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Franciéle Gusatto, e as amigas Franciele Mayara e Michelly, em foto tirada dentro da boate | Fotos: Reprodução/ Facebook
Franciéle Gusatto, e as amigas Franciele Mayara e Michelly, em foto tirada dentro da boate| Foto: Fotos: Reprodução/ Facebook

Depoimento

Três amigas de Toledo escaparam porque estavam perto da saída

Antonio Senkovski e Angieli Maros

Três paranaenses de Toledo (Oeste do Paraná) que estavam na boate Kiss sobreviveram à tragédia que matou 231 pessoas na madrugada deste domingo porque chegaram mais tarde ao local e ficaram perto da saída.

O grupo de amigas participou de um churrasco durante o sábado. A festa se alongou até o fim da noite, o que fez com que elas chegassem à casa noturna por volta das 2 horas da manh㠖 cerca de 30 minutos antes do incêndio no estabelecimento.

Franciele Mayara, de 23 anos, uma das sobreviventes, relatou que a amiga Michelly Fant, de 30 anos – que também estava na festa –, tem parentes no município. A terceira paranaense do grupo, de 26 anos, preferiu não se identificar.

As três estavam na área VIP da balada, perto da única porta de entrada e saída, quando perceberam um tumulto na parte da frente, perto do palco. Franciele contou que, a princípio, o grupo achou que era uma briga e começou a procurar a saída para evitar o tumulto. "Em questão de dois minutos ficou tudo preto, a fumaça foi fazendo o pessoal desmaiar e foi todo mundo caindo, pisoteando e tentando sair", relatou. "O vocalista não jogou nada, ele tava pulando e o sinalizador encostou no teto. Logo veio a fumaça. Só fui ver o fogo quando já estava fora da boate," disse Michelly.

A estudante paranaense Franciéle Gusatto passou a morar na cidade de Santa Maria (RS) em março do ano passado, após ser classificada em terceiro lugar no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal da cidade gaúcha. Os pais moram em Francisco Beltrão, no Sudoeste, e receberam a ligação da filha às 6h30 de domingo informando sobre o incêndio na boate Kiss.

A mãe conta que Franciéle ainda não tinha noção da extensão da tragédia quando telefonou. "Ela estava desesperada, dizia ‘mãe, morreu gente, acho que uns 20’. Foi um dos piores dias da minha vida", conta Neuza Gusatto, mãe da estudante.

Neuza diz que não conseguiu se alimentar durante todo o domingo. "Eu chorei o dia inteiro, não comi nada. Chorava, agradecia e rezava", relata. O agradecimento era por Franciéle ter escapado com vida da tragédia e as orações, pelos pais e mães que perderam seus filhos.

Testemunha

Por telefone, a estudante contou que estava perto do palco e viu quando o vocalista disparou o sinalizador. Ela só percebeu a gravidade da situação quando a instalação elétrica começou a entrar em curto-circuito. A estudante chamou as amigas para saírem do local e conseguiu escapar ilesa. "Quando eu estava saindo vi a fumaça preta no teto", afirma. Ela disse que foi uma das primeiras pessoas a deixar a boate.

Franciéle perdeu quatro amigas que estudavam na mesma sala e vários colegas de outros cursos. Ela conta que será difícil o retorno à vida normal a partir de agora. "De todos os lugares que eu frequento tem alguém que eu conhecia [e que morreu]", diz. Na tarde de ontem, a estudante acompanhou o enterro de uma amiga na cidade de Venâncio Soares (RS).

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Depoimentos

"Ela estava desesperada, dizia ‘mãe, morreu gente, acho que uns 20’. Foi um dos piores dias da minha vida. Eu chorei o dia inteiro, não comi nada. Chorava, agradecia e rezava."

Neuza Gusatto

"Em questão de dois minutos ficou tudo preto, a fumaça foi fazendo o pessoal desmaiar e foi todo mundo caindo, pisoteando e tentando sair."

Franciele Mayara

"Nesses minutos em que os seguranças seguraram [as pessoas que queriam sair] o pessoal começou a se apavorar e muitos foram para o banheiro."

Michelly Fant

"De todos os lugares que eu frequento tem alguém que eu conhecia [e que morreu]."

Franciéle Gusatto

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