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Biografia:No Jardim das Feras: Intriga e Sedução na Alemanha de Hitler. Erik Larson. Tradução de Berilo Vargas. Editora Intrínseca. 448 págs., R$ 39,90 | Reprodução
Biografia:No Jardim das Feras: Intriga e Sedução na Alemanha de Hitler. Erik Larson. Tradução de Berilo Vargas. Editora Intrínseca. 448 págs., R$ 39,90| Foto: Reprodução

Escrito com uma estrutura de romance, em que há a suspensão de narrativas nos momentos de pré-clímax, mas com uma imensa pesquisa histórica, e um respeito total aos fatos, No Jardim das Feras (Intrínseca, 2012), do jornalista norte-americano Erik Larson é uma obra estupenda. Ele busca mostrar a Alemanha no momento em que o poder se concentra totalmente em Hitler, antes de o regime nazista escancarar a sua animalidade. E ele faz isso acompanhando a ida para Berlim de um professor universitário, subitamente transformado em embaixador dos Estados Unidos – William E. Dodd. Sem pactuar com o exibicionismo e as festividades da área diplomática, Dodd, sua mulher e um casal de filhos se tornam peças-chave para a projeção do nazismo no exterior.

Tendo tido acesso, entre outros documentos, aos diários pessoais de vários dos envolvidos nesses episódios, Larson descobre que Dodd e família eram inicialmente um tanto pró-nazistas: o embaixador evitou tomar o partido das lideranças judaicas, para não chegar à Alemanha com um olhar viciado. Em jogo, estava uma grande dívida dos alemães para com investidores estadunidenses.

Pobre, frágil (morrerá pouco depois), sem pretensões políticas, conhecedor da história dos povos, o embaixador Dodd logo testemunha a agressividade, o fanatismo e a impiedade dos nazistas. Em encontros com os grandes líderes alemães, ele vai se tornando cada vez mais uma figura incômoda e nada diplomática. Não os reverencia, e não deixa de declarar posições democráticas. A resistência a Dodd nasce tanto dentro quanto fora da embaixada. Seus subordinados, a maioria mais rica do que ele, não aprovam o seu método e suas críticas aos desperdícios de dinheiro numa época de crise – os anos 30. Os alemães julgam-no imbecil e insolente.

Se Dodd era uma pessoa de difícil cooptação, a sua jovem e desfrutável filha, com pretensões literárias e com uma vida sexual livre, torna-se o alvo de todos. Ela se envolveu com muitos nazistas poderosos, inclusive com o chefe da Gestapo, tendo havido um leve affair com o próprio Hitler, o que a levou a uma aprovação da revolução nazista. Como não tinha compromisso amoroso com ninguém, e sempre deslumbrada pelos homens belos, ela se deixa envolver por muitos. Entre eles, por um espião soviético. Este amor por Boris e o fato de testemunhar cada vez mais crimes mudam a posição de Martha Dodd, que terminará a vida como comunista. Hitler achava que pela filha de Dodd eles poderiam ter alterado a opinião do embaixador sobre a Alemanha. Mas este era um homem incorruptível. Derrubado pelo corpo diplomático de seu país, ele volta à vida simples de antes, transformando-se em um divulgador dos crimes nazistas e se fazendo admirado pelos judeus.

Com muitos dados mas sem entediar o leitor em nenhum momento, pois prevalece uma linguagem literária, Erik Larson revela a cegueira internacional sobre Hitler – mesmo depois do expurgo em que ele matou dezenas de aliados e que ficou conhecido como a Noite das Facas Longas (julho de 1934). A sua conclusão é de que o governo americano e os das democracias europeias não interromperam a ascensão de Hitler porque estavam cegas pelo desejo de lucrar com a Alemanha, achando ser viável (e vantajoso) negociar com a nova potência. Ou seja, a pobreza honesta que Dodd defendia nos serviços diplomáticos trazia o mesmo princípio que ele pregava para combater os desmandos nazistas. Teria sido fácil identificar o monstro, apenas não era conveniente.

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