Pelo menos 5 mil casas estão em áreas de risco nas cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, de acordo com a Secretário Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. "As áreas que estão deslizando não causam surpresa", afirmou o professor de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Marcelo Motta.
Ele observa de perto a situação dos municípios fluminenses atingidos pela chuva. Segundo ele, mapeamentos anteriores já apontavam o risco em diversas cidades. Para o professor, a surpresa está na falta de operação do poder público diante do risco anunciado. "Agora estou olhando uma encosta. Tem casas construídas, uma encosta íngreme, que é só questão de tempo de cair a chuva e deslizar. E isso já está mapeado", disse.
As cinco cidades da região serrana mais atingidas pelas chuvas ganharam, nos últimos 20 anos, uma população extra de 105 mil pessoas, ou um crescimento de 18%. No total, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto têm hoje cerca de 677 mil habitantes, contra 571 mil no começo da década de 1990.
Juntas, as cinco cidades já contam com mais de 220 mil domicílios ocupados regularmente, ou seja, sem contar casas de veraneio. Mesmo com toda essa expansão, o crescimento da região foi inferior à média do estado do Rio nas últimas duas décadas (alta de 24,87%) e ao registrado em todo país (crescimento de 29,90%). Apenas a cidade de Teresópolis conta com um crescimento acima da média: passou de 120.709 habitantes em 1991 para 163.805 moradores neste ano, uma alta de 35,70%.
Entre 2000 e 2010, Teresópolis ganhou mais de 25 mil moradores, um avanço de 18,62%. Esse porcentual é quase é o dobro do registrado no estado no período, que foi de 11,13%.
Prevenção
Planejar a cidade é uma das principais ações para se prevenir desastres naturais, apontam especialistas. "Imagine você morar no Japão e ignorar que lá é uma ilha vulcânica", exemplifica Motta. "A gente vive num terreno geológico em toda a região montanhosa da Serra do Mar que é passível de deslizamento perante as chuvas tropicais."
O professor Eduardo Dell' Avanzi, do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná, afirma que a melhor alternativa seria a não ocupação das áreas de risco. "O ideal seria que, quando um bairro fosse criado, todas as obras de infraestrutura fossem implantadas", diz.
A população também tem seu papel de evitar jogar sujeira na rua, o que compromete a drenagem urbana. Outra sugestão de Dell'Avanzi é que as pessoas sejam treinadas para identificar pequenos sinais de instabilização de encostas. Segundo o professor, os impactos seriam menores se há 30, 40 anos, o desenvolvimento urbano tivesse sido feito de maneira diferente.
Custos
O Brasil paga caro por não investir na prevenção. Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que em 2010 o país gastou 14 vezes mais para remediar do que prevenir. O cenário para 2011 não é animador: o orçamento da União sofreu um corte de R$ 30,5 milhões na área de prevenção a desastres.
Segundo Victor Marchezini, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil há a "cultura da improvisação". "O desastre é um problema complexo que se inicia antes das chuvas e não termina quando elas cessam", afirma.



