com empresas que prestam serviço à Câmara. "Minha política é a seguinte: não renovo só por renovar, não posso ficar aceitando pressões", explica. Até agora, todos os vínculos que dependeram de Serraglio foram prorrogados "emergencialmente" e estão à espera de licitações.

A atitude, segundo ele próprio, será uma das marcas da sua gestão. A austeridade afasta do cargo os traumas trazidos por um antecessor do peemedebista na primeira-secretaria, Severino Cavalcanti (PR-PE). Enquanto ocupava a função, o pernambucano (que depois se elegeu presidente da Câmara) inventou o "mensalinho" – uma cobrança de propina de R$ 10 mil mensais para manter o restaurante da Casa. O escândalo derrubou Cavalcanti da presidência.

Outra medida de Serraglio, tomada em conjunto com o atual presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi a demissão de 1.040 funcionários sem concurso que prestavam serviços aos gabinetes da Mesa Diretora e das lideranças dos partidos. "Chamavam isso aqui de a 'Casa da Moeda'. Havia casos em que se podia contratar qualquer quantidade de funcionários, com salários entre R$ 2 mil e R$ 8 mil", diz Serraglio. Sozinha, a decisão provoca economia de R$ 60 milhões ao ano para a Casa. Também referendou neste mês o corte de 13 para 3 nas vagas oferecidas para jornalistas em concurso público. A ação foi uma resposta a pressões externas sobre o excesso de jornalistas já existentes. "Vamos esperar para ver realmente a necessidade de se contratar gente. Tanto nessa quanto em outras áreas." Ao todo, ele diz que o enxugamento de gastos já teria chegado a R$ 200 milhões.

A última bandeira de Serraglio é a transparência parlamentar. "Queremos que o cidadão saiba o que está acontecendo no Congresso. Não há nada o que esconder", afirma. Entre as novidades, as principais estão no site da Câmara (www.camara.gov.br). Lá é possível acompanhar o encaminhamento dos projetos, além do desempenho individual dos deputados.

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