Os conflitos do pedágio

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Os motoristas que trafegam pelas estradas paranaenses têm uma visão ambígua a respeito do pedágio. A maioria deles é a favor da cobrança da tarifa e acredita que as estradas pedagiadas são melhores do que as mantidas pelo governo. Eles não querem, no entanto, que as rodovias que ainda continuam nas mãos da administração pública passem para a iniciativa privada.

O preço das tarifas é o fiel da balança nesse aparente paradoxo. Para a esmagadora maioria dos usuários, o pedágio é caro – conforme mostra pesquisa feita com exclusividade para a Gazeta do Povo pela Paraná Pesquisas. Nada menos que 93% dos pesquisados consideram o preço da tarifa alto ou muito alto. "As pessoas querem o pedágio, mas temem o preço", avalia Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, 37 anos, diretor da Paraná Pesquisas, responsável pela sondagem.

Além da relação "amor-e-ódio" dos usuários, o levantamento também revela uma boa notícia ao governador Roberto Requião. A "guerra do pedágio", como ficou conhecida a série de disputas judiciais e administrativas em torno do assunto, é conhecida por 87% dos entrevistados. A maioria deles – 59% – acredita que o governo defende os motivos mais justos na pendenga.

Expressivos 64,5% dos usuários consideram que as tentativas judiciais e administrativas movidas pela administração Requião devem continuar "até as últimas instâncias".

Não deixa de ser um alento num momento em que o governo dá sinais de ter perdido as esperanças em baixar as tarifas, conforme prometera na campanha eleitoral de 2002. Após uma série de decisões contrárias na Justiça, Requião ameaçou devolver as estradas pedagiadas à União (a Secretaria de Estado dos Transportes está estudando a possibilidade, depois de o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ter dito que aceita a proposta).

Apesar de apoiarem o governo na "guerra", 54% dos pesquisados acreditam que o governador sabia – desde a campanha – que não conseguiria baixar a tarifa, mas fez a promessa para reforçar o discurso eleitoral. "A população valoriza a briga do governador, mas a pesquisa mostra que as pessoas acham que, originalmente, se tratou apenas de política", diz Oliveira.

A pesquisa foi feita nos dias 29 e 30 de novembro, às vésperas do mais recente reajuste do pedágio no Paraná, que passou a vigorar em 1.º de dezembro. Foram ouvidas 474 pessoas com mais de 18 anos em Curitiba. A margem de erro é de 4,5 pontos porcentuais (isso quer dizer que uma resposta que aponta, por exemplo, 54% para determinada questão pode variar de 49,5% e 58,5%).

Raio X

Nas próximas três páginas, a Gazeta do Povo apresenta um amplo raio X da concessão de pedágio no Paraná, analisando sua implantação, resultados, histórico, além de compará-lo com outros sistemas. Das opiniões e análises de especialistas, usuários, gestores públicos e privados salta uma unanimidade: no discurso, ninguém está satisfeito com o pedágio no Paraná.