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Um crime bárbaro chocou os moradores de São José dos Pinhais, município da região metropolitana de Curitiba, ontem pela manhã. O auxiliar de produção Mirton José de Medeiros, 35 anos, suicidou-se após matar a filha Isabela, de 15 anos, e atirar contra a menina Laura, de um ano e oito meses. A criança, que é fruto de abusos sexuais constantes do pai contra a filha, foi socorrida com vida e encontra-se em estado grave no Hospital Cajuru, em Curitiba. O crime foi o desfecho trágico para a seqüência de fatalidades que Isabela já enfrentara.

Filha única de Mirton e Lindacir França de Medeiros, Isabela sempre foi uma criança introspectiva, fechada, sem muitos amigos. "Eles se davam bem com todos, mas nunca saíam de casa", conta o irmão de Mirton, Vanderli Despranches. De acordo com familiares, o sonho da menina era concluir os estudos, deixados para trás por imposição do pai, em agosto de 2003.

A mãe de Isabela era doente e há vários anos se movimentava com dificuldade, passando a maior parte do tempo deitada no quarto. Esse era o principal motivo para Isabela omitir que era violentada sexualmente pelo pai desde os 10 anos de idade. "A menina acobertava o pai para poupar a mãe, mas decidiu abrir o jogo depois que ela morreu", revela a escrivã Nair Ferreira Mendes, da Delegacia da Mulher e do Adolescente de São José dos Pinhais. Lindacir morreu por enfarte fulminante e derrame cerebral, em setembro deste ano.

Aos 15 anos, Isabela já tinha dois filhos: Laura, com quase dois anos, e Vitor, de apenas 40 dias. Por estar acima do peso, as duas gestações de Isabela só foram descobertas pela família quando a moça já estava em trabalho de parto. De acordo com o Conselho Tutelar, nos dois casos, ela contou aos médicos e enfermeiras que tinha sido vítima de estupro no banheiro da escola, no entanto ela não estudava mais. "A história contada quando o primeiro filho nasceu já nos levava a suspeitar do pai, mas, quando questionada, Isabela sempre negava", relata a conselheira Andréa Aparecida Cordeiro de Abreu.

A história de abusos veio à tona quando Lindacir morreu, três dias depois que Vitor nasceu. Isabela e seus filhos foram encaminhados para um abrigo do Conselho Tutelar. "Nós já suspeitávamos de alguma coisa estranha porque Mirton tinha ciúmes de Isabela. Não deixava ela sair com ninguém e sempre a seguia", lembra o tio da moça, Moacir de França. O abuso foi delatado à Delegacia da Mulher por Isabela e Mirton recebeu a primeira intimação para prestar depoimento à polícia no final de setembro, quando foi visitar seus filhos no abrigo. Depois disso, ele fugiu e só voltou a aparecer ontem.

O crime

Há menos de um mês, Isabela morava com sua avó e Laura na Rua Tupã, no bairro Colônia Rio Grande, próximo da casa de seus tios. De acordo com os moradores da região, ela saiu pouco de casa nesse período. "Ela aparentava ter 30 anos. Ao invés de ser criança, foi mulher a vida inteira", comenta a vizinha Rosa Maria Moreira. "Não falava com ninguém. Estava deprimida, talvez se sentisse culpada pela morte da mãe", fala Vilma Moreira dos Santos.

De acordo com testemunhas, por volta das 7h30, Mirton chegou de táxi na casa da avó de Isabela. Aguardou escondido atrás de um muro até que os tios da moça saíssem para trabalhar. Dirigiu-se até o portão e foi atendido por Isabela. Foi até a janela do quarto da avó, avisou que tinha trazido dinheiro para elas e pediu autorização para ir com Isabela e Laura até a panificadora. Lá, ele comprou doces e salgadinhos para as meninas. A poucos metros do portão de casa, Mirton sacou um revólver, atirou em Isabela e Laura e depois se matou.

O motivo do crime é uma incógnita para os investigadores, mas depoimentos apontam para algumas direções. "Ele falou que pensava em fazer uma desgraça e que não seria preso. Acho que ele tentou levar as meninas embora e o plano deu errado", relata o irmão de Mirton, Vanderli. "Ele ainda tinha duas balas no bolso", conta a vizinha Vilma Moreira dos Santos. Os nomes Isabela, Laura e Vitor, utilizados nesta reportagem, são fictícios.

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