• Carregando...
Conjunto de três fontes diferentes foi consultado para elaborar a obra que mostra a vida dos portugueses na Índia | Divulgação
Conjunto de três fontes diferentes foi consultado para elaborar a obra que mostra a vida dos portugueses na Índia| Foto: Divulgação

As pesquisas na área de história de Portugal produzidas no Brasil se destacam pela diversidade dos temas e pela riqueza dos resultados. Os estudos sobre a Inquisição portuguesa, que atingiu a colônia brasileira do século 16 ao 18, por exemplo, têm sido muito mais ricos no Brasil do que na Europa.

Na esteira deste interesse se insere o livro Sitiados: os cercos às fortalezas portuguesas na Índia (1498-1622), de autoria de An­­dréa Doré, professora no De­­partamento de História da Universidade Federal do Paraná. A história de Portugal é trabalhada sob uma perspetiva ainda pouco comum entre os estudiosos brasileiros: a de entender a presença portuguesa na Ásia. "Quando o Brasil foi descoberto, os portugueses estavam interessados em outros espaços. Tinham acabado de chegar à Índia, de onde se esperava obter riquezas e onde se sonhava fazer muitos cristãos", afirma a historiadora. Para entender o Brasil do século 16 é importante, então, compreender as experiências e as expectativas dos colonizadores.

Sitiados conta o drama que viviam os portugueses na Índia. Quando não faziam comércio ou tentavam missionar nos arredores de suas praças, passavam meses a fio encurralados em fortalezas, muitas vezes sitiadas, construídas ao longo de toda costa ocidental da Índia. Três conjuntos principais de fontes foram utilizadas na pesquisa. O primeiro são relatos de viajantes italianos, principalmente venezianos, genoveses e florentinos, que estiveram no Oceano Índico ao longo do século 16. Eram mercadores que aproveitavam o apoio das fortificações portuguesas mas seus textos informam também sobre a fragilidade dos domínios de Portugal, presos ao litoral e dependentes do interior para abastecer as naus com especiarias.

O segundo conjunto de fontes reúne relatos de cercos militares. Uma vez que o poder português na Índia se restringia aos espaços fortificados, as principais ameaças aconteceram a partir de cercos. Os relatos estudados descrevem batalhas vencidas pelos portugueses e trazem a visão de um "reino intramuros", acuado e instável. O que a autora, no entanto, busca mostrar por meio de fontes auxiliares, como a correspondência entre o vice-rei em Goa e o rei, em Lisboa ou em Madri, é que o estado de sítio não existiu somente no momento do conflito, mas caracterizou a própria presença portuguesa na Ásia. Se a administração portuguesa queria a proteção das muralhas, os homens – aventureiros e renegados – escapavam do controle régio e faziam negócios e alianças com reinos muçulmanos.

O terceiro conjunto diz respeito aos poemas épicos escritos para comemorar – e imortalizar – as vitórias obtidas nos cercos. No mesmo período em que Luis de Camões compôs Os Lusíadas, que tem como tema a viagem de Vasco da Gama à Índia e os feitos portugueses, outros poetas escreveram poemas exaltando especialmente os momentos difíceis vividos nas fortalezas sitiadas.

O livro leva o leitor a entender melhor as fortificações que se encontram na costa brasileira. Mesmo tendo sido construídas, na sua maioria, nos séculos 17 e 18, representam um modelo de defesa e de ocupação das terras muito antigo em Portugal e que teve sua maior expressão às margens do Índico. Este modelo, que privilegia a ocupação das ilhas e do litoral, se verificou na Ásia até o último estabelecimento português: Macau, devolvido à China em 1999.

Serviço:

Livro: Sitiados: Os cercos às fortalezas portuguesas na Índia (1498-1622), de Andréa Doré, Editora Alameda.

Preço sugerido: R$ 49, 318 páginas

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]