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Flores foram depositadas ontem na Avenida Treze de Maio em memória das vítimas do desabamento, no Rio de Janeiro: pelo menos 13 pessoas continuam desaparecidas | Wilton Junior/Agência Estado
Flores foram depositadas ontem na Avenida Treze de Maio em memória das vítimas do desabamento, no Rio de Janeiro: pelo menos 13 pessoas continuam desaparecidas| Foto: Wilton Junior/Agência Estado

Resgate

Cadáver é confundido com entulho; já são 15 corpos

Subiu para quinze o número de mortos encontrados nos escombros dos três prédios que desabaram na Cinelândia, de acordo com informações da Secretaria de Assistência Social. Dos 15, oito corpos já foram reconhecidos e os outros sete estão no Instituto Médico Legal ainda sem identificação. O 13º corpo havia sido levado junto com escombros para um depósito de entulhos da Comlurb na Rodovia Washington Luis.Quem alertou os bombeiros sobre a presença da vítima foi a própria Comlurb. O corpo foi identificado como de uma mulher, devido ao estado de uma das mãos.

De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, o corpo ter sido levado junto com os entulhos não pode ser considerada uma falha, uma vez que estava muito dilacerado, e o trabalho foi feito durante a madrugada e debaixo de muita chuva. "A gente não deseja que isso aconteça, mas há sempre esse risco. O resgate do corpo aconteceu num momento crítico", disse.

Buscas

Quase 48 horas depois do desastre, aumentam as dificuldades das equipes de buscas, uma vez que ainda havia cerca de 20 toneladas de escombros no local do desabamento. Apesar de haver espaços livres nessa região do edifício, o comandante dos bombeiros descartou a possibilidade de encontrar pessoas com vida no local. "Os corpos estavam muito machucados. Esse cenário mostra que houve um impacto muito forte da estrutura. Não retiramos nenhum corpo que não tivesse com algum tipo de trauma."

Mídia mundial

Desabamento vira motivo para criticar o Brasil

Folhapress

O secretário de Conservação dos Serviços Públicos do Rio, Carlos Roberto Osório, classificou de "estapafúrdia" a relação que a imprensa internacional está fazendo entre o acidente no Rio e a suposta falta de infraestrutura da cidade para sediar grandes eventos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016.

Jornais como o New York Times disseram que o "acidente mostra a incapacidade das autoridades em melhorar a infraestrutura da cidade para a Copa e a Olimpíada". A BBC de Londres também seguiu a mesma linha do jornal americano.

"Não tem nada a ver. O que ocorreu aqui foi um acidente com um prédio", afirmou Osório. De acordo com ele, a cidade está totalmente preparada para os grandes eventos internacionais.

Inquérito federal

Ontem, a Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar as causas do desabamento por causa dos danos causados ao Teatro Municipal, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Balanço parcial

Números da tragédia na Cinelândia até as 21 horas de ontem:

Corpos encontrados

Óbitos

15 mortes confirmadas

Identificados

8 corpos até agora

Flávio Porrozzi, 23 anos

Kelly Menezes, 24 anos

Alessandra Alves Lima, 29 anos

Celso Renato Cabral Filho, 44 anos

Nilson Assunção Ferreira, 50 anos

Elenice Consani Quedas, 50 anos

Cornélio Ribeiro Lopes, 73 anos

Margarida Vieira de Carvalho, 65 anos.

Não reconhecidos

7 corpos

Desaparecidos ou a reconhecer

São 13 pessoas

Omar José Mussi, 48 anos

Amaro Tavares da Silva, 40 anos

Sabrina Prado, 30 anos

Ana Cristina Silveira, 50 anos

Bruno Charles, 25 anos

Daniel de Souza Jorge, 26 anos

Fábio Correia

Gustavo Cunha

Luís Leonardo Vasconcelos, 40 anos

Moisés Morais da Silva, 43 anos

Marcelo de Lima, 48 anos

Nilson Ferreira, 50 anos

Priscila Montezano, 23 anos

Roosevelt da Silva

Flávio de Souza, 70 anos

Marlene

Franklin

Yokania Mauro, 33 anos.

  • O corpo de Celso Cabral, de 44 anos, foi sepultado ontem de manhã, em Niterói: simples, humilde e trabalhador

Apontada como uma das possíveis causas do desabamento do Edifício Liberdade, as obras promovidas pela empresa Tecnologia Organizacional (TO) no 3.º e 9.º andares do prédio eram fonte de polêmica muito antes da tragédia. O condomínio já havia pedido explicações à TO sobre as intervenções que estavam sendo realizadas. Havia preocupação em relação ao entulho e ao peso que o material de construção guardado nas salas da empresa exercia sobre a estrutura do prédio. A queda do edifício na noite de quarta-feira derrubou outros dois e matou pelo menos 15 pessoas até agora. Contratado pela TO, o engenheiro calculista Paulo Sérgio da Cunha Brasil elaborou um laudo limitando-se a informar ao síndico Paulo Renha que os quatro sacos de cimento armazenados no 3.º andar não apresentavam risco à estrutura. Ele negou ter qualquer participação na obra e disse que não foi contratado para fazer avaliações no 9.º andar.

"Havia um questionamento do síndico se aqueles quatro sacos de cimento poderiam provocar dano à estrutura. Eu falei que esse era o peso equivalente a duas pessoas se cumprimentando. Pensei até que era brincadeira. Isso não pode, evidentemente, causar nenhuma avaria", explicou o engenheiro. Cada saco de cimento pesa 50 quilos.

Cunha Brasil destacou que não chegou a identificar um engenheiro responsável pela obra no local. Ele também disse ter achado estranho que Renha não tenha apresentado questionamentos sobre uma parede que ele viu sendo erguida no 3.º andar. "Isso o síndico não questionou. E a parede é mais pesada que os sacos de cimento", disse.

Ainda segundo o engenheiro, todos os pilares do Edifício Liberdade eram externos. Não havia pilares ou vigas no meio das lajes do prédio. A eventual remoção de parede interna, portanto, não provocaria abalo na estrutura do edifício. "Todos os pilares são externos. No meio da laje, não tem pilar e não tem viga. Era uma laje plana", explicou.

Procurado, o advogado Geraldo Beire Simões, que representa o síndico do edifício Liberdade, não retornou as ligações. À TV Globo, ele informou que o laudo sobre as obras no 9.º andar ainda estavam sendo aguardados.

Outro lado

Em entrevista coletiva, Sérgio Alves, um dos sócios da TO, alegou que as obras no 9.º andar tinham começado há apenas oito dias e reconheceu que o laudo pedido pelo síndico não tinha sido entregue, pois o engenheiro Cunha Brasil precisou resolver problemas pessoais. O sócio disse que o síndico foi comunicado e que recebeu uma autorização verbal para iniciar a reforma e entregar o laudo em até 15 dias. Segundo ele, começou então o trabalho de derrubada de paredes divisórias de um banheiro e de retirada de entulho – 80% do material já havia sido removido. Alves reafirmou que o tipo de reforma realizada era de adequação e que não interferia na estrutura e fachada do prédio e que, por isso, não havia necessidade de autorização da prefeitura.

O pedreiro Alexandro da Silva Fonseca, que sobreviveu ao colapso do prédio se escondendo dentro do elevador, confirmou ontem ter derrubado quatro paredes para a realocação dos banheiros no 9.º andar. Fon­seca destacou, no entanto, que os pilares e as estruturas de concreto do andar foram mantidos de pé.

O delegado titular da 5.ª Dele­gacia de Polícia, Alcides Alves Pere­i­ra, que dirige o inquérito criminal sobre a tragédia, informou que os responsáveis pelo colapso dos prédios vão responder por desabamento qualificado, cuja pena vai de dois a quatro anos.

Emoção no enterro de vítimas

Os primeiros corpos das vítimas do desabamento dos três prédios no centro do Rio começam a ser enterrados ontem. Celso Renato Braga Cabral, de 44 anos, que era chefe de recursos humanos da empresa TO, foi enterrado às 10h30 no Cemitério do Maruí, em Niterói, na região metropolitana do Rio. Ao meio-dia, o corpo de Cornélio Ribeiro Lopes, de 73 anos, foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade. Ele era porteiro do Edifício Liberdade, de 20 andares, o primeiro a desabar.

Morador do bairro do Engenho Pequeno, em São Gonçalo, Cabral tinha um casal de filhos de 17 e 19 anos. O pai dele, também Celso Renato, contou que era de praxe o filho trabalhar até mais tarde. "Ele gostava de colocar tudo em dia", afirmou o pai, muito abalado. "Eu não sei quem são os culpados, mas não quero que aconteça algo assim de novo." Funcio­nários da Tecnologia Organi­zacional (TO), empresa onde Cabral trabalhava, foram ao enterro, mas não deram declarações à imprensa. Cerca de 200 pessoas acompanharam o velório.

Padrinho da vítima, o engenheiro civil José Affonso Barbosa, de 81 anos, conta que o afilhado era simples, humilde e priorizava a boa convivência com os colegas de trabalho. "Eu cheguei a oferecer um emprego para ele ganhar mais, mas ele não aceitou. Disse que estava feliz trabalhando na TO", contou Affonso. O padrinho contou também que, durante a adolescência, Cabral era atacante do time de base do América.

Revolta

A filha de Cornélio Lopes, Sandra Maria Ribeiro, não permitiu a aproximação da imprensa no enterro. "O que tinha para falar eu já falei", disse. "Não estou culpando ninguém, mas futuramente é outra história." Após alguns minutos de orações, cerca de 30 pessoas acompanharam o cortejo sob chuva.

A aposentada Beatriz Ferreira de Souza, 64 anos, contou que conhecia Lopes há 20 anos e que fora vizinha do zelador antes de ele se mudar para o edifício Liberdade. "Fomos vizinhos por muito tempo. Era uma ótima pessoa", afirmou. Segundo ela, Margarida Vieira Lopes, que também morreu no desabamento, era a segunda mulher de Lopes.

Os dois moravam no 18.º andar do prédio, disse Roberto Carlos, 44 anos, sobrinho do zelador. De acordo com ele, o tio, que veio "ainda jovem" do Ceará e não tinha outros filhos, passava praticamente o dia todo no local e nunca havia reclamado de problemas na estrutura do edifício. "Podia haver um problema ou outro no trabalho, mas isso é normal", afirmou. (AE e o Globo)

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