
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou à hidrelétrica de Itaipu a redução da geração de energia para garantir maior segurança ao sistema elétrico brasileiro e evitar corte de carga nas linhas de transmissão. Apesar da ordem, que vigorou horas antes do apagão e também durante o último fim de semana, o ONS descarta que uma sobrecarga energética proveniente da usina binacional tenha provocado o blecaute do último dia 10 que deixou 60 milhões de pessoas em 18 estados brasileiros às escuras. A hidrelétrica informou que costuma seguir procedimentos rotineiros para reduzir a geração de energia em situações de mau tempo.O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, admitiu ontem que ainda não é possível determinar com exatidão as causas do apagão. O curto-circuito que determinou o blecaute foi causado por uma descarga elétrica com duas origens possíveis, diz Chipp. A primeira teria sido uma "descarga atmosférica" (ou raio, palavra que ele evita). A segunda seria a redução da capacidade técnica dos equipamentos em suportar a tensão por estarem molhados. A descarga desligou inicialmente uma das três linhas de transmissão entre as subestações de Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP). As duas últimas linhas foram desligadas em razão da menor capacidade dos equipamentos para suportar a sobrecarga pelo desligamento da primeira, devido à chuva, diz o ONS. Chipp também aproveitou a oportunidade para criticar o posicionamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que havia negado a existência de intempéries climáticas próximas às linhas de transmissão na noite do apagãoSimepar
Outra possibilidade levantada pelo diretor do ONS foi de o Simepar ter falhado na comunicação sobre o mau tempo. Esse questionamento surgiu porque, nove horas antes do apagão, um aviso de condições climáticas adversas havia levado o ONS a baixar a geração de Itaipu. Era de se esperar, portanto, que um alerta semelhante, emitido antes do apagão das 22h13, pudesse levar o ONS, da mesma forma, a tomar medidas para reduzir a tensão e evitar o risco de sobrecarga. Indagado sobre a possibilidade de ter ocorrido falha na interpretação das condições climáticas por parte do instituto, ligado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), Chipp esquivou-se: "Isso você tem que perguntar para eles".
Nove horas antes
O relatório de operações de Itaipu, entregue ao Ministério Público Federal a pedido do procurador Marcelo Ribeiro de Oliveira, revela que às 13h31m do último dia 10 foi desligada a primeira linha de transmissão no trecho entre Itaberá e Tijuco Preto, no interior de São Paulo, "supostamente (por causa) de descarga atmosférica". O problema na linha, que não chegou a abalar o suprimento nacional, foi solucionado 25 minutos depois: às 13h56 a linha foi religada. Um minuto antes dessa queda, o ONS havia determinado a redução da geração da usina em 1,4 mil megawatts (MW). E a preocupação do ONS com as condições do tempo persistiu ao longo daquela tarde. Somente às 19h15 o órgão determinou a volta de Itaipu à capacidade plena. Duas horas mais tarde, ocorreria o blecaute.Tanto a hidrelétrica como o ONS descartaram qualquer relação entre o desligamento da linha e o apagão. Segundo o assessor de imprensa de Itaipu, Gilmar Piola, tal operação é rotineira. "É um evento independente que não tem relação de causa e efeito. Isso acontece sem qualquer repercussão", disse.



