O personagem de Antônio Calloni na novela Caminho das Índias, da Rede Globo, é um exemplo vivo criado pela dramaturgia daquilo que vem acontecendo no país há pelo menos 20 anos. Não há mais limites para os filhos de inúmeras famílias de classe média no Brasil. E os responsáveis são os próprios pais. São mais que urgentes ações que permitam levar a respostas práticas para enfrentar o problema da violência dos "pit-boys" e permitam uma reflexão séria sobre o fenômeno.
Antônio Calloni interpreta um advogado que, a despeito das inúmeras ocorrências praticadas pelo filho, teima em defendê-lo, ainda que o ocorrido se revele uma falta de séria implicação. Utiliza da prerrogativa de bacharel em Direito para adentrar delegacias e escolas e intimidar, sob a ameaça de processar qualquer pessoa que ponha em risco as liberdades por ele concedidas ao filho. É claro que, por ser uma peça de ficção, se espera que com o decorrer da trama de Glória Perez tanto o jovem infrator quanto seu pai paguem por seus erros.
E na vida real? Basta olhar para casos e mais casos que se avolumam nos arquivos das escolas, demonstrando o desrespeito, o desacato e a violência perpetrada por um crescente número de estudantes contra colegas, professores, funcionários e até mesmo contra o patrimônio público ou privado. O que fazer? Que caminhos tomar se os principais parceiros no combate a fenômenos como o bullying, no caso os próprios pais, se tornam coniventes e, em defesa dos filhos, resolvem virar as costas para a Justiça?
Ao não traçar claras fronteiras entre o que é possível ou não fazer, os pais estimulam a prevalência da ideia de que tudo é possível, até atos ilícitos. Alguns estudiosos afirmam que o fato de os pais estarem envolvidos com suas carreiras e, portanto, ausentes na formação dos filhos, os levam a compensar seus rebentos com benefícios materiais e liberdade extremada.
Creio que não podemos mais procurar subterfúgios, mas desenvolver ações conjuntas.
Neste sentido as escolas podem ajudar e muito. Devem, por exemplo, definir e divulgar regras de funcionamento interno. Outra medida é esclarecer que o papel que compete à escola inclui noções de cidadania, ética e civilidade mas que esses saberes são complementares ao processo de escolarização e dependem, essencialmente, de um trabalho em conjunto com as famílias.
João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br); doutor em Educação pela PUC-SP.



